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    Eletricista faz cadeira de rodas para cães e recebe lambidas de gratidão

    FERNANDA TESTA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SERTÃOZINHO (SP)

    27/07/2017 02h00

    Na casa simples em Sertãozinho (330 quilômetros de São Paulo), o eletricista Glauber Pereira Souza, 36, tem uma família diferente: cinco cachorros, dois gatos e dois coelhos. O mais novo membro da casa é Preta, uma cadela vira-lata que foi atropelada por um ônibus e teve a bacia esmagada.

    Adotada pelo eletricista, Preta, então paraplégica, ganhou do dono uma cadeirinha confeccionada por ele mesmo, e assim pôde voltar a andar. A cadela, no entanto, não foi a única agraciada com os cuidados de Souza. As mãos solidárias do eletricista já devolveram o movimento das patas a mais de 2.400 animais Brasil afora.

    Apesar de estar desempregado, ele não cobra pela criação das cadeiras de roda para animais com problemas de locomoção. "Só cobro o custo do material utilizado, e, em casos de encomendas de outras cidades, a taxa de envio pelo correio", diz. O interesse em criar cadeiras de rodas para pets nasceu em fevereiro de 2015, quando o eletricista encarou o desafio de ajudar uma amiga com uma cadela tetraplégica.

    "A cachorrinha estava com cinomose em um estado bem avançado. Já tinha perdido até o movimento do pescoço. Minha amiga estava desesperada atrás de uma cadeira de rodas para que a cachorra ficasse ao menos em pé", conta.

    Sem ideia de como construiria o equipamento, Souza recorreu a tutoriais na internet. Foram mais de 20 dias para finalizar a órtese. "Como era um animal tetraplégico, tive que desenvolver uma cadeira com quadro rodinhas que desse sustentação ao pescoço. Utilizei PVC, que é o material mais comum utilizado nessas cadeirinhas feitas em casa", afirma.

    O experimento deu certo. Incentivado pela amiga, Souza criou uma página no Facebook para divulgar o trabalho voluntário. "Sempre tive esse instinto de ajudar, cuidar. Como a cadeirinha deu certo, decidi tentar fazer disso um gesto solidário e auxiliar outros pets. Na região, o trabalho se espalhou no 'boca a boca'. Já a página rendeu contato com pessoas de todo o país", diz.

    Assim que começou a confeccionar as cadeiras, trocou o PVC por metais. Segundo o eletricista, o material é mais leve e mais resistente que os tubos de PVC. "Se [o PVC] ficar exposto ao sol, pode sofrer rachaduras e machucar o animal. O metal, além de não ser tão caro, é mais vantajoso. Comecei com o alumínio, e depois também adotei o aço carbono e o metal galvanizado", explica.

    O custo de uma órtese varia de acordo com o tamanho e peso do animal e em geral fica entre R$ 20 e R$ 190. O preço mínimo de uma cadeira de rodas industrializada é de R$ 450, diz o eletricista.

    SOB MEDIDA

    Para atender aos pedidos feitos pela internet e não errar o tamanho das cadeirinhas, Souza desenvolveu uma técnica. "Oriento os donos quais as partes do animal é preciso medir. Com isso e com a informação sobre o peso, decido qual metal irei utilizar."

    Ao longo dos dois anos de trabalho com os pets, o eletricista elenca pedidos desafiadores. Já fez até cadeira de rodas para filhotes. "Eram três cãezinhos. A menor cadeirinha pesava apenas 130 gramas. Fiz com haste de cerca elétrica". Também já encarou cachorro grande, e confeccionou uma órtese para um animal de 68 quilos.

    A prática fez com que Souza aperfeiçoasse o trabalho. Hoje, consegue fazer de quatro a cinco cadeiras de roda por dia. A fama de anjo da guarda dos pets rende recomendações de veterinários e até de universidades da região de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

    "Veterinários e professores passam meu contato pra donos de animais. As pessoas que chegam até mim geralmente estão desesperadas, porque já fizeram de tudo pelo animal. Elas vêm acreditando que eu possa ser um 'milagre' para os pets", conta.

    Além da felicidade dos donos, o que mais motiva o eletricista a seguir com o trabalho solidário é observar a reação dos animais. "Todos os animais que atendo presencialmente, sem exceção, quando começam a andar, vêm até mim e me lambem. Como se fosse uma forma de agradecer pela ajuda."

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