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    Tapeceiros produzem sofás 80% ecológicos com material tirado do lixo

    OLÍVIA FREITAS
    DE SÃO PAULO

    29/05/2015 02h00

    Diolindo Souza, 43, garimpa a matéria-prima do seu ganha-pão em um terreno de transbordo, onde caminhões da Prefeitura de Diadema depositam os entulhos recolhidos pela cidade.

    "Onde as pessoas veem um monte de lixo, eu vejo uma montanha de dinheiro", diz o piauiense. Tapeceiro há 15 anos, ele recolhe diariamente sofás, poltronas, guarda-roupas, colchões e madeiras descartados pela população nas ruas e em terrenos baldios.

    O destino final do material usado é a oficina do Projeto Okavango, onde é reformado o que está em bom estado, enquanto os itens mais detonados são desmontados e vão para reciclagem para dar vida a novos estofados.

    É assim que Souza fabrica os seus "sofás 80% ecológicos". Ele explica que quase todo o material utilizado na reforma e na produção é reciclado. As tiras que dão sustentação ao móvel, por exemplo, são feitas de pneus reaproveitados. Fios recortados de garrafas pets viram varais e servem para dividir os estofados, enquanto a espuma é reaproveitada de colchões.

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    Para finalizar a peça, o "tapeceiro verde" usa corino, um material sintético resistente, como revestimento.

    Por esse sistema, o Projeto Okavango recolhe das ruas e do terreno de transbordo cerca de 600 sofás abandonados por ano. Desses, 250 voltam ao mercado reformados e higienizados. O restante é desmontado para produção de novos.

    O tapeceiro que virou restaurador de sofás trabalha hoje ao lado de oito colegas, na forma de cooperativa, de onde saem de três a quatro jogos por dia.

    A produção é vendida na porta da oficina e em lojas de estofados. Recentemente, a turma potencializou o negócio vendendo os sofás ecológicos também em uma feira de economia solidária e pela internet. Os preços variam de R$ 480 a R$ 780, dependendo do tamanho.

    Antes, eles trabalhavam com dois cooperados e repassavam o produto apenas para lojas e tiravam entre R$ 250 a R$ 300 por cada um. "Não conseguíamos nem pagar a conta de luz", diz Sousa.

    Os sofás mais compactos são direcionados a moradores de casas e apartamentos de conjuntos populares. Quem compra um produto novo na cooperativa pode dar o seu antigo como parte do pagamento, abatendo até R$ 100 no preço final.

    Cada um dos nove tapeceiros da cooperativa recebe, em média, R$ 350 por semana. É o complemento de renda que o metalúrgico aposentado Jeová Gódoi, 70, buscava. "Minha meta de não fazer nada depois da aposentadoria não durou muito tempo. Não gosto de ficar parado. Fiz um curso de marcenaria e vim buscar emprego aqui", conta. Já botou a mão na massa no mesmo dia.

    Na cooperativa há dois anos, o pernambucano é um dos responsáveis por cortar as madeiras e montar as estruturas das peças, além de repassar o ofício aos novatos. "Aqui, o jogo é de ajuda." Por dia, Gódoi consegue montar até três jogos de sofás, que ele garante serem resistentes. "É uma beleza. Pegamos algo descartado na rua e não temos constrangimento em reaproveitar."

    Depois de mais de 30 anos de experiência como tapeceiro, Marco Aurélio Lima, 50, encontrou ocupação novamente na cooperativa, após passagens por diversas empresas. Por enfrentar problemas com alcoolismo, o cooperado tinha dificuldade em voltar ao mercado. "Aqui, a gente tem o nosso ritmo de trabalho, se diverte brincando e tenho liberdade para ser como sou."

    Para entrar na cooperativa, Sousa diz que dá preferência para pessoas em "situação de vulnerabilidade socioeconômica". Antes, os cooperados não encontravam espaço no mercado de trabalho, são aposentados, ex-viciados, jovens desempregados e trabalhadores sem profissão.

    ECONOMIA

    Há três anos o Projeto Okavango deu um salto em sua estrutura depois de passar pela incubadora da Casa da Economia Solidária, da Prefeitura de Diadema. Passou a adotar a economia solidária como modelo do empreendimento, a partir desse jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar seu produto.

    Nascida há 170 anos na Inglaterra, o modelo de economia solidária tem, hoje, no Brasil 1,5 milhão de trabalhadores ligados a cooperativas que trabalham a autogestão.

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