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    escolha a escola

    Escolas técnicas devem definir enfoque em profissões de hoje ou do futuro

    LOBO BRAGA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    10/09/2017 02h00

    Seis em cada dez jovens que entrarão no ensino médio a partir de 2018 vão ocupar, na próxima década, uma profissão ainda inexistente.

    O dado é citado por Eduardo Deschamps, que é presidente do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão ligado ao MEC (Ministério da Educação). Essa previsão atinge em cheio os cursos técnicos, que correm para dar conta das demandas atuais do mercado, mas precisam com urgência gerar novas tecnologias para o futuro.

    Atualmente, a educação profissional aguarda a finalização da formulação da Base Nacional Comum Curricular e as diretrizes do CNE para dar início às mudanças.

    Primo da formação regular, o ensino técnico ensaia novos formatos. Como se sabe, o novo currículo do ensino médio dará ao jovem a decisão de escolher entre cinco modalidades de formação (ou "percursos"), entre elas a modalidade técnica.

    "Este será um grande dilema que teremos de enfrentar", diz Deschamps, sobre a decisão da linha que o ensino profissional deve seguir. Ele explica que, de certa maneira, o mercado dita a oferta de cursos técnicos. Mas considerar só as demandas da indústria e dos serviços fará com que a educação fique estagnada no presente.

    Deschamps enxerga dois caminhos possíveis. Os cursos podem ser específicos para determinados setores, com aulas voltadas aos ofícios atuais, ou podem seguir uma linha mais abrangente. Neste caso, alunos seriam capacitados para lidar com os desafios do mercado de trabalho de maneira mais ampla.

    Para a presidente do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, esta será uma barreira na adaptação dos cursos técnicos, que têm uma oferta ligada à realidade profissional do século 20.

    "Vivemos uma reformulação do mercado de trabalho, com profissões novas surgindo o tempo todo", diz. "O pessoal da educação não é capaz de pensar sobre isso sozinho, vai ter de haver articulação com outras áreas."

    Apesar de o tema estar em debate na esfera federal, a implementação da reforma do ensino médio fica, majoritariamente, a cargo das redes estaduais. São elas que abrigam a maior parcela dos alunos de ensino médio.

    Para os Estados, no entanto, essa discussão parece distante. "O presente já nos desafia: há profissões em que temos dificuldades de formação no Brasil todo, principalmente na área de tecnologia da informação", diz Idilvan Alencar, presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).

    Alencar tem mais dúvidas do que certezas sobre a reforma. "Há questões mais básicas que devem ser respondidas em conjunto ao MEC: a maioria dos Estados não tem professores da área técnica, vai ser possível contratar?", questiona ele.

    Se a rede pública parece perdida, a rede privada já desenha algumas soluções.

    Segundo Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, ambas as instituições montaram grupos de trabalho que funcionam em alguns Estados, ainda como projetos piloto. Neste primeiro momento, o que se discute é a possibilidade de uma reorganização gradual da carga horária dentro dos cursos já existentes.

    No primeiro ano do ensino médio, por exemplo, o aluno teria 90% da carga horária destinada a conteúdos da base curricular comum, com os outros 10% voltados a aspectos gerais do curso técnico.

    No ano seguinte, a educação profissional ganharia 40% do tempo do aluno e, no último ano, o ensino técnico seria focado em um assunto específico (os que escolheram o curso de tecnologia da informação, por exemplo, poderiam ter aulas de programação de jogos digitais).

    PARCERIAS

    Algumas escolas da rede pública estadual também discutem, com Sesi e Senai, formas de estabelecer parcerias, assim como ocorreu na implantação de programas como o Pronatec.

    A cooperação aparece nos planos do Liceu de Artes e Ofícios –escola paulistana que tem tradição no ensino técnico. "Estamos iniciando conversas com escolas de ensino médio que ainda não oferecem a educação profissional, mas que podem se beneficiar do nosso know how", diz o coordenador pedagógico do colégio, Emerson Barreto. A instituição planeja ainda ampliar seu leque de oferta de cursos.

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