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    Zona oeste de Leipzig é centro de vida alternativa e arte contemporânea

    DA DEUTSCHE WELLE

    20/01/2014 10h50

    "Amor e arte não se compra" - a frase, hoje esmaecida, podia ser lida durante anos nos muros de uma antiga fábrica de fiação em Leipzig. Na zona oeste da cidade, distante do centro, fica a área de seis hectares onde no passado trabalhavam quatro mil operários tecendo algodão. Poucos anos depois da queda do Muro de Berlim, a fábrica foi fechada.

    Desde então, o tempo parece ter parado no complexo de galpões e torres, carente de reformas e cheio de lâminas de vidro empoeiradas, relógios que não funcionam, instalações enferrujadas e gramíneas que crescem sobre trilhos sem utilidade. Mas há algo que se expande ali: a arte, tanto a vendável quanto a não vendável. Em galpões, nas paredes e no teto, ela se mistura ao que resta das antigas instalações.

    A fábrica de fiação é um dos berços da Leipziger Westkultur (literalmente Cultura do Oeste de Leipzig), cujo nome remete à localização geográfica do bairro e cuja meta é trazer um pouco de cor ao cinza das instalações industriais e ruas abandonadas da região. Poucos anos depois da reunificação alemã, os galpões industriais já começaram a abrigar artistas, galeristas e artesãos. Hoje, obras dos pintores da chamada Nova Escola de Leipzig são vendidos a preços altos no mercado.

    "Por um Neo Rauch já é preciso pagar meio milhão de euros", afirma uma funcionária da Galeria Eigen + Art, onde estão expostas obras do famoso artista de Leipzig. Das visitas guiadas anuais à antiga tecelagem participam milhares de abonados amantes da arte, tanto do país quanto do exterior. No decorrer dos últimos anos, tornou-se praticamente impossível para um artista conseguir um ateliê no local. Diante disso, o circuito da arte independente acabou migrando para outras partes da região oeste da cidade, principalmente para a rua Karl Heine.

    NAVEGANDO PELA PAZ NO MUNDO

    Há poucos anos praticamente não havia razões para uma visita ao lugar - os vidros sujos das vitrines de lojas vazias completavam a imagem abandonada e cinza do local. Dos dois lados da rua, construções do período Gründerzeit (era dos fundadores, que se iniciou em meados do século 19) estavam em plena decadência. Nos últimos anos, contudo, os três quilômetros de rua que separam a fábrica de fiação no oeste e um parque na zona leste se transformaram em palco para a circuito de cultura da cidade.

    Os prédios foram em grande parte reformados. No início da rua, em frente à antiga estação Plagwitzer Bahnhof, ainda fica um deles, em cuja fachada há um banner onde se lê "Wächterhaus" (vigilância). Na zona oeste de Leipzig, há vários projetos em prédios como esse: no lugar de deixar a edificação em ruínas, os proprietários permitem que artistas, músicos e ativistas usem o espaço de maneira criativa. E tragam vida de volta às ruas.

    "A um quilômetro dali, no Canal Karl Heine, a embarcação MS Weltfrieden (paz no mundo) navega há quase 70 anos - nos meses de verão, ela vai e volta seis vezes por dia levando passageiros. O empresário Karl Heine, a quem tanto a rua quanto o canal fluvial remetem, sonhava, no século 19, em criar uma saída dali, a partir da "sua" zona oeste da cidade, de navio para o mundo.

    O AMOR EM LUZES DE NEON

    Um pouco mais à frente fica outra edificação: a Westwerk. Menos interessante do ponto de vista arquitetônico que a antiga tecelagem, ela se tornou já há alguns anos o centro da cultura local. No século 19 funcionava no lugar um depósito de meios de transporte de tração com cavalos, onde por último eram construídas armaduras.

    "Hoje há uma mesa de pingue-pongue no estábulo, onde acontecem também festas ao som de música eletrônica que duram até amanhecer. E na fachada do prédio brilha em luzes de neon a palavra "amor" - parte de um projeto da associação Kunstverein Westbesuch, que espalhou sete "verbetes nobres" em fachadas ao longo da rua Karl Heine.

    KARL MARX ENTRE CONSERVAS DA ALEMANHA ORIENTAL

    "Poucos metros adiante fica o teatro Schaubühne Lindenfels, outro pioneiro do local, onde o tempo também parece ter parado: o enorme relógio não tem mais ponteiros, nas escadas do prédio há sempre muita gente e lá dentro um pequeno cinema exibe documentários e filmes de arte. Por trás das cortinas fica o coração do lugar: um salão de baile, com o charme do início do século passado, onde acontecem regularmente apresentações de teatro, leituras e shows de música.

    Na próxima esquina fica ainda a livraria, onde ao lado de livros e vinis ficam expostas conservas de alimentos dos tempos da Alemanha Oriental. O proprietário do lugar, de origem sírio-alemã, entrega a quem procura O Capital, de Karl Marx, uma edição comentada da obra dos tempos comunistas. Estas e outras relíquias podem ser encontradas também nas festas de rua e mercados de pulgas que acontecem na rua várias vezes ao ano.

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