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    Santuário dá nova vida a elefantes, mas sofre com falta de verba em MT

    VINÍCIUS LEMOS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CUIABÁ

    02/11/2017 02h00

    Por 40 anos, Guida e Maia trabalharam em troca de comida. Apática, Guida estava abaixo do peso. Maia era agressiva. Elas dormiam acorrentadas, espremidas em um trailer com mais dois companheiros –dois camelos.

    Há um ano, as elefantas asiáticas de um circo da Bahia ganharam um novo lar. Do espaço antes de 16 m² onde mal se moveram durante uma vida, hoje podem correr em uma área verde equivalente a 25 campos de futebol na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.

    Guida e Maia são, por enquanto, as únicas moradoras do Santuário de Elefantes Brasil, o SEB, que completou um ano no mês passado. A fazenda de 1.140 hectares –ou o equivalente a sete parques Ibirapuera– é o único espaço destinado à conservação de elefantes na América Latina.

    O projeto, porém, enfrenta dificuldades financeiras e burocracia para receber novos moradores. O custo de cada uma das elefantas é de R$ 60 mil. E a fazenda ainda está sendo paga –avaliada em R$ 3,4 milhões, 40% já foram quitados. "Há meses em que não conseguimos [o valor] e por isso temos que negociar com com os fornecedores", diz a publicitária paulistana Junia Machado, idealizadora do santuário.

    Uma retroescavadeira comprada recentemente, por exemplo, precisou ter seu pagamento revisto. Os custos são bancados por doações, principalmente de estrangeiros.

    Guida e Maia ocupam hoje 11% da área da fazenda. O espaço para as duas foi progressivamente expandido para 18 hectares e ganhará mais dez até o fim do ano.

    O território delas é cercado e adaptado com área médica, tanques de água e área de alimentação. A ideia é que, com o tempo, o perímetro cresça na medida em que elas aprendam a se alimentar sozinhas, na natureza.

    BUROCRACIA

    Além de caro, o próprio processo de aumentar o espaço dedicado aos animais esbarra na burocracia. Cada hectare expandido ao longo deste ano dependeu de licenciamento e aprovação da Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso.

    Agora, a nova papelada é por conta de trazer mais elefantes, todos de outros países. Um levantamento pré-abertura localizou nove animais que poderiam ser levados ao santuário. A fazenda teria capacidade para receber até 50 elefantes.

    A próxima candidata a moradora é Ramba, do Chile. "A Ramba está em uma área isolada no Chile, esperando. Ela está bem, mas elefante precisa de espaço e de companhia", diz Junia. A expectativa é trazê-la em dezembro. No mês seguinte, seria a vez de Peluza e Mara, da Argentina.

    Os prazos, porém, dependem da análise do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente, para a vinda ao país de animais estrangeiros.

    Os animais que ficam no santuário não recebem visitas. Há projeto de que o lugar tenha espaço para visitantes, desde que os bichos não sejam perturbados.

    "Será uma área pequena e isolada", diz a coordenadora. Enquanto isso, há intenção, ainda sem data, de instalar câmeras para o público acompanhar, via internet, a vida dos animais.

    As mudanças em Guida e Maia com o novo lar são visíveis. Elas passam o dia explorando a área verde. "Às vezes as duas se separam. Quando voltam a se encontrar, é como se uma perguntasse à outra para onde ela foi. Às vezes uma dorme e a outra fica ao lado. É muito lindo vê-las juntas", diz Junia.

    Guida ganhou 400 kg no período, e Maia mudou o comportamento de desafiar seus cuidadores.

    "Guida, agora, é brincalhona e expressiva. Maia não é mais a 'garota má'. Sua energia externa e expressiva ainda está lá, mas é muito brincalhona e nunca tem tempo ruim", diz o diretor-técnico do santuário, Scott Blais. "Elas encontraram paz."

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