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    Casais doam embriões congelados a outras famílias

    TAMAR LEWIN
    DO "NEW YORK TIMES"

    11/07/2015 02h00

    Após anos de infertilidade, Angel e Jeff Watts encontraram uma doadora de óvulos para ajudá-los a ter um bebê. Eles fertilizaram os óvulos com o sêmen de Watts e conseguiram dez embriões bons.

    Quatro foram transferidos para o útero de Angel, resultando em dois casais de gêmeos –Alexander e Shelby, hoje com quatro anos, e Angelina e Charles, com menos de dois.

    Porém, restaram seis embriões congelados. Aconselhada por médicos, Angel Watts, 45, decidiu não ter mais filhos. Então, em dezembro, ela entrou no Facebook para tentar encontrar uma família próxima, no Tennessee (sudeste dos EUA), que os quisesse.

    "Temos seis embriões congelados de boa qualidade com seis dias para doar a casais que queiram uma grande família", publicou. "Preferimos pessoas casadas há vários anos em um relacionamento estável e amoroso, com tradição cristã, e que ainda não tenham filhos, mas queiram um barco cheio."

    Em centros de armazenamento em todos os EUA, existem cerca de um milhão de embriões preservados em tanques de nitrogênio líquido. Alguns estão armazenados para pacientes com câncer que tentam manter a possibilidade de ter uma família depois que a quimioterapia destruir sua fertilidade. No entanto, a maioria deles é a sobra da florescente indústria da reprodução assistida.

    Por isso, cada vez mais famílias, clínicas e tribunais enfrentam opções difíceis sobre o que fazer com eles –decisões que envolvem profundas questões sobre o início da vida, a definição de família e os avanços tecnológicos que abriram novas possibilidades reprodutivas.

    Desde o nascimento do primeiro bebê "de proveta" americano, em 1981, a fertilização in vitro, ao custo de US$ 12 mil ou mais por ciclo, cresceu até representar mais de 1,5% dos nascimentos americanos.

    Os casais geralmente ficam felizes em ter embriões a mais, que servem de garantia caso não engravidem depois das primeiras tentativas.

    "Mas se eu perguntar o que eles farão com eles, muitos dão uma resposta de Scarlett O'Hara: 'Vou pensar nisso amanhã'", disse Mark Sauer, do Centro para Tratamento Reprodutivo de Mulheres na Universidade Columbia, em Nova York.

    "Os casais nem sempre concordam sobre a situação legal e moral do embrião, sobre onde começa a vida e como a religião interfere. Muitos deles acabam chutando o balde no caminho."

    Muitos embriões ficam armazenados indefinidamente, a um custo de US$ 300 a US$ 1.200 por ano. Alguns clientes param de pagar as taxas e deixam que a clínica decida o que fazer.

    No entanto, a maioria das pessoas lida com as seguintes opções: usar os embriões para ter mais filhos; descongelar e jogá-los fora; doar para pesquisa; ou, como os Watts, doá-los a outra família.

    "No início, as pessoas podem pensar que os doarão para pesquisa ou para alguém que precise", disse Sauer. "Porém, depois que têm o bebê, elas mudam de ideia, achando estranho ter outro filho por aí, igual ao seu."

    Alguns casos acabaram no tribunal. No entanto, até agora, houve pouca consistência nas decisões judiciais sobre o destino de embriões.

    Em Illinois, os tribunais disseram que soluções para divergências devem ser previstas em contrato. No entanto, juízes de Massachusetts disseram que tais contratos não são aplicáveis. Ainda assim, a maioria dos tribunais apoiou as partes que não querem que os embriões sejam usados.

    Também há a dimensão religiosa. A fertilização in vitro e o congelamento de embriões são malvistos pela Igreja Católica. A maioria dos evangélicos aceita esse procedimento, mas acredita que os embriões congelados têm direito a vidas plenas.

    O GOVERNO É DE POUCA AJUDA

    Enquanto alguns países têm regras rígidas sobre a reprodução assistida, limitando quantos embriões podem ser congelados ou quantos podem ser transferidos de cada vez, o campo permanece de modo geral desregulamentado nos EUA.

    Apesar disso, a demanda continua crescendo.

    Para atendê-la, a clínica de fertilização in vitro de Ernest Zeringue em Davis, na Califórnia, tem um programa, chamado California Conceptions, que vai além da doação de embriões. O local cria embriões para a venda.

    A clínica compra óvulos e sêmen de doadores cujos perfis têm ampla aceitação –altos, magros, instruídos– e os combina para fazer embriões que são vendidos para três ou quatro famílias.

    Os doadores e os potenciais pais sabem que os embriões serão usados por várias famílias.

    Alguns médicos e advogados questionam se é ético uma empresa criar embriões que serão sua propriedade até que sejam implantados em uma paciente.

    Outros ficaram perturbados pelo toque de eugenia no fato de a companhia procurar os óvulos e o sêmen que sejam mais comercializáveis.

    Apesar disso, cresce o número de casais que deseja simplesmente doar seus embriões excedentes a outra família.

    Embriões doados foram usados em 1.084 transferências em 2013, contra 596 em 2009.

    "Está ficando mais comum as pessoas buscarem clínicas de fertilidade para ver se há embriões disponíveis para doação", disse Elizabeth Falker, advogada de Nova York. "Eu gosto disso. Dá a oportunidade de alguém ter uma família e usa embriões que de outro modo ficariam congelados para sempre."

    Duas semanas depois de Watts postar o aviso no Facebook, ela encontrou Rayn e Richard Galloway. "Nós conversamos pelo Skype e trocamos centenas de mensagens. Quando eles ligaram para dizer que queriam ir em frente, fiquei tão aliviada que chorei", disse Watts.

    Como os Watts, os Galloway tinham feito anos de tratamento contra infertilidade. Em 12 de maio, foram a Knoxville para ter três embriões transferidos para o útero de Rayn Galloway.

    Só dois tiveram sucesso no descongelamento, mas, finalmente, os Galloway teriam uma família.

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