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    Pai que deixou filho de 13 anos dentro da cela de estuprador é preso no Piauí

    YALA SENA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TERESINA

    05/10/2017 15h53 - Atualizado às 20h21

    O pai do garoto de 13 anos achado numa cela com um preso condenado por estupro na colônia agrícola Major César de Oliveira, em Altos (PI), foi preso na tarde desta quinta-feira (5).

    A juíza Andrea Parente Lobão Veras decretou a prisão preventiva dele e também do detento José Ribamar Pereira Lima, que estava com o garoto.

    Lima, condenado a 18 anos de prisão por dois estupros de vulneráveis, perderá o direito ao semiaberto, onde estava, e será encaminhado ao regime fechado. A prisão foi determinada após pedido do delegado Jarbas Lopes de Araújo Lima, que investiga o caso. Ele também pediu a prisão da mãe do garoto, mas a Justiça negou.

    No pedido, o delegado alegou que o pai, que já tem histórico de envolvimento com crimes –cumpriu pena por estupro de vulnerável–, colocou a criança em situação vexatória, expôs sua vida a perigo e praticou abandono de incapaz. O pai do menino foi preso na própria delegacia, onde esteve em busca de informações sobre o caso.

    O caso foi descoberto no início da madrugada de domingo (1), quando agentes penitenciários observaram que, ao término do período de visita, um visitante não havia saído do presídio do Piauí. Agentes de plantão entraram em todas as celas e encontraram o menino sem camisa, escondido sob a cama de Lima, condenado a 18 anos de prisão por dois estupros de vulneráveis em Aroazes (a 219 km de Teresina), ocorridos em 2008 e 2009.

    Wilson Filho/Cidade Verde
    José Ribamar Pereira Lima, 65, condenado por 2 estupros e que estava em cela com garoto
    José Ribamar Pereira Lima, 65, condenado por 2 estupros e que estava em cela com garoto

    Nesta quarta, a juíza da infância e adolescência Maria Luiza de Moura Mello e Freitas já havia determinado o afastamento temporário da família do garoto e de seus três irmãos. Eles foram encaminhados a um abrigo.

    A repercussão do caso fez a Secretaria de Estado da Justiça adotar novas regras para a entrada de crianças e adolescentes nos presídios do Piauí, no mesmo dia em que vieram à tona detalhes da relação entre o menino e o estuprador.

    O garoto confirmou em depoimento à polícia que ele e outros três irmãos -todos menores- recebiam presentes do estuprador, que é amigo do seu pai. Segundo relato do menino, os presentes dados pelo preso eram biscoitos, chinelos, alimentos e dinheiro. O garoto contou que o detento prometeu dar um videogame para seu irmão de 9 anos.

    Onde fica a cidade de Altos, no Piauí, onde um menino foi encontrado na cela de um estuprador
    Onde fica a cidade de Altos, no Piauí, onde um menino foi encontrado na cela de um estuprador

    SEM PROBLEMAS

    O pai do menino disse não ter visto perigo nenhum ao deixar o filho com o estuprador, que era seu "compradre". "Foi o menino que pediu para ficar com ele [o preso]. Eu deixei porque no outro dia ia trabalhar lá [no presídio]. Não sabia que ia dar o BO. Eu não sabia que ele era estuprador, ele me enganou e me disse que tinha apenas matado a mulher", afirmou o pai do menino deixado na cela.

    Já a mãe do garoto disse à polícia que o filho ficou no presídio sem sua autorização. O detento Lima negou que tenha abusado do menino de 13 anos, mas não quis dar mais detalhes. Na delegacia, o pai do garoto disse que conheceu o preso há dois anos, quando foi condenado a dez anos por estupro de vulnerável e cumpriu a pena em regime semiaberto. Os dois dividiram a mesma cela na colônia penal e, há seis meses, o pai ficou livre.

    Sinpoljuspi/Divulgação
    Criança de 11 anos foi encontrada em cela de acusado de estupro de vulnerável no Piauí
    Criança de 11 anos foi encontrada em cela de acusado de estupro de vulnerável no Piauí

    ARREPENDIMENTO

    Ao ser preso, o pai do menino disse se mostrar arrependido. O pai foi até a delegacia pedir autorização para viajar para sua cidade natal, Alto Longá, quando recebeu a informação de que o pedido de sua prisão preventiva havia sido aceito.

    A Polícia Civil do Piauí informou nesta quinta que investiga se os três irmãos do garoto encontrado na cela sofreram abuso sexual. Tanto o garoto como sua irmã, dois anos mais velha, e outros dois meninos, de 11 e 9 anos, frequentavam a colônia agrícola Major César, segundo a polícia.

    "Vamos ouvir os irmãos do garoto para saber se sofreram abuso sexual ou não e se houver necessidade pediremos novos exames, porque eles recebiam presentes do detento. Sabemos que nos casos de abusos sexuais presentes como biscoito, chinelos e coisas desse tipo são atos preparatórios para os estupradores aproveitarem da boa fé das crianças", disse o delegado Jarbas Lopes de Araújo Lima, que investiga o caso, durante entrevista à imprensa nesta quinta.

    Segundo relato do garoto, ele e os irmãos ficaram no presídio durante as visitas nos finais de semana e chegavam a almoçar e jantar no local. A polícia vai ouvir novamente o garoto, que está no abrigo com os três irmãos. O delegado vai tentar interrogá-lo para saber se houve crime de estupro, apesar de o exame feito ter dado resultado negativo.

    Além disso, a polícia e o Ministério Público do Trabalho apuram se o garoto e seus irmãos ajudavam o pai numa horta e em uma carvoaria, ao lado do presídio, o que pode configurar trabalho infantil. O delegado solicitou novas perícias na cela onde o garoto foi encontrado e pediu imagens internas do presídio.

    OUTRO CASO

    Outros casos de menores de idade dentro de presídios e delegacias do país já tiveram ampla repercussão.

    Um dos mais emblemáticos foi o da então adolescente de 15 anos que, em 2007, passou 26 dias presa com cerca de 30 homens numa cadeia de Abaetetuba (PA).

    Ela, que sofreu torturas e estupros diários e teve seus cabelos cortados para que parecesse homem, foi apreendida após tentativa de furto de celular. A delegada fez a prisão em flagrante sem conferir idade e identidade, e a menina foi colocada na cela com os detentos. Um preso da delegacia acionou o Conselho Tutelar após ser solto.

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