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    Marina Silva: 'Nasci na floresta e não tenho fotos de quando eu era criança'

    MARINA SILVA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    04/10/2014 00h01

    A "Folhinha" pediu fotos minhas quando criança para ilustrar este texto, mas não tenho essas fotos. A primeira data de quando já era jovenzinha. Por isso, resolvi contar um pouco da infância começando por essa particularidade: não tenho fotos dessa época.

    Nasci no Acre, no meio da floresta amazônica. Era um lugar simples, mas vigoroso, a 70 km de Rio Branco, a capital.

    Por ali, nunca houve escola, nem igreja. As casas eram feitas da madeira da palmeira paxiúba e cobertas de palha. Hospital também não havia. Vim ao mundo pelas mãos da minha avó Júlia, que ajudou no parto.

    Aprendíamos sem professores formais. Ensinamentos eram transmitidos oralmente. Crescia ao som dos causos contados por meus pais, tios e pela minha querida avó Júlia. Só aprendi a ler e a escrever quando me mudei para Rio Branco. Tinha 16 anos. Sonhava em ser freira, e minha avó advertia: "Freira não pode ser analfabeta".

    Brincávamos muito os oito irmãos. Mas a vida não era só brincadeiras. Desde cedo, ajudávamos nossos pais. Buscávamos água no igarapé, varríamos o terreiro em torno das casas. Na roça, depois que cavavam as covas, íamos atrás colocando as sementinhas. Nossa comida vinha desses cultivos. Ajudávamos no seringal. De manhã, fazíamos o corte nas seringueiras e colocávamos as tigelinhas. No fim da tarde, voltávamos para recolher o látex.

    Eu era mimada por minha avó Júlia. Tinha uma coleção de 12 bonecas de pano que ela havia costurado. Tinha também a única boneca comprada em todo o seringal. Chamava-se Inglesinha e era mais bonita que a Barbie. Loira, de olhos claros, cintura fina. Minha avó deu a um marreteiro não sei quantas galinhas pela boneca. Só aos 13 anos fui fotografada pela primeira vez. Guardo com enorme carinho essa imagem única.

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