• Esporte

    Sunday, 12-May-2024 23:28:38 -03

    Californiano se consagra com filmes que o mostram escalando paredões

    ANDREA MURTA
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE WASHINGTON

    28/12/2014 02h00

    Half Dome
    Alex Honnold na prática do "free solo" (sem proteção) na Califórnia
    Alex Honnold na prática do "free solo" (sem proteção) na Califórnia

    O californiano Alex Honnold, 29, passa boa parte do tempo escalando paredões rochosos de mais de meio quilômetro de altura sem corda, parceiro ou qualquer proteção. Considerado o maior atleta atual neste estilo de escalada, o "free solo", ele sabe que o preço de um erro pode ser a morte.

    Mesmo para Honnold, porém, percorrer 1.100 km de bicicleta para escalar 45 torres de pedra pelo deserto do Colorado, Utah, Novo México e Arizona (EUA) em menos de um mês não soa nada fácil. Foi o que ele fez neste ano, ao lado do também escalador e cineasta Cedar Wright. A aventura é retratada no filme "Sufferfest 2", que eles exibiram neste mês em eventos lotados por cidades dos EUA.

    Sufferfest ("festival de sofrimento", em tradução livre) é quase uma franquia: no primeiro filme da série, de 2013, Honnold e Wright escalaram 14 picos da Califórnia com mais de 14.000 pés (4,2 km) de altitude. Também pedalaram 1.200 km e acumularam outros 160 km a pé.

    Desta vez, além de escaladas mais complexas, enfrentaram tempestades de areia, frio e muito cansaço. "A melhor parte é terminar", disse Honnold à Folha, por telefone, da Califórnia. Mas o humor dos filmes deixa claro que eles adoram os desafios. "Aceito a dor como parte do processo. Nunca gostei do nome Sufferfest' porque é bem divertido."

    Não há previsão de estreia do filme no circuito brasileiro, mas é possível comprá-lo pelo site Vimeo.

    Editoria de arte/Editoria de Arte/Folhapress

    NO LIMITE

    Em ambos os filmes, Cedar Wright elogia o "free solo" como "a forma mais pura" de escalada. As imagens ao mesmo tempo hipnotizam e aterrorizam: o estilo é, de longe, o mais perigoso do esporte, normalmente focado em levar atletas montanha acima de forma segura.

    Devido ao risco e ao desafio técnico, a estimativa informal é que menos de 1% dos escaladores tente o "free solo". Vários morreram em quedas, caso de Derek Hershey, em 1993, e do lendário John Bachar, em 2009.

    Mas Honnold, atraído pelo desafio e pela simplicidade do estilo, insiste que sabe do que é capaz. "Não faço free solo' em nada que não saiba de antemão que consigo terminar", disse. "Treino antes e não escalo no limite da minha habilidade. Há muitas rotas fáceis que eu jamais farei sem proteção." Além disso, conta, ele usa cordas em 95% das escaladas.

    Honnold não é o primeiro a fazer "free solo" e nem o melhor do mundo em dificuldade (chega "só" em torno do grau 11). Mas entrou para a história ao completar sem cordas vias cada vez mais difíceis (em torno do grau 10) e longas, nas quais é preciso vencer o cansaço e manter a concentração por horas a fio.

    É impossível vê-lo em ação sem revirar o estômago. Foi o primeiro escalar sem corda os 530 m do paredão El Sendero Luminoso, no México, e um dos poucos a se arriscar sem cordas nos 600 m do Half Dome, na Califórnia.

    A filmagem da ascensão ao Half Dome pelo icônico programa de TV americano "60 Minutes" foi indicado ao prêmio Emmy em 2012.

    Mas o desafio à morte também causa problemas. Ele perdeu em novembro o patrocínio da empresa de barras energéticas Clif Bar, que disse não querer mais "colher benefícios dos riscos que certos atletas correm em áreas do esporte nas quais não há margem de erro".

    Hoje, ele se diz cansado da polêmica. "'Free solo' e risco estão no coração da escalada", afirma.

    Aos que temem sua morte precoce, afirma que pretende chegar à velhice e criar uma família. Por ora, porém, quer seguir escalando pelo mundo (no Pão de Açúcar, inclusive) e promovendo a Fundação Honnold, que criou para apoiar programas ambientais. E, claro, se preparando para "Sufferfest 3".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024