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    Escola no centro de SP vira refúgio amigável para filhos de imigrantes

    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    15/12/2016 02h00

    Bruno Poletti/Folhapress
    SAO PAULO, SP, 10.12.2016: - Natal das criancas Imigrantes - Uma Ong fez a alegria das criancas do Colegio Vicentinos, localizado na Alamenda dino Bueno o Colegio e um dos que recebe e cuida de criancas imigrantes, alem de chegarem vestidos de Papai noel e distribuirem doces arrecadaram brinquedos e distribuiram para as criancas do Colegio. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress) ***EXCLUSIVO FOLHA***
    Papai Noel anima crianças no Centro Promocional Dino Bueno, escola no centro de São Paulo

    Uma iniciativa social de apoio à educação infantil, voltada a crianças de até cinco anos, se tornou um refúgio de acolhimento e atenção para filhos de estrangeiros que enfrentam dificuldades de adaptação e preconceito nas escolas tradicionais.

    Instalado nas proximidades de um dos pontos mais degradados da cidade, a cracolândia, o Centro Promocional Dino Bueno pode ser visto como um oásis de ensino e de inclusão de qualidade para moradores carentes da região. O local é mantido pelas Irmãs Vicentinas de Gysegen, ligadas à Igreja Católica.

    Nos últimos cinco anos, a escola tem assumido também a missão de acolher pequenos imigrantes bolivianos, haitianos, nigerianos, chilenos e peruanos, entre outros.

    Em 2011, eles eram cerca de 30 dos 312 alunos. Atualmente, são mais de 90. Em toda a rede municipal de São Paulo, segundo contagem da prefeitura, são 1.812 crianças estrangeiras matriculadas.

    Nessa escola, as crianças ficam em período integral, recebem até quatro refeições por dia, têm aulas de música, atividades lúdicas e esportivas. Não pagam nada, nem o uniforme, mas precisam ser de famílias que moram por perto e com renda per capita de no máximo R$ 930.

    Quanto mais vulnerável socialmente a família, maior prioridade essa criança terá para conseguir uma das disputadas vagas.

    São 15 salas de aula tocadas por professoras pedagogas que dispõem de uma auxiliar. O investimento por aluno é de R$ 1.100.

    "Tivemos muitos problemas antes de conseguir vagas para nossos filhos aqui. Até violência eles sofreram. Tratam mal os estrangeiros, não têm paciência para nos explicar a documentação para matrícula. Dizem que precisamos voltar para nosso país", diz a boliviana Marisabel Quispe, 31, que trabalha com confecções no Bom Retiro (centro).

    De acordo com Janice Souza Borges, diretora-adjunta da escola, os alunos novatos que não falam português são auxiliados "naturalmente" pelos que estão há mais tempo no colégio.

    "Toda a vivência e os valores que o aluno traz de casa são respeitados, mas aqui incentivamos sempre um fazer pelo outro e um aceitar a realidade do outro. Quando chega um estrangeiro novo, os que já aprenderam bem o português fazem a acolhida e vão ajudando no dia a dia", afirma a diretora-adjunta.

    Para alguns pais, o ambiente de diversidade cultural da escola é positivo e torna mais fácil a inclusão da criança dentro da realidade educacional do país.

    "Ser tudo misturado é muito bom. Meu filho tem a chance de saber mais sobre outras culturas, outras línguas. Ele recebe muito carinho aqui. Estamos felizes", declara o professor de inglês Michel Onyendi, 53, de Angola.

    No último sábado (10), os alunos tiveram uma festa no colégio em comemoração ao Natal. Receberam o Papai Noel e ganharam brinquedos, roupas, sapatos e alimentos.

    BEM LOUCO

    "Devo muito a esse colégio. Quando um dos meus filhos conseguiu vaga aqui, eu era dependente químico e várias vezes vim deixá-lo na porta bem louco de cocaína. Sempre receberam ele muito bem", conta Binda Sadi, 45, que veio da Tanzânia e "está limpo" há dois anos.

    O filho de Binda, hoje com quatro anos, nasceu com com um retardo neuromotor, pois a mãe usou drogas durante a gravidez. Ele tem dificuldades de falar e andar.

    "Inclusão da criança com deficiência para nós é obviedade e não precisa de lei. Ela tem o mesmo direito que os outros e vai aprender, a seu tempo, junto com todos", declara a diretora-adjunta.

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