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    Sindicatos, partidos e MBL inflamam tensão em ocupação de escolas no PR

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    29/10/2016 02h00

    Não são apenas os estudantes que defendem as ocupações de escolas ou que pedem a volta às aulas os envolvidos nesse acalorado debate sobre o tema no Paraná.

    Às vésperas de vestibular e Enem, o movimento que ocupou 850 escolas no Estado (quase metade das 2.100 unidades) em protesto contra a reforma do ensino médio proposta por Michel Temer (PMDB) despertou o apoio e a oposição de sindicatos, grupos anti-Temer, partidos políticos e até de movimentos contra a corrupção.

    Entre si, eles trocam acusações de ódio, incitação a violência e doutrinamento, que reproduzem a efervescência política do país e jogam fervura no debate sobre a continuidade ou não das ocupações no Estado.

    Guilherme Pupo/Folhapress
    Estudantes na ocupação do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba
    Estudantes na ocupação do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba

    Nos últimos dias, grupos que se declaram anticorrupção passaram a apoiar pais e alunos contrários às ocupações. Eles ajudam a organizar protestos em frente aos colégios, que dizem ter sido tomados por "uma minoria", levam megafones e apitos e pressionam pela saída dos alunos.

    "Abraçamos a causa porque a maioria é contra a ocupação e queria se fazer ouvir", diz Narli Resende, do movimento Curitiba contra a Corrupção. "Eles estão sendo usados como massa de manobra numa guerra absolutamente partidária, contra os governos federal e estadual", diz Eder Borges, líder do MBL (Movimento Brasil Livre) e candidato derrotado a vereador. "Nós estamos dando apoio à sociedade civil."

    Nos protestos, em alguns momentos, gritos de "vagabundo", "maconheiro" e "comunista" são dirigidos aos estudantes nas escolas. Alguns manifestantes batem nos portões, fazendo barulho. Em um colégio de Curitiba, pais forçaram a entrada e derrubaram um portão.

    "Esses pais estão entrando em desespero. Tentamos conter os ânimos", diz Resende, segundo o qual o movimento age pacificamente.

    Parte desses grupos participou de reunião no governo local, comandado por Beto Richa (PSDB). Junto com pais, alunos e diretores, fizeram apelo pela volta às aulas, divulgado pelo Estado. Mas negam ter agido politicamente.

    "A gente sabe que o governo está de mãos atadas desde o 29 de abril", diz Resende, em referência ao confronto entre policiais e professores estaduais que deixou cerca de 200 feridos num protesto, em 2015. Desde então, o uso da força policial é avaliado com extrema moderação pela gestão. "Queremos ajudar quem quer a volta às aulas com nossa experiência, ajudando no diálogo."

    O governo do Paraná diz ter recebido o grupo a pedido dos diretores de escolas, mas afirma não tolerar "radicalismos e desordens" de qualquer lado e que não é de seu interesse "apoiar A ou B".

    Na reunião, o secretário da Segurança, Wagner Mesquita, chegou a afirmar, diante do apelo dos manifestantes, que "não é possível dar guarida à desocupação forçada por parte dos pais".

    Ocupação nas Escolas

    O governo defende, porém, o fim das ocupações. "O que está em jogo é o direito constitucional dos alunos de ir para a escola, uma obrigação do Estado", afirma o secretário da Casa Civil, Valdir Rossoni.

    Do outro lado, sindicatos, estudantes universitários e grupos de oposição a Temer têm endossado as ocupações e acusam o governo estadual de "insuflar a violência".

    Eles integram uma "rede de apoio", formada em grupos de WhatsApp, que é acionada em caso de protestos, boatos ou risco de violência.

    Se necessário, formam um "cordão de isolamento" ao redor dos colégios, para proteger os alunos. Em alguns casos, ajudam com comida.

    Reforma do ensino médio

    "Não há como virarmos as costas para isso. Há um movimento muito agressivo contra os estudantes", diz Hermes Leão, presidente da APP Sindicato (que representa os professores estaduais).

    Para eles, há um discurso de ódio contra as ocupações. "Teve uma mulher que chegou aqui e gritou: 'Deixe que morram. Olha o tipo das pessoas que querem cobrar algo da gente. Só olham para o próprio umbigo", diz um estudante de 17 anos, que não quis se identificar.

    Quem é contra a ocupação diz que há professores agindo politicamente: a categoria está em greve, mas com baixa adesão. "A ocupação é hoje a única forma de assegurar a paralisação", diz Jaílson Neco, diretor de colégio estadual.

    A APP nega. "A ocupação começou muito antes da greve. É uma distorção dizer isso", afirma Leão.

    Os alunos pretendem continuar nas escolas até que Temer desista da MP que trata da reforma do ensino médio.

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