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    Rio de Janeiro

    Maioria dos cariocas discorda da ideia de que bandido bom é bandido morto

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    05/04/2017 14h07

    Marlene Bergamo - 28.dez.16/Folhapress
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    A maior parte da população do Rio de Janeiro não concorda com a frase "brandido bom é bandido morto". Ao todo, 60% dos cariocas disseram discordar, 37% concordam e 3% são neutros.

    É o que mostra a pesquisa "Olho Por Olho? O Que Pensam os Cariocas Sobre 'Bandido Bom É Bandido Morto'", do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), da Universidade Cândido Mendes, divulgada nesta quarta (5). A pesquisa ouviu 2.353 pessoas com 16 anos ou mais entre março e abril de 2016.

    Apesar de os responsáveis pela pesquisa, Julita Lemgruber, Leonarda Musumeci e Ignacio Cano, reconhecerem que é alta a proporção de cariocas que concordam com a frase, ressaltam que ela é inferior à média nacional, identificada em análises anteriores –pesquisa Datafolha de 2016 constatou que 57% concordavam com a frase.

    "Ficamos surpresos porque o Rio tem imagem associada a violações de direitos humanos, é a cidade do Bolsonaro", diz Lemgruber.

    Na semana passada, um abaixo-assinado chegou a receber 50 mil assinaturas em apoio a dois PMs flagrados atirando em suspeitos desarmados e já feridos após confronto em Acari, na zona norte da capital fluminense.

    Jair Bolsonaro (PP), 59, foi o deputado federal com maior número de votos no Estado. Ele está na Câmara Federal há seis mandatos consecutivos, ou seja, ocupa anos a função há 24 anos. Seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC) foi o candidato mais votado à Câmara Municipal nas eleições de 2016.

    A pesquisa não registrou diferença significativa entre as respostas de jovens ou não jovens, brancos e negros e moradores ou não de favelas.

    Gênero e religião, no entanto, influenciam –homens apoiam a frase mais do que mulheres, e católicos a apoiam mais do que evangélicos.

    Dos que acham que bandidos devem morrer, 38% apoiam que isso aconteça por pena de morte judicial, e não apoiam execuções policiais.

    "A boa nova dessa pesquisa é que não há posições consolidadas em relação a esse tema. Embora 37% da população apoie o bordão, quando a gente vai a temas específicos, isso muda. Por exemplo, a maioria não apoia a execução extrajudicial. Temos uma contradição, mas fica claro que a população não aceita violações específicas", diz Lemgruber.

    A pesquisa mostra que a população desconfia tanto da Justiça quanto da polícia. A média das notas de confiança (de zero a dez) foi de 5,8 para a Polícia Civil, 4,9 para a Polícia Militar e 3,5 para a Justiça. 64% acham que é baixa ou muito baixa a chance de um criminoso ser punido pela Justiça.

    A maior parte dos cariocas acreditam na ressocialização dos criminosos –73% responderam sim ao serem perguntados se essas pessoas podem se tornar "cidadãos de bem". A proporção sobe para 86% entre frequentadores diários de cultos religiosos.

    A pesquisa mostra que o conceito de diretos humanos está em baixa ente os cariocas. 73% acham que direitos humanos atrapalham o combate ao crime. No entanto, menos da metade acha que bandidos não merecem ter direitos.

    "Há que se fazer uma autocrítica. Erramos na comunicação. Temos que ter uma linguagem mais próxima da população", diz Lengruber.

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