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    'Mini-Paulista', ou 'Berrini da ZL', começa a ser erguida no Tatuapé

    RAUL JUSTE LORES
    DE SÃO PAULO

    09/04/2017 02h00

    Depois de décadas de promessas de diferentes prefeitos de levar empregos para a zona leste, o maior polo empresarial desse pedaço de São Paulo deve surgir na região.

    O empreendimento, da Porte Engenharia, terá 12 torres residenciais e comerciais, de até 46 andares. Corretores o apelidaram de "Berrini da zona leste"- é o chamado Eixo Platina, que leva o nome da rua do Tatuapé paralela à avenida Radial Leste.

    O incorporador Marco Antonio Melro, 55, prefere comparar ao Conjunto Nacional e à avenida Paulista.

    "Em vez de muros e grades, nossos térreos terão comércio. Prédios de escritórios serão vizinhos de residenciais para não criar áreas desertas à noite. A ideia é que se ande muito a pé e se chegue pelo metrô", sonha Melro.

    A Porte Engenharia já adquiriu 50 mil m² em terrenos onde pretende edificar 310 mil m² de área construída, em um eixo de dois quilômetros entre as estações Belém e Carrão do Metrô.

    Danilo Verpa/Folhapress
    Edifício Josephine, da Porte Engenharia, no Tatuapé, em SP
    Edifício Josephine, da Porte Engenharia, no Tatuapé, em SP

    Do investimento total, de R$ 1,5 bilhão, 50% já está viabilizado, garante Melro. As três primeiras edificações, já aprovadas pela prefeitura, começam a subir neste ano. Haverá de escritórios de 40 m² a lajes corporativas de 920 m².

    "Um quarteirão da Berrini tem mais metros quadrados de escritórios que este bairro inteiro. A economia da cidade não está aqui. Não podemos continuar a ser dormitório", explica.

    A arquiteta Anna Dietzsch, que participou do plano diretor do projeto, alerta para um 'êxodo cultural'."Os mais jovens vão trabalhar em bairros distantes e abandonam o Tatuapé. Faltam teatros, casas de shows, galerias de arte, universidades, até na gastronomia há muito espaço para crescer na região. Quero gerar ocupação e movimento."

    Os responsáveis pelo projeto estão em contato com universidades privadas e já planejaram um teatro de 1.400 lugares em um dos prédios, próximo ao Sesc Belenzinho.

    HISTÓRICO

    Melro rememora os anos 1980 e 1990, quando surgiram os apartamentos enormes e caríssimos no Jardim Anália Franco. Na época, duvidava-se que houvesse mercado. O residencial Saint Claire, com unidades de 625 m², as maiores da zona leste, foi construído por ele.

    Nos 42 edifícios que a Porte já construiu, a metragem média das unidades é de 300 m². Mas a arquitetura deles não é um dos melhores cartões de visitas. Há desde neoclássicos-ostentação a contemporâneos-genéricos, com muros altos e isolados.

    "Se eu fosse construí-los hoje, seriam diferentes", admite. "Quando a pessoa enriquece a partir do nada, quer brilhos e dourados. Mas fui viajando mais, lendo, me aculturando".

    Ele reconhece duas inspirações no mercado imobiliário: a incorporadora Zarvos, da Vila Madalena, "pela arquitetura mais ousada" e a Vitacon, "por fazer apartamentos compactos, para um público mais jovem".

    Pela primeira vez, a Porte está lançando apartamentos de 35 a 50 m², que possam caber no orçamento dos jovens que pretende reter na zona leste. Também foi atrás de arquitetos de prestígio.

    O escritório Andrade Morettin projetou a torre de 17 andares, onde ficará a nova sede da Porte, e que começa a ser construída em agosto. O escritório novaiorquino DBB fez o plano piloto e desenhou uma outra torre.

    Questionado se a recessão não colocará nuvens no Eixo Platina, o empresário insiste que há um potencial enorme na região. Quando construiu, em 2008, a unidade do Hospital São Luiz, no Jardim Anália Franco -a maior da rede, com 46 mil m² -"diziam que estava superdimensionada, e é um sucesso".

    IMAGEM DE PREDADOR

    Melro criou a Porte em 1986. O pai e o avô já incorporavam sobradinhos na zona leste. Em um terreno do pai, fez seu primeiro pequeno lançamento quando tinha 18 anos. Nunca fez faculdade. Os filhos e a irmã, Rosangela, trabalham com ele.

    A empresa sofreu um solavanco durante o Plano Collor. Tinha um prédio inteiro vendido e ficou com o dinheiro bloqueado no banco. "Ficamos uns 90 dias sem saber o que fazer", afirma.

    Em diversas mensagens nas redes sociais da empresa, vizinhos do Eixo Platina pedem cuidados com as calçadas, limpeza e que ele adote as praça do entorno.

    Hoje, a preocupação é outra. "A imagem do incorporador ainda é a de predador", reconhece. "Quero calçadas largas. Os muros altos não fazem mais o menor sentido. Você tem segurança quando dá para se ver o que acontece na sua casa, no seu prédio", afirma.

    Em 2015, em um acordo com a prefeitura, a empresa patrocinou a troca do muro do vizinho parque Ceret por 1.200 metros de gradis. "Parecia muro de cemitério, agora ficou como o Ibirapuera", diz.

    Com isso, a incorporadora valoriza o m² de seus empreendimentos, e tenta evitar o tal êxodo da zona leste -que também atingiu sua casa. Depois de casar, o filho mais velho de Melro se mudou para Pinheiros. "Quando se mudam, não voltam mais."

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