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    Polícia diz que agentes facilitaram massacre de presos em Manaus e indicia 210 detentos

    DA BBC BRASIL

    01/09/2017 17h09

    EPA/BBC-Brasil
    Oito meses após massacre, polícia indicia 210 pessoas por massacre em presídio
    Oito meses após massacre, polícia indicia 210 pessoas por massacre em presídio

    Oito meses após o massacre que deixou 56 pessoas mortas no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus, a Polícia Civil encerrou seu inquérito e indiciou 210 detentos pelo crime. Os presos foram mortos a tiros e esquartejados no primeiro dia do ano, logo após o término do horário de visitas.

    A conclusão das investigações da Polícia Civil, comunicada nesta sexta-feira (1º), identificou os responsáveis pelo crime em massa após uma série de exames de necropsia e análise de DNA dos mortos. A equipe composta por dez investigadores, dois escrivães e cinco delegados ouviu 350 pessoas sobre o caso.

    O inquérito tem 2.600 páginas com fotos, transcrições de áudios, depoimentos e laudos médicos. A investigação ainda apontou que agentes penitenciários e familiares dos presos facilitaram a entrada de armas no presídio e o início da rebelião, que resultou nas mortes.

    Mas, segundo os delegados, isso será apurado em outro inquérito porque esse primeiro foi focado nos homicídios. Todo o conteúdo da investigação foi encaminhado ao Ministério Público nesta quinta (31).

    De acordo com o delegado-geral do Amazonas, Frederico Mendes, o inquérito "comprovou que o massacre foi causado pela rivalidade entre as facções criminosas FDN (Família do Norte) e PCC (Primeiro Comando da Capital)" em uma disputa pelo controle dos presídios da capital amazonense. A transferência de líderes da FDN para presídios federais no último ano também estimulou o massacre.

    REBELIÃO E 56 MORTES

    De acordo com as investigações, a rebelião começou pontualmente às 15h59 do primeiro dia do ano. Quando as últimas pessoas deixavam o presídio, integrantes da FDN renderam agentes penitenciários e trocaram tiros com os policiais militares que estavam no portão que dá acesso à área do presídio conhecida como "seguro".

    Felipe Souza/BBC-Brasil
    Investigação apontou que agentes penitenciários e familiares de presos facilitaram massacre em Manaus
    Investigação apontou que agentes penitenciários e familiares de presos facilitaram massacre em Manaus

    Nesse setor estavam presos considerados vulneráveis, como aqueles acusados de crimes sexuais e quem não se identifica com nenhuma facção criminosa. Mas os principais alvos eram as 26 pessoas identificadas como membros do PCC. Apenas três delas sobreviveram ao massacre.

    A ordem para a matança, segundo a polícia, partiu do fundador da FDN, José Roberto, preso em um presídio federal em Mato Grosso do Sul. A rebelião durou cerca de 17 horas –o presídio foi alvo de varreduras e os policiais encontraram 17 armas.

    Os sobreviventes do massacre foram levados para um presídio na região, onde outras nove pessoas morreram em mais uma chacina.

    A BBC Brasil foi o primeiro meio de comunicação a entrar nos dois presídios após os massacres. Na época, os presos disseram à reportagem que tomavam água da privada e viviam sob a ameaça de novas decapitações.

    CHACOTAS DO PCC

    A delegada Emília Ferraz, que participou das investigações, disse nesta sexta-feira que piadas feitas por presos do PCC contra os detentos ligados à FDN e seus familiares também foi uma forte motivação para a chacina.

    "Os alvos principais eram certos e já estavam marcados, enquanto outros bastavam ser os estupradores, presos vulneráveis ou apenas fazer parte do PCC", afirmou.

    Felipe Souza/BBC-Brasil
    Delegados disseram que chacotas de presos ligados ao PCC contra a FDN também motivaram mortes
    Delegados disseram que chacotas de presos ligados ao PCC contra a FDN também motivaram mortes

    O delegado-geral adjunto do Amazonas, Ivo Martins, disse que o setor de inteligência da polícia já havia identificado a possibilidade de ocorrer rebeliões de grande porte desde o dia 15 de dezembro de 2016, mas que não sabiam quando e que tentaram evitá-las.

    "Isso até hoje a gente recebe. A gente tinha conhecimento de que algo poderia acontecer, entretanto, não sabíamos a data correta. Essa situação é inerente a informes desse sentido", afirmou.

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