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    Motoristas usam linha de trem para escapar de pedágio no interior do PR

    WILHAN SANTIN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ARAPONGAS (PR)

    15/06/2017 02h00

    Wilhan Santin/Folhapress
    Veículos trafegam ao lado de linha férrea no interior paranaense para escapar de pedágio
    Veículos trafegam ao lado de linha férrea no interior paranaense para escapar de pedágio

    Um forasteiro que chega ao Patrimônio do Ceboleiro, na zona rural de Arapongas, no norte do Paraná, custa a entender algumas coisas.

    Por exemplo: um muro com 1.938 metros de extensão e mais de um metro de altura margeia estradas vicinais e cerca um terreno em que não há nada -apenas um extenso matagal. Já na linha férrea que passa pelo local, circulam carros, motos e até caminhões.

    A explicação para esses fatos inusitados está em uma praça de pedágio instalada perto dali, na BR-369, e administrada pela Viapar.

    No início de junho, a concessionária utilizou tratores e cavou valetas em um terreno municipal que se ligava à estrada rural e servia como uma rota de fuga do pedágio.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Desde então, aqueles que não querem pagar a tarifa de R$ 8,20 para automóveis, R$ 4,10 para motocicletas e R$ 14 por eixo para caminhões se arriscam andando cerca de um quilômetro pela linha férrea.

    Já o muro é uma contrapartida da Viapar com a Prefeitura de Arapongas. Em acordo de outubro, a cidade se comprometia a não deixar abrir uma "rota de fuga" e a concessionária assumia a construção do muro, cercando um futuro parque industrial.

    Porém, segundo o prefeito Sérgio Onofre da Silva (PSC), que assumiu em janeiro, o muro não terá serventia, já que ele não deve tocar o projeto da gestão anterior.

    "Para fazer o parque industrial seria necessário investir R$ 12 milhões em infraestrutura. Não temos esse dinheiro. Além disso, teríamos que doar terrenos para as empresas, o que é vedado por lei."

    O fechamento da rota alternativa revoltou moradores de Arapongas e de Rolândia, distantes 14 km. Muitos alegam que precisam se deslocar entre as cidades para trabalhar e pagam caro para rodar pouco.

    É o caso de Osmar Pedrasoli, 69, dono de um caminhão para transportar carros quebrados. Encontrado trafegando pelas margens da via férrea, justificou: "Se eu for passar pelo pedágio a cada vez que levar um carro de um município para o outro, vou pagar para trabalhar".

    Já o mestre de obras Elias Ferreira de Jesus, 43, costuma acompanhar construções nas duas cidades. Duas viagens entre elas no mesmo dia resultaria em um gasto de
    R$ 32,80 só com pedágios. "Como usamos a rodovia, acho justo pagar, porém uma taxa proporcional, reduzida."

    Donos de um sítio onde plantam café, José, 67, Valdir, 70, e João Paulo Lonardoni, 36, são obrigados a pagar pedágio a cada vez que precisam ir à área urbana do mesmo município. "Até para ir ao SUS temos que pagar", diz José.

    TARIFA ZERO

    Um movimento denominado Tarifa Zero foi criado por usuários da rodovia. Eles pedem a abertura de uma estrada alternativa para moradores de Arapongas (116,6 mil habitantes) e Rolândia (57,8 mil), ou descontos para os veículos das duas cidades.

    "Só queremos o que é justo, pagar pelo que usamos ou ter a alternativa de não usar e não pagar. Foram feitos acordos entre a prefeitura e a Viapar que não beneficiam em nada a população. Quem se beneficia de um muro no meio do mato?", questiona o comerciante Heleno Santos, 39, integrante do movimento.

    Para fechar a passagem utilizada pelos moradores, a Viapar diz se apoiar em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e acordos firmados com a Prefeitura de Arapongas. A concessionária não revela quanto gastou com o muro.

    O procurador jurídico do município, Rafael Cita, confirma que acordos foram feitos entre a concessionária e a prefeitura em gestões anteriores e que houve uma decisão liminar do STF em 2006 proibindo a rota de fuga, a qual, porém, não teria mais eficácia pelo fato de a ação ter sido extinta posteriormente.

    "Estamos analisando tudo do ponto de vista técnico para concluirmos como proceder diante da briga entre a população e a concessionária", declara o procurador.

    De acordo com o prefeito, o imposto gerado mensalmente pela praça de pedágio instalada em Arapongas é de aproximadamente R$ 77 mil.

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