Se for fazer uma lista com o nome das pessoas que dependeram de Dona Carmem durante os seus quase cem anos de vida, é melhor comprar um caderno bem grosso.
De bocas para alimentar, só em casa foram 12 –seriam 14 se dois filhos não tivessem morrido ainda bebês; no trabalho, mais de cem operários –completava a renda de casa como cozinheira do empregador do marido, Joaquim, que peregrinava o Brasil instalando linhas férreas e transportando animais.
| Arquivo pessoal |
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| Carmem Luciana Rodrigues (1923-2017) |
Faltou botar na conta o pessoal do Jardim Bela Vista, bairro de Guarulhos (SP), para o qual Dona Carmem se mudou em 1973 e não saiu mais.
Devota de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Montserrat, foi fundamental para a comunidade que começava a se formar na região. Para os católicos praticantes, não tem nem dúvida: era na sua casa que as primeiras missas do bairro foram rezadas, antes de o centro comunitário local ficar pronto.
Mas mesmo quem não era muito disciplinado –mas temente a Deus, claro– recorria à Dona Carmem.
Mães estavam sempre batendo à sua porta: ora eram filhos com desnutrição, ora os pequenos tinham medo de começar a andar. As orações e simpatias da benzedeira do bairro sempre davam jeito.
"Ela era uma figura matriarcal muito forte, no velório até senhoras de mais de 80 anos a chamavam de mãe", diz a neta Ana Keli.
Solidária e determinada, manteve-se olhando pelos outros até o final da vida.
Morreu no último dia 31, de causas naturais. Deixa 11 filhos, 23 netos, 19 bisnetos, sete noras e quatro genros.
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