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    Pacote de segurança só de 'enfeite' explica tragédia na Imigrantes

    EDUARDO SODRÉ
    COLUNISTA DA FOLHA

    12/01/2018 02h00

    Marcelo Goncalves/Sigmapress/Folhapress
    Mercedes envolvida no acidente que matou duas pessoas na Imigrantes é recolhida para pátio
    Mercedes envolvida no acidente que matou duas pessoas na Imigrantes é recolhida para pátio

    Quando um veículo é abalroado na traseira com violência, os passageiros são repentinamente projetados para trás. Em seguida, com a desaceleração, o corpo desloca-se para frente ou para os lados. Tudo ocorre em frações de segundo, com perda de controle do carro.

    Se o ocupante não estiver com cinto de segurança, seu movimento dentro da cabine tem maior amplitude: ele pode colidir em partes do carro ou em outros ocupantes. Isso aumenta o risco de morte e de ferimentos graves, como lesões cervicais.

    Imagens feitas logo após o acidente que ocorreu na rodovia dos Imigrantes mostram que o motorista indiciado como causador do acidente não se feriu com gravidade. Seu Mercedes CLS tinha dispositivos que emitem avisos sonoros caso o cinto de um ou mais ocupantes não esteja afivelado.

    O som aumenta com o passar do tempo e só cessa quando o equipamento de segurança é utilizado.

    Contudo, seria impossível que todos estivem devidamente acomodados no Ford EcoSport que foi atingido. Havia oito pessoas a bordo, e o carro é homologado para cinco ocupantes. As crianças viajavam fora de assentos adequados, soltas no banco traseiro.

    Marcelo Goncalves/Sigmapress/Folhapress
    O policial Ariovaldo Grubl negou que estivesse em racha
    O policial Ariovaldo Grubl, que dirigia o Camaro envolvido na batida, negou que estivesse em racha

    Apesar do abismo que existe entre o pacote de segurança oferecido por um Mercedes moderno de alto desempenho e um Ford projetado há 15 anos, a não utilização de equipamentos básicos de segurança ajuda a entender as graves consequências da colisão.

    Em uma batida, não há nada de protetor no colo de pais e mães. Há o risco de adultos se projetarem sobre os pequenos, devido as forças envolvidas, além de serem arremessados para fora do veículo.

    Se esses adultos também estiverem soltos, não têm qualquer controle sobre seus próprios corpos.

    Segundo a Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), o ocupante de um carro em uma colisão a 100 km/h se desloca pela cabine como se pesasse 28 vezes mais. Ou seja, não há como se segurar, qualquer tentativa resulta em ossos quebrados.

    Nos testes de colisão realizados em ambientes controlados, bonecos que simulam humanos são acomodados de acordo com as regras: com cintos de segurança ou, no caso de modelos infantis, nas cadeirinhas.

    A velocidade envolvida nessas avaliações não ultrapassa os 70 km/h nos principais protocolos de segurança utilizados no mundo.

    As batidas servem para medir a resistência da cabine e a eficiência de airbags e dos pontos de absorção de impacto na carroceria.

    Entretanto, tais itens serão irrelevantes se os ocupantes ignorarem os cintos de segurança ou os assentos adequados ao tamanho e ao peso de crianças.

    Chamada - atropelamento

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