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    Titular contra Holanda em 1998, Zé Carlos reclama de tratamento da imprensa

    GUSTAVO S. FERREIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    02/07/2010 08h42

    Titular na lateral-direita do Brasil na semifinal da Copa de 1998, Zé Carlos, 40, foi uma surpresa na lista de Zagallo para o Mundial da França. Famoso por ter substituído Cafu contra a Holanda e por imitar animais na concentração, o ex-jogador revela tristeza com o modo com que sua história é contada.

    "Me chamam de 'coitado', colocam 'pernas trêmulas' na legenda da minha foto... Não aconteceu nada disso! Sempre tive muita personalidade!", desabafou o ex-atleta em entrevista a Folha.

    Um ano antes de conquistar o Paulistão pelo São Paulo e o vice-campeonato mundial pelo Brasil, Zé Carlos ganhou o título da segunda divisão do Campeonato Paulista.

    "Foi tudo rápido na minha carreira. Foi um presente maravilhoso participar daquele grupo", diz o ex-atleta, que se profissionalizou apenas aos 21 anos. Jogando na várzea de Osasco, na Grande São Paulo, até 1991, soube de uma peneira no São José-SP naquele ano e resolveu "arriscar", sendo aprovado por Emerson Leão.

    Se não acreditava em ser escolhido pelo ainda iniciante treinador, tampouco esperava ser chamado por Zagallo, após ouvir nos bastidores que o preferido do treinador era Flávio Conceição. A informação estava correta, entretanto, foi surpreendido pela contusão do primeiro selecionado.

    /Reuters
    Zé Carlos, entre Denílson e Junior Baiano, durante disputa de pênaltis em 1998
    Zé Carlos, entre Denílson e Junior Baiano, durante disputa de pênaltis em 1998

    "Estava treinando e me tiraram do campo correndo, a imprensa veio toda falar comigo. Dei entrevista até às 9h da noite", relembra, confessando a ajuda da sorte. "Ele [Flávio Conceição] tinha melhorado, mas o aviso não chegou a tempo na CBF. O Flávio poderia ter ido", revela.

    Único entre os 23 convocados a nunca ter jogado no exterior, o ex-lateral diz ter sido bem recebido pelo badalado grupo daquela seleção --que incluía Ronaldo, Roberto Carlos, Rivaldo e Romário, posteriormente cortado. "Eu era igual a eles [outros convocados]. Um ou outro tinha mais nome, mas isso não fez de mim inferior", assegura.

    Brasil x Holanda

    Nas quartas de final de 1998, a difícil vitória do Brasil sobre a Dinamarca (3 a 2) rendeu a Cafu o segundo cartão amarelo, sendo suspenso. Assim, o improvável aconteceu mais uma vez na vida de Zé Carlos. Se a convocação não era cogitada, entrar no lugar do intocável lateral-direito, menos ainda.

    "Na hora que ele [Cafu] levou o cartão, logo pensei que jogaria, mas dormi sem saber. Não me falaram nada no dia. Só no treino o Zagallo falou comigo", conta. Questionado sobre uma possível tensão na única partida que fez pela seleção, tida, por muitos, como uma das maiores de toda a história do futebol, Zé Carlos se mostra contrariado.

    "Eu sou ser humano. Deu aquele 'geladinho' em mim na partida, mas isso de tremer não existe. A adrenalina que deu em mim é a mesma que dava no Pelé, e que daria em qualquer um", compara.

    Zé Carlos entende que o Brasil tem uma difícil tarefa contra a Holanda nesta sexta-feira, assim como foi a classificação nos pênaltis, após o empate em 1 a 1 de 1998. Os obstáculos, para ele, serão agravados pela baixa qualidade técnica da equipe que esta na África do Sul.

    "Em termos de resultados, o Dunga está de parabéns, embora o time dele não tenha mostrado o que queríamos ver. O nível técnico não é bom, mas acredito que o Brasil passa. Ganha por 1 a 0, com gol de Luis Fabiano", palpita.

    De volta a várzea

    Assim que voltou da França, Zé Carlos chegou a ser sondado por clubes do Japão, mas não foi negociado. No Grêmio, foi ainda campeão gaúcho, rodando depois por diversos times e encerrando a carreira profissional no Noroeste-SP, em 2005.

    Hoje, o paulista nascido em Presidente Bernardes treina duas vezes por semana e joga pelo clube amador da ADPM (Academia Desportiva da Polícia Militar). "Pegamos times com idade bem abaixo da gente, e ainda fazemos a moçada correr para ganhar", se diverte. Empenhado na formação de novos talentos, atua também em um projeto social junto à Prefeitura de Osasco.

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