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    Ação com dez ladrões mortos teve de 'sucatão' da polícia a estreia de fuzil

    THIAGO AMÂNCIO
    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    05/09/2017 02h00

    O empresário Cesar Gil, 57, chegou à casa da namorada por volta das 19h20 de domingo (3) e achou que teria um fim de noite tranquilo. Mas foi recebido com uma coronhada. Bandidos roubavam a casa dela, no Jardim Guedala, bairro nobre de São Paulo, na região do Morumbi. A Polícia Civil surpreendeu os criminosos, e dez ladrões morreram na ação.

    "Eles estavam lá desde as 18h. Minha sogra e minha mulher estavam numa missa e chegaram em seguida. Quando cheguei, eles me renderam. 'Me dá a senha do cofre', repetiam", contou à Folha. "Ameaçaram elas de morte. Não chegaram a amarrar, mas colocaram a gente de bruços." No assalto, levavam relógios, colar, anéis e R$ 4.000. "Eles saíram umas 19h40, e aí começou o tiroteio. Dentro de casa, a gente só tremia."

    Do lado de fora, policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações) buscavam a quadrilha na região desde as 14h daquele dia, a partir de investigação iniciada havia sete meses. Eles tinham suspeitas de que os ladrões poderiam atacar naquele domingo, mas não sabiam o endereço exato.

    O bando, especializado em assaltos a casas e condomínios de luxo, era liderado por Mizael Pereira Bastos, 28, o Sassá, foragido da Justiça. Considerado pela polícia como "o rei dos roubos a residência" –acusado de mais de 15 crimes do mesmo tipo–, Sassá já havia escapado de diversas equipes do Deic.

    Outro apontando como liderança no grupo era Felipe Macedo de Azevedo, 24, o Miojo, também foragido, acusado pelo assassinato de um policial civil há quatro anos e procurado por ataques a caixas eletrônicos no interior.

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    BUSCAS

    A principal pista que os policiais tinham dos criminosos ao percorrer as ruas do Morumbi eram os veículos que eles poderiam usar: um Fiat Toro e um Hyundai Santa Fé. Esses carros apareceram nos monitoramentos autorizados de telefonemas de integrantes da quadrilha de Miojo, investigados pelos ataques a caixas eletrônicos.

    Ao apurar a dica de um informante na semana passada, policiais descobriram que ele participou com Sassá do furto da casa de um desembargador, em 20 de agosto, vizinho da casa do Morumbi atacada no último domingo. Agentes montaram "plantão" a paisana no bairro a partir de sexta (1º). Às 18h30 de domingo, o delegado Ítalo Zaccaro Neto recebeu uma mensagem. "São os caras", gritou um policial pelo rádio.

    Os criminosos procurados estavam com os dois veículos estacionados na rua Puréus, endereço a 2,4 km do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista e residência de Geraldo Alckmin (PSDB). No sistema on-line de monitoramento de câmeras, os policiais consultaram as placas e viram que eles haviam partido naquele dia do Capão Redondo (zona sul), base da quadrilha monitorada.

    Os policiais do Deic chamaram apoio e se preparavam para fazer o cerco. Pegaram o bando deixando o local.

    Tiroteio no Morumbi

    BLINDAGEM

    Pela versão policial, os ladrões atiraram primeiro. Os dez foram mortos com 139 tiros. Nenhum agente morreu nem foi ferido com gravidade. "Quando a gente chega de carro, eles começam a atirar", diz o delegado Zaccaro Neto. "Já falaram [que o tiroteio durou] dez minutos, na internet os moradores falaram 20. Pra gente, que está ali, é quase impossível dizer. Pra mim foi quase uma semana."

    Os ladrões usavam coletes à prova de balas, portavam pelo menos quatro fuzis e tinham carros blindados. Os carros da Polícia Civil não têm blindagem, e havia um com mais de 150 mil km rodados, chamado internamente de "sucatão".

    "Na verdade, se fosse três, quatro meses atrás, a polícia abriria caminho, porque não tinha armamento à altura. Esses fuzis que usamos nesse enfrentamento, nós recebemos três meses atrás. Eles usam esse tipo de armamento porque eles abrem fogo, e a polícia sai do caminho", afirmou o delegado Antônio José Pereira, responsável pela divisão de patrimônio do Deic.

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    Quando começou o tiroteio, a publicitária Cristiana Siqueira, 46, preparava um sanduíche, em uma casa de esquina no mesmo quarteirão. Ela gritou pela mãe, e as duas se afastaram da janela. "Na hora, você não concebe que é um tiroteio. 'Será que são fogos?', eu pensei. Depois, foram uns 10, 20 minutos de tiroteio. Parecia que tinha um caminhão entrando na minha casa."

    "Ouvi só pipoco. E o medo daquelas balas, de alguma me atingir? Na hora, não dá para pensar em nada. Aqui tem muito assalto. O pessoal assalta e bate, maltrata mesmo", conta um vigia que trabalha há 20 anos na região, que deixou a moto cair sobre o pé ao fugir do local.

    Na fuga, os ladrões no Fiat Toro bateram em um carro descaracterizado da polícia. Segundo os agentes, dois tentaram fugir e foram baleados. Outros dois foram mortos no carro –a polícia não explicou como os tiros perfuraram a blindagem– e um foi morto do lado de fora do veículo.

    O outro carro, a Santa Fé, teria tentado atropelar policiais que bloqueavam a rua. Bateu em um poste, e cinco criminosos foram mortos a tiros. Sassá, líder do grupo, calçava um tênis do desembargador que furtou no dia 20. Esse caso ocorre em meio a uma epidemia de crimes contra o patrimônio (furto, roubo e latrocínio) no Estado: nos primeiros seis meses do ano, houve em média um delito do tipo a cada 30 segundos.

    Chamada Mapa da InsegurançaLink do especial:http://arte.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/08/13/mapa-da-inseguranca/
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