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    Friedenreich deixou a bola e liderou batalhão na Revolução de 1932

    LUCAS REIS
    DE SÃO PAULO

    08/07/2012 04h41

    O mais famoso jogador de futebol de sua época no Brasil um dia deixou a bola de lado para ir à guerra. Liderou um batalhão com quase 3.000 outros atletas e foi promovido a segundo tenente. Arthur Friedenreich tinha 40 anos de idade, e 20 de futebol, quando decidiu apoiar a Revolução Constitucionalista de 1932, cujo início completará 80 anos na segunda-feira.

    Fried, como era conhecido, foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro, multicampeão pelo Paulistano. E liderou um movimento dentro da Revolução paulista: o Batalhão Esportivo.

    Milhares de atletas, não só os jogadores de futebol, uniram-se à causa paulista. Alguns, para isso, abriram mão da participação na Olimpíada de Los Angeles, que aconteceria no mesmo ano.

    Fabio Braga/Folhapress
    Objetos e uniforme usados por Arthur Frienderich na Revolução de 1932
    Objetos e uniforme usados por Arthur Frienderich na Revolução de 1932

    Friedenreich foi até uma rádio e fez um apelo aos colegas esportistas para que se unissem à causa. Mais: doou suas medalhas e troféus para ajudar a financiar a luta armada contra Getúlio Vargas.

    "Os clubes se envolveram na guerra e liberaram seus atletas. O Campeonato Paulista foi interrompido. A adesão de Friedenreich deu ânimo para a causa", declarou o historiador Eric Lucian Apolinário, que há cinco anos pesquisa o assunto.

    Em 19 de julho de 1932 a "Folha da Noite", uma das publicações que deram origem a esta Folha, contou como os times da capital se envolveram. Era no campo da Floresta, antigo estádio do São Paulo, que os exércitos se reuniam. O Corinthians colocou à disposição seu "Departamento de Educação Physica, todas as suas instalações, tanto a sua sede, como sua praça de esporte".

    O Sirio disponibilizou sua sede para distribuir cartões da mobilização. E o Ipiranga ofereceu seu espaço para a Cruz Vermelha.

    Fried e seu batalhão foram enviados a Eleutério, distrito de Itapira, divisa com Minas Gerais, para se juntarem a outros batalhões no combate. Embarcaram da Estação da Luz no dia 1º de agosto para a batalha. "O famoso Arthur Friedenreich passou garboso, ostentando seus galhões de sargento, tendo recebido uma enorme aclamação de seus prediletos", relata a edição da "Folha da Noite".

    Resistiram durante 25 dias antes de sofrerem um bombardeio aéreo e deixarem o local, conta Apolinário. "Estima-se que havia 55 mil soldados do exército federal e outros 30 mil das policias estaduais, portanto, 85 mil. Do outro lado, 30 mil soldados constitucionalistas, dos quais 10 mil eram voluntários. Não tinham nenhuma experiência militar", conta o historiador Marco Antônio Villa, professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e autor de "1932: Imagens de uma Revolução".

    A Revolução terminou no dia 4 de outubro e deixou um legado para o futebol. No ano seguinte, o Campeonato Paulista se profissionalizou. E os jogadores, que tinham uma imagem marginalizada até então, ganharam mais respeito perante a sociedade.

    "Imiteis meu gesto, inscrevendo-vos na Mobilização Esportiva, a fim de que todos juntos defendamos a causa sagrada do Brasil. Tudo por São Paulo num Brasil unido!", declarou Fried em seu discurso às rádios paulistas.

    Folhapress
    Arthur Friedenreich em foto de arquivo
    Arthur Friedenreich em foto de arquivo

    VITÓRIA POLÍTICA

    Feriado mais importante de São Paulo, a Revolução de 1932 durou quase três meses até a rendição paulista e foi uma reação ao cenário político de Getúlio Vargas.

    "O foco foi justamente a questão democrática, a convocação de uma constituinte. São Paulo teve uma derrota militar, mas uma vitória política", conta o historiador Marco Antonio Villa.

    Pois no ano seguinte foram realizadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte --quando as mulheres votaram pela primeira vez. E, em 1934, começou o processo de uma nova Constituição no país.

    Segundo Villa, estima-se que a revolução provocou entre 1.500 e 2.000 mortes.

    "A memória da revolução ficou mais guardada no interior do que na Capital. O Obelisco do Ibirapuera está abandonado", disse. "Infelizmente é uma história desconhecida da maior parte dos brasileiros. O regime militar acabou apagando um pouco a data."

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