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    Publicitária de 29 e religiosa de 92 alimentam moradores de rua em SP

    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    29/01/2017 02h00

    Bruno Santos/Zanone Fraissat/Folhapress
    Aline (à esq.) organiza refeição em Santana; irmã Rosina, 92, prepara café da manhã, almoço e janta na cracolândia
    Aline, 29, (à esq.) organiza refeição em Santana; irmã Rosina, 92, prepara refeições na cracolândia

    Se a população de rua cresce a olhos vistos em São Paulo –incremento de 46% de 2000 a 2015, segundo censo municipal–, ampliam-se também as iniciativas de amparo a esse público.

    As ações sociais revelam extremos de solidariedade, como o caso de uma irmã católica, de 92 anos, que dá alimentação diária para 600 pessoas na região da cracolândia, no centro, e uma jovem publicitária, sem religião, que faz em casa, uma vez por mês, 150 marmitas para quem vive embaixo de um viaduto na zona norte.

    De família de classe média, Aline Rodrigues Vieira Pinto, 29, está há dois anos, com um grupo de três amigos, fazendo comida para moradores de rua de Santana (zona norte).

    A mobilização para angariar recursos para as quentinhas é feita por uma rede social. "A cada R$ 15 arrecadados, conseguimos montar três kits de alimentação, com quase meio quilo, mais água e sobremesa."

    A publicitária faz tudo em casa, comida e preparativos, e vê as adesões à iniciativa aumentarem dia após dia.

    Hoje já são cerca de 60 contribuições e pessoas voluntárias na ação, todos os meses.

    Ela não quer "virar ONG" nem instituição, mas o projeto avança agora para oferecer banhos para os moradores de rua que desejarem.

    Um caminhão equipado com banheiros, parceria com a empresa privada "Banheiro VIP", vai ficar no local das distribuições das quentinhas.

    "Vários moradores de rua não se olham no espelho, não conhecem sua imagem e se avaliam a partir do que os outros dizem para eles: sujos, nojentos, desprezíveis. Dificilmente são acolhidos e vivem numa condição de inferioridade, o banho pretende ajudar na autoestima, na valorização", afirma Aline.

    INQUIETA

    Em outro ponto da cidade, nas proximidades da cracolândia, Maria Aparecida Azevedo, a irmã Rosina, 92, já se dedica há quase 70 anos ao cuidado com vulneráveis.

    Ela comanda pessoalmente, de segunda a sábado, o trato de 600 moradores de rua, com café, almoço e jantar e assistência social.

    Recebe toneladas de alimentos de doação de empresas e ONGs diversas e tem suporte financeiro da congregação católica Irmãs Vicentinas de Gysegem para a manutenção básica da casa, onde se destaca um refeitório com 200 lugares e corredores estreitos. O local não foi desenhado para tantas pessoas.

    Segundo ela, nunca falta nada. "Quando aparece uma dificuldade, logo surge alguém com uma solução. O povo de São Paulo tem sido cada vez mais solidário, mesmo com a situação do país".

    São 17 funcionários envolvidos na logística do local, onde são cozidos 40 quilos de arroz todos os dias, quase o triplo da iniciativa mensal de Aline, que cozinha 13 kg.

    Irmã Rosina, inquieta e que "nunca fica doente", atua da feitura da comida, passando pelo controle dos estoques e pela recepção dos atendidos. Além disso, trata das finanças e pede doações. Ela diz que nunca houve casos de violência ali.

    Em essência, é o altruísmo o que parece explicar a dedicação de Aline e irmã Rosina.

    "Tem dia que é difícil. Somos muito julgados por alguns que acham que estamos ajudando 'vagabundos'. Mas não dá para fechar os olhos para quem passa fome. É clichê, mas ganhar um abraço, um agradecimento, ver a evolução de quem é atendido, amparado, é o meu maior ganho", afirma a publicitária.

    Já a religiosa, que se diz "triste" por não conseguir fazer mais, sobretudo para a recuperação dos usuários de drogas por onde ela passa a pé, diariamente, se emociona ao falar do "valor do pobre".

    "Deus me sustenta, em primeiro lugar, mas o pobre também é o que me mantém firme. É tanta necessidade que se vê, tanta miséria, tanto sofrimento que você só tem um caminho, o de ajudar. A graça divina não falta para quem quer fazer algo pelo outro."

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