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    Escritor ainda precisa do reconhecimento da Europa, diz María Teresa Andruetto

    BRUNO MOLINERO
    ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

    16/03/2013 00h01

    Divulgação
    A argentina María Teresa Andruetto
    A argentina María Teresa Andruetto

    Para a escritora argentina María Teresa Andruetto, ganhadora do prêmio Hans Christian Andersen --considerado o Nobel da literatura infantojuvenil--, é mais fácil para um escritor europeu ou norte-americano publicar um livro na América Latina do que um autor latino-americano.

    Livros infantis da América Latina têm dificuldade para chegar ao Brasil

    "A valorização do escritor latino-americano nos países da América Latina só existe caso ele triunfe na Europa", diz Andruetto.

    Em entrevista à Folha durante o 2º Cilelij (Congresso Ibero-americano de Língua e Literatura Infantojuvenil), que aconteceu na última semana na Colômbia, a escritora comentou sobre o momento que vive a literatura infantojuvenil na América Latina e sobre a dificuldade que é publicar uma obra nos países do bloco.

    Leia a seguir.

    Livros produzidos na América Latina dificilmente conseguem entrar no mercado brasileiro. Principalmente quando falamos de livros infantis. Isso é fruto apenas da diferença de idiomas?

    Não, é uma questão histórica. É mais fácil encontrar livros de autores noruegueses ou norte-americanos nas livrarias do que de autores da América Latina. Acredito que é um resquício de colonização. Os livros da Europa ainda são tidos como modelo de literatura. E, geralmente, são avaliados como melhores do que os produzidos na América Latina.

    A valorização do escritor latino-americano nos países da América Latina só existe caso ele triunfe na Europa. Parece que não somos capazes de dizer o que é bom ou não.

    Esse fenômeno acontece apenas entre Brasil e o restante da América Latina --ou pode ser visto também entre países de língua espanhola?

    A literatura latino-americana ainda é muito compartimentada. Os livros argentinos são para a Argentina, os chilenos para o Chile e assim por diante. É preciso pensar em um espaço de circulação de livros entre os países da América Latina.

    Mas o intercâmbio com o Brasil é pior. Mesmo autores consagrados, como Drummond ou Guimarães Rosa, têm poucas edições em países latino-americanos. Na Argentina, até pouco tempo atrás, só era possível encontrar uma tradução de "Grande Sertão: Veredas" da década de 1970, por exemplo.

    Mas Argentina, Chile e Uruguai ainda conseguem uma boa troca de livros, não?

    No geral, livros produzidos na Argentina circulam bem no Chile e no Uruguai. Grande parte, mas não todos. Mas é muito difícil um livro argentino chegar às livrarias da Colômbia ou do México. E nós falamos o mesmo idioma.

    Depois do prêmio Hans Christian Andersen, pode-se dizer que a senhora foi validada pela Europa. A circulação dos seus livros aumentou na América Latina?

    Sim, claro que sim. Na verdade, sempre tive um pouco de dificuldade para romper a fronteira da Argentina. Como a oralidade é muito importante nos meus livros (e o castelhano da Argentina é muito distante do falado na Espanha), sempre fui acusada de fazer uma literatura local.

    O Andersen me tirou das fronteiras do meu país. Recebi convites para publicar em mais países da América Latina. Além disso, estão saindo edições na Europa e até na China.

    Como aumentar o contato das crianças com as obras da América Latina? Basta aumentar o volume de livros e a circulação de autores?

    É uma questão de Estado. As crianças latino-americanas precisam aprender na escola a se interessar pelo que acontece na região. Os brasileiros precisam ter aulas de espanhol desde pequenos, por exemplo. Assim como as pessoas dos outros países têm que aprender português também.

    O volume de publicação de obras infantis é muito grande atualmente. Mas isso não se reflete, necessariamente, em qualidade literária.

    Grande parte dos livros infantojuvenis se preocupam mais em educar do que com a qualidade literária. Essa preocupação produz um texto fraco que vem acompanhado, geralmente, de ilustrações que simplesmente reproduzem o que está escrito. Não existe a preocupação de fazer um texto bom do ponto de vista da literatura nem ilustrações que acrescentem elementos à narrativa.

    Frente ao volume de livros infantis, faltam bons escritores para crianças?

    Se pensarmos na quantidade de livros publicado, sim. Faltam bons escritores. Mas isso não quer dizer que eles não existam. Quer dizer que eles não estão sendo publicados.

    O jornalista BRUNO MOLINERO viajou a convite de Edições SM

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