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    Muito visitada, Buraquinho é a única praia imprópria do litoral norte da BA

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    ENVIADO ESPECIAL A LAURO DE FREITAS (BA)

    10/02/2017 17h53

    Em todo litoral da Bahia ao norte de Salvador, há apenas um ponto fora da curva em qualidade da água.

    Levantamento feito pela Folha, com dados de balneabilidade de 1.180 pontos de praias monitorados em 14 Estados do país, mostra que 29% delas são ruins ou péssimas para banho, 42% foram classificados como "bons" ou "ótimos" e 29% estavam "regulares". Os dados são dos próprios órgãos ambientais estaduais.

    Das 20 praias entre a capital baiana até a divisa com Sergipe, 17 são boas ou ótimas, duas regulares e somente uma foi considerada péssima em 2016: a praia de Buraquinho, em Lauro de Freitas.

    É lá que desemboca o rio Joanes, que nasce em São Francisco do Conde, no recôncavo baiano, e passa por 56 vilas ou distritos até chegar ao mar. O rio é responsável por 40% do abastecimento de Salvador.

    O aprazível encontro do rio com o mar, ladeado por praias badaladas como Vilas do Atlântico e Busca Vida, pode ser um convite ao erro.

    Deu praia - Brasil tem 1 em cada 4 praias monitoradas consideradas ruins ou péssimas para banhistas; veja a situção de cada uma

    Mesmo chegando a registrar até 16.000 coliformes fecais por 100 ml de água –a partir de 1.000 a praia é imprópria– em determinadas semanas do ano, a praia continua sendo bastante frequentada, sobretudo por famílias que buscam um mar calmo.

    Foi o caso do casal de turistas paulistas Rodrigo Lucena, 32, e Cristiana Lucena, 39, que levaram a pequena Letícia, 2, para um banho de mar na região.

    "Viemos por indicação de amigos que disseram que aqui tinha uma água calminha, boa para crianças", afirma Rodrigo.

    Natanael Alencar, 25, e Daniela Ferraz, 26, também turistas vindos de São Paulo, foram à praia pelo mesmo motivo e levaram o filho Vinícius para aproveitar o encontro do rio com o mar.

    "Não tínhamos ideia de que a praia não era boa", diz Natanael. Na faixa de areia, nenhuma placa ou bandeira indica que a área é imprópria para banho.

    Pescadores que ainda atuam na região apontam lançamento de esgoto nos rios como motivo da poluição. E reclamam da queda na oferta de peixes e mariscos ao longo dos últimos anos.

    Carlos Antônio Souza, 65, que pesca na região desde os 12, diz que atualmente são necessários de quatro a cinco dias no mar para voltar com o barco cheio. Na sua juventude, bastava um dia.

    "Voltávamos abarrotados de peixes. Agora, com tanta poluição, os peixes sumiram. É um descaso", afirma.

    Praias vizinhas à Buraquinho também sofrem a consequência da poluição do rio Joanes. É o caso de Vilas do Atlântico, onde casas de alto padrão margeiam a beira da praia, mas a qualidade da água é considerada apenas regular.

    Outra praia considerada regular no litoral norte baiano é Imbassaí, vila da cidade de Mata de São João, a 10 km da badalada praia do Forte.

    Lá, assim como em buraquinho, o rio também desemboca no mar. Mas o nível de poluição é bem menor, pela distância dos grandes centros urbanos.

    Em Salvador, as praias ruins também ficam próximas de rios, caso do rio Vermelho, onde desemboca o rio Lucaia, e Pituba, onde fica a foz do rio Camurujipe. As praias da capital dentro da baía de Todos-os-Santos, em sua maioria, são ruins: das 13, nove são impróprias.

    OUTRO LADO

    Responsável pela coleta e monitoramento das águas na praia, o Inema –órgão estadual de meio ambiente– confirma que o lançamento de esgoto no rio Joanes e seus afluentes é o principal motivo da poluição da praia.

    A Embasa, estatal responsável pelo saneamento na Bahia, diz que ampliou a coleta de esgoto na região ao longo dos últimos anos. Em Salvador, a coleta chaga a 83% das residências. O órgão aponta as ligações clandestinas na rede pluvial como motivação da poluição no rio.

    A Prefeitura de Salvador diz que faz manutenção periódica da rede pluvial na cidade para que sujeira não seja despejada nas praias. E diz fiscalizar a existência de redes de esgoto clandestinas.

    Procurada, a Prefeitura de Lauro de Freitas não se pronunciou sobre o assunto.

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