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    Baixa vacinação em 2014 e 2015 pode ter gerado surto de gripe, diz médica

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    30/03/2016 12h00

    Para Rosana Richtmann, médica e pesquisadora do Instituto de Infectologia Emilio Ribas e do Hospital e Maternidade Santa Joana, uma série de fatores pode ter favorecido o aparecimento precoce de casos de gripe, principalmente os causados pelo subtipo influenza H1N1.

    O novo surto causou uma correria e filas em unidades de saúde em busca de vacinas.

    Para Rosana, entre as explicações estaria um certo desleixo com a vacinação anual da gripe nos anos de 2014 e 2015, "anos fracos", com poucos casos da doença. Com uma cobertura vacinal baixa, além de algumas pessoas nunca antes terem sido expostas ao vírus, o vírus encontrou, mesmo fora de época, um ambiente favorável para se espalhar.

    O Brasil teve pelo menos 45 mortes em 2016 causadas pelo vírus H1N1 –90% do total de mortes por gripe no país.

    Rosana diz que a melhor prevenção ainda é a vacina e que é importante que os grupos de risco como gestantes, idosos, indígenas, diabéticos e crianças se vacinem o mais rápido possível. Veja trechos de sua entrevista à Folha

    *

    Folha - O que está acontecendo? Por que está acontecendo esse surto de H1N1 antes do esperado?
    Rosana Richtmann - De fato estamos observando um número maior de casos nessa época do ano, comparando com anos anteriores. Existem algumas possibilidades que ainda estamos discutindo.
    Primeiro temos que lembrar que esse H1N1 é o mesmo vírus da pandemia de 2009, que circulou com maior intensidade pela última vez em 2013.

    Nos anos seguintes algum outro vírus se tornou mais importante?
    Circularam outros como o H3N2, mas em uma intensidade menor. Depois de quase três anos, o H1N1 voltou. Ele circulou bastante no hemisfério norte, como nos EUA e Europa.
    Efeito da globalização, ele chegou no nosso hemisfério e pegou uma população mais vulnerável

    Por quê seriam mais vulneráveis?
    Os anos de 2014 e 2015 foram fracos [houve apenas uma morte por H1N1 em 2015]. A cobertura vacinal não era satisfatória [cerca de 80%], porque as pessoas não estavam preocupadas, já que não viam casos de gripe acontecendo ao seu redor.
    Quando o vírus veio, ele encontrou tanto uma população naturalmente vulnerável, pela falta de contato com o vírus, quanto susceptível do ponto de vista vacinal. Por isso houve muitos casos de síndromes gripais e da Srag - síndrome respiratória aguda grave.

    Nem chegou o inverno
    Mas teve uma variação brusca este ano, com dias quentes e dias frios, que favorecem as infecções. Pensamos que, juntando todos esses fatores, podemos ter uma ideia de por que isso está acontecendo.

    O governo usar a vacina de 2015 é uma boa ideia?
    No caso, em uma situação de bloqueio, para evitar o espalhamento da doença, é sim. Não se trata de vacina vencida, mas sim de cepas que circularam em 2015. A cepa de H1N1 que circula agora é igualzinha à que circulou ano passado. Se eu fosse uma autoridade pública eu o faria. Achei que foi uma medida ágil para prevenir contra o H1N1

    Considerando apenas o H1N1, quem tomou a vacina em 2015 precisa tomar novamente a de 2016?
    Sim, é necessário o reforço.

    Qual a diferença do H1N1 para os outros vírus da gripe?
    Os sintomas são parecidos, praticamente indistinguíveis. Quando falamos da capacidade de causar uma doença mais grave, o H1N1 tem essa particularidade, especialmente em populações em maior risco: idoso, asmático, cardiopata, diabético, criança, indígenas, entre outros.

    As pessoas precisam sair correndo para se vacinar?
    Não sei se é o melhor momento, com essas clínicas [particulares] todas lotadas, para quem não está em alto risco. Todos tem chance de pegar o vírus, mas são essas pessoas, na esmagadora maioria, que estão sendo hospitalizadas. Por outro lado, não podemos falar "não se vacine" –a imunização é a melhor forma de proteção.

    Vacina - H1N1

    CASOS NO BRASIL - Notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave associada ao H1N1, até 22.mar*

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