Os irmãos Tatto (PT), família com assento na Câmara dos Deputados, na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de São Paulo, gastaram R$ 1 milhão em verbas de gabinete em uma gráfica ligada a um parente.

Levantamento feito pela Folha mostra que os irmãos Arselino (vereador), Jair (vereador), Enio (deputado estadual) e Nilto (deputado federal) contrataram a Fábrica Sete Gráfica e Editora em pelo menos 183 oportunidades desde 2011, sempre por meio de verbas públicas.

A gráfica pertence a Anderson Labb, cunhado de Veronica Lurdes Tatto Labb, irmã dos quatro parlamentares. Até 1999, a empresa tinha como sócio Sérgio Luis Labb, irmão de Anderson Labb e marido de Veronica Tatto.

Na última campanha eleitoral, Sérgio doou R$ 55 mil para Arselino e R$ 55 mil para Jair, de acordo com informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A Folha pediu aos parlamentares que mostrassem à reportagem imagens de algum trabalho feito pela gráfica. Nenhum deles as enviou.

Nos últimos meses, segundo notas fiscais apresentadas à Câmara, os vereadores Jair e Arselino realizaram pagamentos à gráfica em razão da impressão de um "boletim informativo de prestação de contas dos seus mandatos", com 40 mil cópias cada um.

Houve pagamentos, inclusive, por boletins impressos nos meses de julho e janeiro, quando a Câmara Municipal se encontrava em recesso.

Dos quatro parlamentares, quem mais contratou os serviços da empresa foi o deputado estadual Enio Tatto, que já gastou R$ 426.570 desde 2011 com a gráfica pertencente ao cunhado de sua irmã.

"Todos os serviços foram executados e passaram pela prestação de contas do núcleo de fiscalização e controle da Assembleia", disse o deputado estadual.

	Irmãos Tatto, do PT, gastaram R$ 1 milhão em verbas de gabinete com gráfica de familiar

O vereador Arselino afirmou, por meio de sua assessoria, que os serviços foram realizados de acordo com a legislação vigente e que não tem nenhum grau de parentesco com o dono da gráfica.

TATTOLÂNDIA

A família Tatto, que começou a vir do Rio Grande do Sul para São Paulo no final dos anos 1960, tem em Capela do Socorro, na zona sul, o seu principal reduto eleitoral – tanto que o bairro foi apelidado de "tattolândia".

São 11 irmãos. Arselino é vereador desde 1989, Jair foi eleito em 2012 pela primeira vez para a Câmara Municipal, Enio virou deputado estadual em 2003, e Nilto está no primeiro mandato na Câmara dos Deputados.

Além deles, na política eleitoral, há Jilmar Tatto, que foi deputado federal e secretário de Mobilidade e Transportes da gestão Fernando Haddad (2012-2016).

Segundo a Folha apurou, Jilmar planeja concorrer ao Senado Federal no ano que vem com o objetivo de tornar-se mais conhecido para, então, poder disputar a Prefeitura de São Paulo em 2020.

Em 2015, ele se envolveu em uma polêmica quando a gestão Haddad abandonou um projeto de ciclovia previsto para a zona sul.

O projeto previa uma faixa em linha reta, mas a prefeitura optou por fazer uma outra, duas quadras baixo, só que com muitos desvios. Com curvas e travessias, a nova faixa obriga o ciclista a fazer um zigue-zague entre os carros.

A troca beneficiou os Tatto. O traçado anterior passava na frente de cinco imóveis de familiares do secretário, que seriam afetados pelo projeto original. A prefeitura negou que a mudança tenha sido feita com o objetivo de favorecer a família de Jilmar.

OUTRO LADO

Os irmãos Tatto (PT) afirmam que os serviços da Fábrica Sete Gráfica e Editora foram contratados de acordo com a legislação vigente e que o cunhado de sua irmã, proprietário do negócio, não pode ser considerado um familiar.

"A empresa é de propriedade do Sr. Anderson Labb e o mesmo não mantém nenhum grau de parentesco com o vereador", informou a assessoria de Arselino.

A assessoria de Jair Tatto disse que "o nosso mandato segue rigorosamente as resoluções da Câmara Municipal e de sua equipe de controle de verba auxílio".

O deputado federal Nilto Tatto declarou que os serviços contratados foram aprovados pelo Núcleo de Controle de Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar, da Câmara dos Deputados. "Não se trata de empresa de familiares", disse.

Segundo o deputado estadual Enio Tatto, todos os serviços foram executados e passaram pela prestação de contas do núcleo de fiscalização e controle da Assembleia Legislativa de SP, "que remeteu ao Tribunal de Contas do Estado".

Proprietário da gráfica, Anderson Labb afirmou que "a seriedade e o profissionalismo são os critérios que norteiam os serviços prestados para todos os nossos clientes"