Há 17 anos, em março de 1996, um acidente aéreo tirou a vida dos integrantes da banda Mamonas Assassinas.
Naquela época, não era a Xuxa ou as músicas do Balão Mágico que faziam sucesso entre as crianças. Era o sexo dos elefantes, um tal de Robocop Gay e uma brasília amarela que estavam na ponta da língua da garotada.
O sucesso durou pouco, apenas oito meses. Mas o grupo, formado por Dinho, Samuel, Sérgio, Bento e Júlio, virou celebridade.
Em 1º de dezembro de 1995, a "Folhinha" convidou quatro crianças para conversar com os Mamonas. Os meninos e as repórteres Paula Medeiros de Oliveira e Rosangela de Moura esperaram mais de uma hora para que a banda aparecesse para entrevista.
Leia a íntegra do texto publicado abaixo.
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Reprodução |
Capa da Folhinha de 1º/12/95 |
Conseguir uma entrevista com o grupo Mamonas Assassinas foi uma guerra. Os Mamonas estão tão famosos, que a agenda de shows está lotada e há até convites para apresentações em Portugal.
Depois de muitos e muitos telefonemas para a assessoria de imprensa (pessoa que marca entrevistas com jornalistas), a gravadora e o empresário do grupo, a Folhinha conseguiu um encontro com a banda. A entrevista foi marcada para o sábado, dia 25, às 14h. Mas o grupo só chegou às 15h30.
Os rapazes foram muito simpáticos, mas o pessoal que trabalha com eles quase não deixou os repórteres fazerem a entrevista. Conseguir a foto que está na capa também deu um trabalhão.
O grupo faz tanto sucesso entre as crianças, que os entrevistadores --Anna Turra Ajzenberg, 10, Tiago Scrivano, 11, Deborah Lia Corrêa Pinto, 9, e Felipe Altenfelder, 10-- quase não se incomodaram com a espera.
Finalmente, antes de subir ao palco em um ginásio de esportes, em São Paulo, o grupo Mamonas Assassinas conversou com a Folhinha. Leia a seguir trechos da entrevista.
Anna - Qual é o maior sonho de vocês?
Dinho - Maior sonho? Montar uma banda, fazer sucesso e vender 1 milhão de discos. Mas a gente sabe que isso é muito difícil.
Tiago - Não. Qual o maior sonho agora?
Sérgio - Agora é manter isso.
Dinho - E chegar a 2 milhões de discos vendidos.
Deborah - Algum de vocês já foi convidado para uma suruba?
Dinho - Mas que pergunta é essa? Claro que não.
Rosangela - Você está respondendo por todo mundo da banda?
Dinho - Sim. Eu sou o porta-aviões da banda.
Felipe - De onde vocês tiram as ideias para as letras das músicas?
Dinho - A maioria das músicas fala de situações do cotidiano. Mas a gente coloca o nosso jeito de ver a coisa. Às vezes, o que pode ser uma tragédia, como a migração nordestina, por exemplo, a gente dá o nosso enfoque. Assim, a coisa fica mais engraçada.
Júlio - A gente vê as tragédias do dia a dia de um jeito engraçado.
Anna - Quando você fez sua primeira música?
Dinho - A primeira música, "Pelados em Santos", é de 1991.
Deborah - Quem ficou pelado em Santos? (risos)
Dinho - Eu mesmo! Essa menina só pergunta pornografia. Vocês viram? Só pensa naquilo... (risos)
Felipe - Que esporte vocês praticam?
Dinho - Todo mundo aqui adora futebol, uns mais, outro menos. Os que gostam menos não sabem jogar. É o caso do Júlio e do Bento.
Tiago - Pra que time vocês torcem?
Dinho - Eu torço para o Corinthians, graças a Deus! O Bento é palmeirense. Samuel e Sérgio torcem para o São Paulo e o Júlio, para a Portuguesa.
Anna - Como nasceu o grupo?
Samuel - A ideia inicial do grupo, que nem chamava Mamonas Assassinas, veio do Sérgio.
Felipe - A ideia foi dele?
Samuel - É, ele tocava há mais tempo. Aí eu comecei a tocar também. Nós somos irmãos. Depois, entrou o Bento. A banda era um trio. Aí, entrou o Dinho e, depois, o Júlio.
1º.dez.1995/Folhapress | ||
Integrantes da banda Mamonas Assassinas com Anna [cabelos encaracolados], Deborah [de vestido], Felipe [com boné] e Tiago [camiseta cinza] |
Anna - Como surgiu o nome Mamonas Assassinas"?
Dinho - A gente queria mesmo Beatles, mas aí a gente descobriu que esse nome já existia e ficou Mamonas Assassinas.
Deborah - Qual de vocês é o "Robocop Gay"?
Dinho, Samuel e Sérgio - É o Júlio. (risos)
Júlio - O que foi?
Dinho, Samuel e Sérgio - Isso você não precisa saber. (risos)
Anna - Que música deu mais trabalho para fazer?
Dinho - O instrumental de "Lá vem o Negão", porque a gente não sabe tocar samba e precisou pedir ajuda para os grupos Negritude Jr. e Art Popular.
Felipe - Vocês falavam muitos palavrões quando eram crianças?
Dinho - Eu não. Só o suficiente.
Felipe - Onde vocês se encontraram?
Samuel - O irmão do Bento trabalhava com o Sérgio, meu irmão. O Dinho, a gente conheceu em um show. O Júlio, encontramos na rua. Ele era menor abandonado e vendia coisas no farol.
Deborah - Vocês já comeram tatu?
Dinho - Vocês entendem tudo errado. Comer tatu é bom, o problema é que dá dor nas costas, porque, quando ele entra no buraco, você tem que ficar agachado pra tirar o bicho de lá.
Tiago - Onde vocês acharam a música do sabão crá-crá?
Dinho - O Bento cantou a canção e a gente gostou. Como não encontramos registro da música, colocamos no disco que ela é de "autor desconhecido".
Tiago - Vocês usam sabão crá-crá?
Dinho - A gente parou porque o sabão cró-cró não fez efeito.
Deborah - E o sexo dos elefantes?
Dinho - Alguns são fêmeas, outros machos. (muitos risos)
Tiago - Vocês querem fazer sucesso em outros países?
Dinho - A gente recebeu um convite para ir a Portugal, mas, antes, estamos estamos escalando vários seguranças. (risos)
Paula - É verdade que vocês recusaram convite para comercial de cerveja?
Dinho e Sérgio - A gente achou que não ia ser legal para nosso público infantil. Além disso, a gente não bebe.