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    Copa do Mundo 2018

    Brecha no ranking da Fifa prejudica seleções que jogam muitos amistosos

    ALEX SABINO
    DE SÃO PAULO

    09/10/2017 02h00

    Agencja Gazeta/Reuters
    Football Soccer - Poland v Denmark - World Cup 2018 Qualifier - National Stadium, Warsaw, Poland - 8/10/16. Poland's Robert Lewandowski celebrates after scoring against Denmark. Agencja Gazeta/Kuba Atys/via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. EDITORIAL USE ONLY. POLAND OUT. NO COMMERCIAL OR EDITORIAL SALES IN POLAND. FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. THIS IMAGE HAS BEEN SUPPLIED BY A THIRD PARTY. IT IS DISTRIBUTED, EXACTLY AS RECEIVED BY REUTERS, AS A SERVICE TO CLIENTS ORG XMIT: KP
    Lewandowski, artilheiro da Polônia, fez gol no jogo da classificação da seleção para a Copa

    Ao examinar o ranking da Fifa, o estatístico romeno Eduard Ranghiuc percebeu existir uma brecha na equação. Não é benéfico para as seleções jogar amistosos. Mesmo que vençam.

    "A conta é simples. O time que quiser ficar entre os melhores não deve jogar amistosos. A seleção que desejasse ser cabeça de chave no sorteio dos grupos da Copa deveria tê-los evitado ao máximo", disse Ranghiuc à Folha.

    Ele identificou o problema ao analisar como seria possível ajudar a Romênia a subir no ranking da entidade. Entrou em contato com a federação local e sugeriu que adotassem a estratégia. Apesar de desempenho discreto em campo, o time foi cabeça de chave no sorteio das eliminatórias para o Mundial de 2018.

    A lista da Fifa, a ser divulgada no próximo dia 16, vai definir os cabeças de chave dos grupos para a Copa da Rússia. Serão os sete melhores colocados do ranking (além da Rússia, país-sede). O sorteio será em 1º de dezembro, em Moscou.

    "Olhe quantos amistosos a Suíça fez nos últimos 12 meses. Você vai entender", explica Ranghiuc.

    Foi apenas um. Vitória sobre a Bielorrússia por 1 a 0, em junho deste ano. No ranking de setembro, a equipe está em 7º.

    Pela situação atual, é possível que os campeões mundiais França, Espanha, Inglaterra e Itália não sejam cabeças de chave e caiam em em grupos mais difíceis. Podem enfrentar Brasil, Argentina ou Alemanha, por exemplo. A Polônia (6ª colocada), com um amistoso jogado nos últimos 12 meses, será.

    A Inglaterra ignorou a matemática há quatro anos. Ranghiuc, que mantém um site de estatísticas no futebol, escreveu para a federação do país em 2013 advertindo que deveria evitar amistosos.

    Os ingleses jogaram cinco partidas não competitivas nos 12 meses antes da definição do sorteio para a Copa de 2014: contra Suécia, Brasil (duas vezes), Escócia e Irlanda. Calculados os pontos, descobriram que se tivessem seguido o conselho do romeno, seriam cabeças de chave. Caíram em chave com Itália, Uruguai e Costa Rica. Acabaram eliminados.

    "Há momento em que o ranking é relevante: 12 meses antes da definição de cabeças de chave de torneios ou eliminatórias. Deve-se trabalhar com isso", avisa.

    O SEGREDO

    A lista é montada a cada mês de acordo com equação montada pela Fifa. Leva em conta resultados das seleções nos últimos quatro anos. Apenas os placares dos 12 meses anteriores são computados 100%.

    A pontuação do jogo é calculada com três pontos por vitória, um por empate e zero por derrota. Estes são multiplicados pela força do rival (usando para isso a posição no ranking), a confederação a que está filiado e a importância da partida. Este componente é o que muda tudo.

    Jogo de Copa do Mundo, vale quatro. De torneio continental (como Copa América, por exemplo), três. Eliminatórias, 2,5. Amistoso, um.

    O amistoso prejudica a seleção porque a pontuação dos últimos 12 meses é somada e divida pelo número de jogos. Vale a média.

    Em novembro de 2016, a Itália fez amistoso com a campeã mundial Alemanha e empatou em 0 a 0. Recebeu 196,02 pontos. Três dias antes, em eliminatória, obteve óbvia vitória sobre Liechtenstein. Ganhou 371,25 pontos.

    Neste caso, para o ranking, vencer Liechtenstein valeu bem mais do que empatar com campeã mundial.

    "Tem de escolher a hora certa, dentro de janela que não vá influir na pontuação antes do sorteio. A França não fez isso", diz Ranghiuc.

    Nos últimos 12 meses, a equipe francesa seguiu cartilha de tudo o que o romeno acredita dever ser evitado. Jogou amistosos demais e teve resultados ruins. Ganhou de Inglaterra e Paraguai, empatou com Costa do Marfim e perdeu para Espanha.

    Essas partidas fizeram com que a média de pontos nos últimos 12 meses caísse 182 pontos. Computados apenas as eliminatórias, a França (8ª colocada) estaria em 3º.

    Amistosos oferecem benefícios técnicos, claro. Servem para testar formações, atletas e entrosar a equipe. Ranghiuc diz haver uma solução.

    "Basta combinar com o adversário para que o jogo tenha mais de seis substituições. Isso o tornará inválido para o ranking. Perder um amistoso oficial, já que a pontuação será zerada e a partida contará na média, é catastrófico antes da definição das cabeças de chave de um Mundial", aconselha.

    A UEFA vai realizar a Liga das Nações a partir de 2018. Não está definido o impacto que terá no ranking. A Folha enviou e-mail sobre isso à Fifa, mas não obteve resposta.

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