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    Elite brasileira também vai mal no ensino, diz diretora do Banco Mundial

    CLÁUDIO GOLDBERG RABIN
    COLABORAÇÃO PARA FOLHA

    03/09/2015 16h53

    Os problemas de aprendizagem no Brasil são democráticos: embora tenham intensidade variada, atingem, sem distinção, todas as classes sociais.

    Conforme lembrou a diretora-sênior para Educação do Banco Mundial, Claudia Costin, na manhã desta quinta-feira (3), os jovens da elite brasileira (25% mais ricos) têm notas piores do que os alunos 25% mais pobres dos países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) no ranking Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).

    Na radiografia que montou dos problemas e desafios da educação no Brasil durante o Seminário Internacional Caminhos para a Qualidade da Educação Pública: Gestão Escolar, a especialista apontou a contradição entre o Brasil ser a oitava economia do mundo e ter índices tão ruins na educação. O evento é promovido pelo Instituto Unibanco e correalizado pela Folha.

    Nem tudo, porém, é desgraça. O Brasil praticamente universalizou o acesso ao ensino fundamental e desde 2003 vem avançando no ensino de matemática.

    Entre outros problemas citados, ela classificou as turmas noturnas de ensino médio como "arremedo de ensino". "Um terço dos alunos estuda no período, mas apenas 3,5% dos alunos da Fuvest saíram do noturno". Segundo Costin, as aulas começam mais tarde e terminam mais cedo e a evasão é bem maior.

    Junto à mesa que debateu cenários de gestão e resultados educacionais para o Brasil, o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Francisco Soares, disse que os dados coletados da trajetória de todos os estudantes desde 2007 auxiliam a entender o panorama da educação.

    "Onde há sucesso, há boa gestão", afirmou. "O problema é que a Constituição prevê a gestão democrática, mas não a define". A proposta apresentada por Soares prevê três eixos principais: a garantia de direitos, a gestão participativa e a transparência.

    Sobre a qualidade do ensino no país, disse que o panorama é muito amplo. "O grupo de escolas brasileiras é muito heterogêneo e desigual".

    O terceiro participante da mesa, o professor inglês Anthony McNamara, membro do National College for Teaching and Leadership, trouxe como o exemplo os desafios da Inglaterra. Falando em português, afirmou que 40% dos professores abandonam a profissão antes de completar cinco anos.

    Os gestores das escolas também são reticentes na hora de aceitar o cargo, pois há uma percepção de que a fiscalização é "dura, rígida e feroz", o que eleva o nível de estresse dos profissionais.

    McNamara também defendeu que as escolas sejam transparentes. Além disso, disse que os maus gestores prejudicam o sistema por criarem uma cultura de conformismo. Para ele, o ambiente escolar deve ser transparente e ter trocas entre os profissionais: "O isolamento é o inimigo da melhoria".

    Durante o debate, o professor inglês criticou a busca por cópias de modelos estrangeiros e comentou que o "case" da Finlândia, sempre tão lembrado como exemplo de sucesso, é bastante específico. "É um país pequeno, frio, no qual os pais têm tradição de ler para os filhos à noite durante o longo inverno. O Brasil deve procurar soluções brasileiras".

    Costin, do Banco Mundial, discordou: "Deve-se adaptar os exemplos para os casos brasileiros, mas é importante olhar para o que o mundo faz".

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