Leia poema de Nelson Ascher, sobre sua relação com a gatinha de estimação.
Texto foi publicado em 13 de fevereiro de 1993, na "Folhinha".
- No aniversário de 50 anos, 'Folhinha' relembra sua história e tenta prever o futuro
- Clarice Lispector, Gilberto Freyre e outros nomes ilustres escreveram para a 'Folhinha'
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AMOR E ÓDIO
A minha gata feita
de pelo e de preguiça
ronrona satisfeita
enquanto se espreguiça
De dia, no seu canto,
Adora estar sozinha
Tomando sol enquanto
Mastiga uma sardinha.
À noite, paciente,
Embosca a sua presa
Que, quando nem pressente,
É pega se surpresa.
Nobreza não lhe falta,
No jeito aristocrata,
Sua linhagem alta
Se chama "vira-lata".
Possui um fino olfato
De caçadora inata
Que, se não acha rato,
Persegue até barata.
Seu pêlo é muito preto,
Seu passo é muito leve,
Seu pulo é tão quieto
Quanto, ao cair, a neve.
Com garras afiadas
Retalha em mil fatias
Após suas caçadas
As presas arredias
A minha gata feita
De pelo e de preguiça
Ronrona satisfeita
Enquanto se espreguiça