O ex-ciclista americano Lance Armstrong admitiu em entrevista para a apresentadora Oprah Winfrey, transmitida na noite desta quinta-feira (17), que consumiu todo tipo de substâncias proibidas desde meados dos anos 1990 e se submeteu a transfusões de sangue para ocultar os rastros do doping.
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- Leia a íntegra da entrevista (em inglês)
- Veja a entrevista dada a Oprah (em inglês)
Nas primeiras perguntas feitas no formato de "sim ou não", Armstrong reconheceu que conquistou seus sete títulos da Volta da França dopado e que não se sentia mal por isso. "Eu não via isso como uma trapaça", afirmou.
O ex-atleta justificou suas ações com o argumento de que se vivia então a "cultura" do doping dentro do esporte, tanto no ciclismo como em outras disciplinas. "Tomei minhas próprias decisões. São meus erros. Estou aqui sentado para reconhecer isto e dizer que lamento".
Armstrong admitiu que tem "falhas de personalidade" e que se deixou levar pela "arrogância" e o pelo "desejo de vencer" a qualquer preço.
"Estou aqui para reconhecer meus erros e pedir desculpas. Os cinco que não se doparam naquelas Voltas da França foram os verdadeiros heróis. Nosso sistema era profissional e inteligente, sem riscos, com precaução, mas não foi o maior. Não inventei essa cultura, mas não fiz nada para detê-la", afirmou.
O ciclista reconheceu que cometeu excessos com outras pessoas para defender suas vitórias e sua equipe, mas garantiu que jamais obrigou outros atletas a tomar doping. Após se aposentar em 2005, Armstrong retornou ao Tour de France em 2009, quando ficou na terceira posição, e em 2010.
Sobre as duas últimas provas na França, o ciclista garantiu não ter tomado doping.
MAIS FRASES DE ARMSTRONG NA ENTREVISTA
Sobre o que o levou a mentir por tantos anos, ele disse: "Não sei se tenho uma grande resposta. É tarde demais, provavelmente para a maioria das pessoas, e é minha culpa. Vejo essa situação como uma grande mentira que repeti muitas vezes".
"Esta história é tão ruim... Tão tóxica. Não é que eu tenha dito que não e deixado para lá. Embora eu tenha vivido esse processo, sei a verdade. A verdade não é o que eu disse, e agora já era."
"Não inventei a cultura, mas não tentei impedir a cultura", declarou. "É difícil falar sobre a cultura. Não quero acusar ninguém. Estou aqui para admitir meus erros. Vou passar o resto da vida tentando recuperar a confiança e pedindo desculpas às pessoas."
"Eu vi a definição de trapaça como sendo tirar vantagem. Eu não via dessa forma. Via como nivelar o campo de disputa."
"A coisa mais importante é que estou começando a entender. Eu vejo a raiva das pessoas...", disse. "Estas eram pessoas que me apoiavam, acreditavam em mim e têm todo o direito de se sentirem traídas. Algumas se foram para sempre, mas eu vou trabalhar para sempre para recuperar a confiança."
FIM DO SILÊNCIO
Esta é a primeira vez que o ex-atleta americano fala do assunto desde que foi banido do esporte, no ano passado, e teve seus títulos cassados.
Na tarde da última segunda (14), Armstrong já havia pedido desculpas para os funcionários mais próximos de sua fundação Livestrong, antes de quebrar o silêncio publicamente.
Em 10 de outubro passado, um relatório da Usada (agência antidoping dos EUA) apontou o envolvimento dele no "mais sofisticado, profissionalizado e bem sucedido programa de dopagem que o esporte já viu", envolvendo esteróides anabolizantes, hormônios do crescimento humano, transfusões de sangue e outras infrações.
Menos de duas semanas depois, as sete vitórias de Armstrong na Volta da França foram anuladas, e ele foi banido do ciclismo pelo resto da vida, já que a União Internacional do Ciclismo ratificou as sanções da Usada contra ele.
Em novembro, Armstrong, sobrevivente de um câncer de testículo, renunciou ao cargo de conselheiro da ONG Livestrong, voltada para o combate ao câncer, que ele fundou em 1997.