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    Último disco de David Bowie é surpreendente e revolucionário

    LÍGIA NOGUEIRA
    DE SÃO PAULO

    27/02/2016 02h00

    Poucos artistas souberam se reinventar com tanto talento e habilidade quanto David Bowie. O músico inglês completaria 50 anos de carreira em 2017 ""e ainda assim parece ter passado como um cometa sobre a Terra. A notoriedade veio em 1969, com "Space Oddity". A faixa de abertura do álbum "David Bowie" já revelava o artista como um brilhante catalisador dos desejos de sua época, ao narrar a história de um sujeito perdido no espaço, o astronauta fictício Major Tom, alguns dias antes da chegada do homem à Lua.

    Reprodução
    David Bowie em show
    David Bowie em show

    Mas foi quando assumiu a persona de Ziggy Stardust, em 1972, usando meia-calça arrastão, brincos e maquiagem, que ele mudou a cultura pop para sempre. Com "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", embalado por um glam rock elaborado com o guitarrista Mick Ronson em faixas como "Hang On to Yourself", Bowie evocou uma sexualidade até então restrita ao underground e mostrou ao mundo que havia uma gama infinita de possibilidades: os estranhos e renegados não estavam mais sozinhos; agora tinham a quem seguir.

    Outra de suas características mais marcantes ficaria clara em pouco tempo: a capacidade de se distanciar radicalmente de uma imagem que ele mesmo havia criado. Após o anúncio da "morte" de Ziggy Stardust, a primeira mudança de direção veio em 1975, com "Young Americans", em que Bowie expressava sua obsessão pela soul music. Dois anos depois, a música eletrônica passou a ser o centro das atenções do músico, que iniciou a primeira de três colaborações com o produtor Brian Eno, conhecida como "trilogia de Berlim". "Low" (1977), "Heroes" (1977) e "Lodger" (1979) compõem esta fase, em que o artista se muda para a capital alemã na tentativa de ficar livre das drogas.

    Na década de 1980, "Let's Dance" (1983) representou um novo apogeu, com hits perfeitos para as pistas de dança. Bowie deu continuidade à carreira de ator, estrelando filmes como "Labirinto" (1986), enquanto fez experimentações e flertou com diferentes estilos musicais na década seguinte.

    Divulgação
    Álbum é o único que não tem uma imagem de David Bowie na capa
    Álbum "Black Star"

    Se em 2013 o artista ressurgiu com "The Next Day" após 10 anos sem gravar, "Blackstar", seu último trabalho, não foi menos impressionante. Lançado no aniversário de 69 anos do artista, em 8 de janeiro ""dois dias antes de morrer"", o álbum estampa uma estrela negra na capa e traz como single a faixa "Lazarus", cujo videoclipe mostra o músico em uma cama de hospital. Diz a letra: "Olhe aqui para cima, estou no céu/ Tenho cicatrizes que não podem ser vistas". Enigmática, mas também o símbolo de outra guinada musical, a obra reúne jovens talentos do jazz em faixas de atmosfera ora sombria, ora ensolarada, com efeitos eletrônicos e espaço para solos de sax e guitarra ""diferente de tudo o que o próprio músico havia feito. "Blackstar" veio à luz como um disco surpreendente. Dois dias depois, tornou-se revolucionário. Estava explicado o plano: diante do fim inevitável decorrente de uma doença mantida em sigilo, o eterno camaleão do pop faria o que sempre fez de melhor, reinventando-se e transformando a própria morte em obra de arte.

    BLACKSTAR
    QUANTO R$ 49,90
    AUTORDavid Bowie
    GRAVADORA Sony Music

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