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    Copa Libertadores

    Ex-presidente do Atlético-PR diz que o futebol brasileiro 'está um lixo'

    LUIZ COSENZO
    ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

    05/07/2017 02h00

    Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress
    O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia
    O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia

    Mário Celso Petraglia, 73, representa a principal força política do Atlético-PR, que nesta quarta (5), às 19h15, enfrenta o Santos no jogo de ida das oitavas de final da Libertadores, em Curitiba. Há 21 anos no clube, ele é categórico ao afirmar que o futebol brasileiro "está um lixo" e que falta "coragem aos dirigentes para mudar isso".

    Sem papas na língua, o atual presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-PR afirma que a salvação é a criação de uma liga de clubes.

    Com declarações polêmicas, Petraglia colecionou inimigos e desafetos, mas também a idolatria de atleticanos, cartolas e torcedores.

    Em 1997, o dirigente apareceu em escutas em suposto esquema de venda de resultados. Uma gravação mostrava Ivens Mendes, que presidia a Conaf (Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol), pedindo uma quantia em dinheiro para favorecer o clube paranaense em jogo contra o Vasco nas oitavas de final da Copa do Brasil. Petraglia disse na época que foi coagido por Mendes. O caso foi arquivado.

    *

    Folha - Como analisa o futebol brasileiro atualmente?
    Petraglia - Está um lixo. Nosso campeonato está nivelado por baixo. A nota do nosso futebol é 3. Nós [Atlético-PR] também estamos dentro desse contexto. São muitos jogos consecutivos, o que atrapalha o rendimento. Estamos aí disputando Libertadores, Copa do Brasil e Série A. Jogamos de três em três dias.

    E qual é a solução para isso?
    A formação de uma liga é a única solução. O país poderia ter a segunda liga nacional mais bem sucedida do mundo, só perdendo da inglesa. Nosso PIB (Produto Interno Bruto) é maior ou igual ao da Inglaterra [na verdade, segundo dados do Banco Mundial, o PIB do Brasil em 2016 foi 31% menor que o do Reno Unido]. É só copiar. Você acha que perderíamos para o Espanhol ou para a liga alemã?

    O problema é que os dirigentes brasileiros não são unidos. Levam para as reuniões seu próprio interesse e a rivalidade. São torcedores. Não temos união e objetivos definidos.

    Os clubes estão perdendo a chance de serem autossuficientes há muitos anos. Eu vejo muitos dirigentes que têm ideia parecida, mas falta coragem. Têm medo de serem prejudicados pela arbitragem e pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

    O senhor não tem medo?
    Eu tenho medo, mas eu domino o meu medo. Não deixo o medo me dominar. Vou para o enfrentamento.

    O Atlético-PR é um dos fundadores da Primeira Liga. Por que o clube desistiu de disputar a competição neste ano?
    Os objetivos da Primeira Liga foram deformados, deturpados, violentados. Era para criar um produto novo, valorizado, com os principais clubes brasileiros do Rio, Curitiba e Minas Gerais, e diminuir os Estaduais, que estão falidos, liquidados. Mas a força da CBF em relação ao calendário e da Globo nos liquidou e os clubes se renderam. A Globo tem interesse em quatro estaduais apenas: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O resto é o resto.

    Os Estaduais deveriam acabar?
    Tem que mudar o modelo. Tem que ver uma forma de financiar os Estaduais para que eles sejam disputados o ano inteiro e por times sub-23. Não adianta ter 18 datas dentro do Estado. Os clubes montam os times nos primeiros meses e depois desmontam.

    Jason Silva/AGIF
    Jogadores do Atlético-PR e Coritiba aguardam início de jogo que seria transmitido pela internet
    Jogadores do Atlético-PR e Coritiba aguardam início de jogo que seria transmitido pela internet

    O que achou do resultado da transmissão do clássico contra o Coritiba pelo YouTube?
    Esse é o caminho. Teria repercussão muito melhor se tivesse sido realizado no domingo, quando a federação nos boicotou e não deixou fazer o jogo. Foi sacanagem pura da Globo e da federação.

    Depois quando fizemos no domingo concorreu com as finais de campeonato na transmissão aberta. Mesmo assim, os índices foram altíssimos. No primeiro jogo, foram 2,3 milhões de visualizações e no segundo 1,6 milhão.

    O senhor critica a Globo...
    O problema é que fomos dominados nesses 30 anos pelo monopólio da Globo e o cartel da CBF e das federações. Eles olham o interesse deles e não o dos filiados. Para que precisamos de federações como a paranaense, que cobra 10% da nossa receita? Estamos sendo explorados por esse sistema e isso precisa ser mudado. A CBF tem que cuidar da seleção e da base.

    Acha que o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, deveria sair por causa das acusações de corrupção contra ele?
    Existe a presunção da inocência. Agora, existe uma investigação nos EUA. Ele deveria sair até que se prove se é inocente ou não. A CBF está preocupadíssima para saber como vai retomar seus patrocinadores. Eu falei que só tem uma forma, que é credibilidade. Tem que sair para a rua e vender credibilidade. Como um cara que não pode sair do país vai vender credibilidade? Qual empresa que quer investir no futebol hoje? A maioria dos clubes está sem patrocinador. Se a Caixa sair, acabou.

    Como vê a distribuição das cotas de televisão no futebol brasileiro?
    O Atlético-PR recebe aproximadamente R$ 50 milhões. O Flamengo tem R$ 170 milhões para disputar a mesma competição. No pay-per-view a distribuição é como eles querem. O Flamengo recebe R$ 3,2 milhões por partida e o Atlético-PR R$ 150 mil. Os clubes brasileiros não pensam no todo. Cada um olha o seu lado. Pensa em aumentar a sua fatia. Quanto maior for a fatia do Flamengo e menor a dos outros times, a possibilidade deles ganharem é maior. O Flamengo está pagando contas de erros do passado. Quando quitar as dívidas, vai ganhar tudo. O Corinthians menos, por conta do pepino do estádio. Na Europa, os clubes ainda têm um aditivo de 25% a 30% de acordo com a performance. Aqui, a diferença na cota de televisão é de um para vinte.

    O Atlético-PR tem o projeto de disputar o Mundial até 2024. Como é esse projeto?
    Fomos campeões do Brasileiro em 2001, vice-campeão da Libertadores em 2005, com menos de dez anos de projeto. Alcançamos resultado no futebol porque os outros são muito ruins. Foi muito mais incompetência dos outros do que nossa.

    Por conta da crise moral, ética, econômica que atinge o Brasil há anos, não vendemos nada do nosso estádio. Desde setembro de 2014, quando a Fifa devolveu o estádio, estamos investindo, arrumando o estádio. Tivemos R$ 150 milhões de superavit nos últimos três anos. Foi tudo no estádio. Agora, terminado o investimento patrimonial, isso aqui vai para o futebol automaticamente. Com toda essa estrutura, todo esse trabalho, toda a tecnologia, um clube sem dívida, é para ser campeão brasileiro e brigar pelo título do Mundial de Clubes.

    O que acha das torcidas organizadas e qual a relação do Atlético-PR com elas?
    Tem que ser controlada. Se não existisse seria melhor. Nossa relação com a nossa torcida organizada é boa. Fizemos um acordo de interesse. No local que destinamos para a torcida organizada só entra sócio. Não vendemos ingressos para aquele local. Nunca financiei e nem dei nada para eles. Só em 1995, quando eles tinham uma sede dentro do estádio e financiei uma para eles.

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