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    Estudo põe em xeque obesos saudáveis ao comparar com magros sedentários

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    09/02/2016 02h00

    Uma pergunta que a ciência ainda está penando para responder: é possível ser "fitness" (estar em boa forma) e gordo ao mesmo tempo?

    A resposta óbvia seria que é melhor um obeso fazer atividade física a ser completamente sedentário.

    Mas a ciência não tem mais tanta certeza. Um novo estudo, divulgado recentemente na publicação científica "International Journal of Epidemiology" (assim como outros anteriores) indica que a obesidade é capaz de "anular" os benefícios dos exercícios.

    Em outras palavras: se um indivíduo é obeso, só a prática de exercícios não é garantia de uma vida mais longeva e melhor, ou seja, com menos doenças.

    Cientistas suecos da Universidade de Umeå acompanharam 1,3 milhão de homens jovens no país e, ao analisar os dados de acordo com os fatores obesidade e prática de exercício físico, constataram que quem era magro e sedentário tinha risco de morrer (por qualquer causa) 30% menor do que aqueles que eram obesos, mas estariam supostamente "em forma".

    O resultado seria o suficiente para decretar a supremacia da magreza –você não precisa se mexer, mas não pode ser gordo– mas não significa necessariamente que é melhor ser um gordinho sedentário a encarar exercícios.

    Karime Xavier/Folhapress
    O lutador de jiu-jítsu Luiz Rossini: 140 kg e IMC de obeso mórbido
    O lutador de jiu-jítsu Luiz Rossini: 140 kg e IMC de obeso mórbido

    LUTA

    O problema é que algumas pessoas continuarão acima do peso mesmo com a prática regular de exercícios físicos. Esse é o caso do lutador de jiu-jítsu Luiz Rossini, 42.

    Desde 2003, ele luta na categoria pesadíssimo –para atletas acima de 100 kg.

    Atualmente, ele está com 140 kg, espalhados em seus 1,83 m de altura.

    Seu IMC (índice de massa corporal) atual é de 41,8, o equivalente a obesidade mórbida. No entanto, ele treina cinco vezes por semana e já acumulou mais de 250 medalhas em campeonatos.

    "A gente não tem o padrão físico que a sociedade considera certo, mas eu tenho uma saúde muito melhor que a dos magrinhos", avalia.

    O problema do alto peso, diz Rossini, é o excesso de desgaste nos joelhos e também um desconforto na hora da corrida. "Corro menos porque carrego mais peso."

    Segundo ele, a tática é fazer o corpo se acostumar a trabalhar com a massa e conhecer os próprios limites. Ele afirma que faz check-ups anualmente para garantir que tudo está em ordem.

    Para a sorte de Rossini e de outros atletas gordinhos, está claro na literatura médica que, independentemente do peso, a prática regular de exercícios é benéfica. Morre-se menos de doenças cardiovasculares e de câncer, por exemplo.

    E há outros ganhos: "As pessoas acabam descobrindo a qualidade de vida. Mesmo sem emagrecer, há melhora no condicionamento cardiovascular, na força e na flexibilidade", diz o personal trainer Cássio Adriano Pereira. "Fica mais fácil ir para o trabalho, realizar atividades de lazer e até fazer uma viagem."

    O diretor técnico da rede de academias Bodytech, Eduardo Netto, relata que existem clientes que começam a se exercitar mesmo sem pensar no peso.

    Caso seja esse o objetivo, o exercício realmente vai ajudar pouco. "Fizemos um estudo no qual um grupo de voluntários treinava de fato e o outro apenas recebia orientação para ter uma vida mais ativa. Vimos que o exercício sistemático não contribui em nada para a redução da obesidade", diz o endocrinologista e professor da UFRGS Rogério Friedman.

    Para o médico, é importante "não dar uma ênfase muito grande ao exercício como solução para a obesidade". O jeito, para quem quer emagrecer, é "cuidar do que come".

    MOVIMENTO

    Na opinião de Netto, a chave para ser um gordinho saudável é tentar gastar mais energia, "não só com a prática de exercício regular, mas ao caminhar, passear com cachorro, ter um lazer que não implique em apenas descanso, estacionar o carro longe do destino, usar escadas e evitar o controle remoto".

    Outro estudo, realizado por pesquisadores da Universidade do Mississipi e publicado na última semana na revista "Preventive Medicine", acompanhou 11 mil pessoas de 36 a 85 anos por dez anos e viu que, independentemente da obesidade, quem fazia exercícios conseguiu reduzir o risco de mortalidade –no caso, não há discriminação desse risco por tipo de doença.

    A conclusão é otimista para quem pretende mexer as gordurinhas, mas não é inédita: do ponto de vista dos anos de vida ganhos, praticar exercício vale a pena, independentemente do nível de massa corporal de cada um.

    Estudos que acompanham o efeito crônico do exercício de milhares de pacientes por um longo período ainda são necessários, na opinião de Friedman. "A literatura médica ainda é muito pobre."

    Só assim, num futuro não muito distante, a ciência poderá identificar, sem grande margem para especulação, exatamente quais são os benefícios de ser magro e quais as vantagens de ser um "gordinho fitness".

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