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    mosquito aedes aegypti

    Armadilha ligada a aplicativo mapeia em tempo real infestação de Aedes

    RAFAEL GREGORIO
    DE SÃO PAULO

    05/05/2017 02h02

    WWF Brasil
    Técnicos visitam moradores de Rio Branco e ensinam a usar armadilha que captura ovos de Aedes e é usada associada a um aplicativo
    Técnicos visitam moradores de Rio Branco e ensinam a usar armadilha que captura ovos de Aedes

    Desde abril deste ano, moradores de Rio Branco, no Acre, estão colocando o Aedes aegypti no mapa.

    Literalmente: usando armadilhas, eles captam ovos do mosquito transmissor da dengue, da zika e da chikungunya, e, por meio de um aplicativo, contabilizam e mapeiam as ocorrências.

    A iniciativa é fruto de parceria entre desenvolvedores da ONG WWF-Brasil e da secretaria de saúde da cidade.

    Em palestras e visitas a comunidades, técnicos da ONG e agentes de saúde ensinam professores e moradores a baixar o aplicativo Aetrapp no celular. Também ensinam a montar armadilhas com fundos de garrafas PET (veja infográfico). Nelas, uma paleta de papel "segura" os ovos e depois é retirada e fotografada com auxílio do aplicativo.

    A partir daí, um algoritmo conta o número de ovos depositados e alimenta um mapa.

    O resultado é imediato: divididas por nível de gravidade, as infestações são georreferenciadas, permitindo que o governo direcione os agentes de saúde e que a população saiba em que bairros, ruas e quarteirões voa o perigo.

    "Virou assunto. Os alunos estão atentos à água parada ou qualquer coisa fora do padrão", conta Marilena Vieira da Silva, 47, professora de ciência na escola estadual Raimundo Gomes de Oliveira.

    Ela reuniu 30 estudantes que tinham celulares compatíveis e os instruiu sobre as armadilhas; 22 levaram o projeto adiante. Ela própria sofreu com o mosquito. "Peguei zika e até hoje tenho dores."

    Em 2016, a dengue somou 1,4 milhões de casos no país–queda de 5,5% frente a 2015. Foram 251 mil ocorrências de chikungunya, quase dez vezes a quantidade do ano anterior, e 208,8 mil registros de zika.

    Embora o Norte tenha registrado o menor número de casos (37.943) de dengue do país, metade de seus municípios estão em situação de alerta ou de risco, e Rio Branco, com notório histórico de infestação, está na lista.

    Na escola, só uma arapuca apontou ovos. Em outros lugares, porém, registraram até 90. "Deixa de ser aquela coisa de 'vire seus vasos'. A pessoa passa a acionar o governo ou fazer faxina", diz Marcelo Oliveira, 44, especialista em conservação do Programa Amazônia do WWF-Brasil.

    A proposta esbarra na falta de aptidão para a tecnologia. Celulares sem uma boa câmera também podem fazer com que o aplicativo considere a amostra como inválida.

    A iniciativa, por enquanto, está restrita a 200 moradores da capital do Acre e que são usuários de Android. Os testes devem durar oito semanas. A ideia é superar os obstáculos detectados e expandir para outras localidades.

    MAPEANDO O AEDES - Armadilha conectada a aplicativo permite mapear infestação do mosquito da dengue

    SEM MILAGRE

    O projeto nasceu em 2015, numa oficina de hardware e softwares livres na periferia do Distrito Federal.

    Desenvolvido naquele ano, ganhou um prêmio do Ministério das Comunicações e foi um dos dez vencedores do Desafio de Impacto Social Google 2016. Também foi uma das iniciativas escolhidas para ser exposta no Museu do Amanhã, no Rio.

    Com o apoio da empresa de tecnologia e de outras entidades, o Aetrapp custou cerca de R$ 975 mil.

    O Ministério da Saúde não informou quanto é investido por ano em outro projeto, o LIRAa (Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti), que identifica os locais onde há focos do mosquito.

    Um acordo em fevereiro entre ministério, governadores e prefeitos tornou o LIRAa obrigatório em todo o país, sob pena de bloqueio de verbas federais para os municípios combaterem o Aedes.

    "O último LIRAa em Rio Branco foi em dezembro. Estamos em maio. Os agentes estão trabalhando com cenário que pode ter mudado", diz Odair Scatolini Jr., 38, coordenador científico e tecnológico e idealizador do Aetrapp.

    "Outra diferença entre os sistemas é que a contagem de ovos é automática, por algoritmo", compara José Ferreira Neto, 55, chefe da divisão de Endemias e Controle de Vetores da secretaria de saúde de Rio Branco. "No LIRAa, nós contamos larva por larva em um microscópio."

    Tudo sobre: o mosquito

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