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    Bolsista negra é hostilizada em atividade no campus da FGV de SP

    JOANA CUNHA
    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    10/03/2017 02h00

    FGV/Divulgação
    Predio da Fundacao Getulio Vargas Foto:FGV ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Prédio da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo

    Uma caloura do curso de administração da FGV-SP, uma das faculdades mais conceituadas do país, foi hostilizada dentro do campus da instituição durante um campeonato esportivo interno, na última sexta (3). Da torcida, uma pessoa ainda não identificada gritou para a garota, que estava na lateral da quadra: "Negrinha, aqui, não!".

    A aluna, que tem 17 anos, faz parte do programa de bolsas de estudos da faculdade, que atende pessoas de baixa renda, numa tentativa de ampliar a diversidade na escola, diminuindo a elitização. Após a agressão, o jogo foi interrompido, e parte dos alunos se mobilizou para encontrar o responsável pelo ato.

    O caso gerou comoção entre estudantes de administração, que não conseguiram identificar quem era o agressor, porque estavam na arquibancada oposta à do curso de economia, de onde saiu a ofensa. Procurada, a FGV informou que abriu uma sindicância para apurar o caso.

    A garota não quer ser identificada e não quis dar entrevista. Ela está recebendo apoio do coletivo 20 de Novembro, que reúne estudantes negros da escola e chegou a emitir uma nota, em redes sociais, repudiando o ato. "Não vamos admitir que atos como esse continuem acontecendo dentro dos muros da instituição. Exigimos que a coordenação do curso de economia apure o fato e responsabilize os envolvidos", informa parte da nota.

    Após a repercussão do caso entre o alunato, o diretor da escola de economia, Yoshiaki Nakano, também redigiu nota de repúdio sobre o caso –divulgada entre os alunos. "Consideramos inaceitáveis e injustificáveis quaisquer ações preconceituosas ou intolerantes e ressaltamos que estas são passíveis de sanções por má conduta, tais como advertência, suspensão ou exclusão previstas em regimento e normas da escola", diz trecho do documento.

    MOMENTO HISTÓRICO

    Com mensalidades superiores a R$ 3.500, a FGV (Fundação Getulio Vargas) tem entre seus alunos os filhos de alguns dos empresários mais ricos do país e de presidentes das maiores empresas. Desde que intensificou a oferta de bolsas a estudantes de baixa renda, há cerca de três anos, a instituição criou uma coordenadoria da diversidade para promover a integração entre os alunos.

    Não há cotas na FGV, todos os bolsistas do programa foram aprovados nos processos seletivos convencionais. Neste ano, a fundação matriculou dois refugiados africanos, um de Camarões e outro de Angola, que serão bancados por recursos oferecidos pelo escritório Mattos Filho.

    "Isso [a agressão] é um marco. Estamos vivendo um momento de entrada do diferente na GV e ele tem esse tipo de recepção por parte dos que reinaram sempre", afirmou Danilo Santos, aluno bolsista e negro, que defende a causa. A FGV declarou que "repudia qualquer tipo de discriminação, seja de raça, cor, sexo ou religião". A instituição, porém, não admitiu envolvimento de um de seus alunos.

    "A FGV já constituiu, de imediato, uma comissão de sindicância para apurar os fatos, sendo prematuro fazer qualquer prejulgamento acerca destes, notadamente quanto à suposta autoria, considerando que o evento esportivo era aberto ao público em geral e não restrito a alunos da instituição."

    Questionada pela reportagem, a instituição não informou se tem imagens de câmeras de segurança da quadra onde ocorreu a partida. A diretoria da instituição não quis dar entrevista.

    Em nota, a assessoria de imprensa disse apenas que "com base na conclusão dessa comissão [de sindicância] serão adotadas todas as medidas cabíveis, inclusive junto às autoridades constituídas, com as quais a FGV nunca se eximiu de contribuir."

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