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    Seis filmes mostram a liberdade que renovou a produção em Hollywood

    SERGIO ALPENDRE
    DE SÃO PAULO

    27/02/2016 02h00

    Entre meados dos anos 1960 e o final dos 70 ocorreu no cinema americano o que muitos historiadores consideram um hiato, dentro do qual os grandes estúdios cederam aos humores e estilos de jovens diretores. É a chamada Nova Hollywood, representada aqui numa coleção com seis filmes essenciais para entendermos o período.

    "Corrida Sem Fim" (1971), de Monte Hellman, é obrigatório para entendermos esse momento do cinema americano. Dois aventureiros, interpretados pelos músicos Dennis Wilson (dos Beach Boys) e James Taylor, viajam por estradas americanas conquistando mulheres e apostando corridas. Monte Hellman dizia que seu filme é verdadeiramente transgressor, porque em "Easy Rider", de Dennis Hopper, os motoqueiros lidam com gente preconceituosa, enquanto os corredores de Hellman lutam contra o sistema, a sociedade capitalista.

    Divulgação
    Capa de "O cinema da nova Hollywood"
    Capa de "O cinema da nova Hollywood"

    Igualmente obrigatório é "A Outra Face da Violência" (1977), de John Flynn. Tem roteiro de Paul Schrader e cenas violentíssimas, que ilustram bem o clima barra pesada da sociedade americana nos anos 1970 (o filme foi realizado em 1977, mas a história se passa em 1973). Os combatentes da Guerra do Vietnã não encontravam mais lugar entre os seus. Viviam num limbo da sociedade, mesmo sendo recebidos como heróis. Circunstâncias os levam a repetir, em solo caseiro, a violência que viveram nas selvas asiáticas.

    "Procura Insaciável" (1971) é o primeiro longa americano do tcheco Milos Forman. Fala do conflito de gerações na época dos hippies, de maneira semelhante, ainda que mais cômica, a de "Joe" (1970), o grande e violento filme de John G. Avildsen. O momento máximo de "Procura Insaciável" é o encontro na Sociedade dos Pais de Filhos Fugitivos, dentro do qual um usuário ensina todos os pais presentes a apreciarem um baseado.

    Robert Altman já era um veterano da televisão e vinha do grande sucesso de "M.A.S.H." quando realizou "Voar é Com os Pássaros" (1970). Nesse filme insano e ambientado em Houston, cheio de reviravoltas e esquisitices, encontramos um ornitólogo que vai aos poucos se transformando num pássaro, um jovem que quer voar, uma jovem cleptomaníaca, um superdetetive de São Francisco entre outros doidões.

    "Procura Insaciável", "Corrida Sem Fim" e, principalmente, "Voar É Com os Pássaros" são exemplos perfeitos do que o crítico Robin Wood chamou de "textos incoerentes". Ou seja, filmes completamente abertos, que exigem do espectador um outro comprometimento.

    Do outro lado temos o excelente "Essa Pequena é uma Parada" (1972), em que Peter Bogdanovich homenageia as comédias malucas dos anos 1930 e seu maior ídolo, Howard Hawks. No balanço entre tradição e invenção que baseou a Nova Hollywood, podemos dizer que o filme de Bogdanovich está mais para a tradição. Mas seria equivocado não observar o que ele tem de invenção. Em uma coleção identificada com um cinema mais autoral e ousado, essa diversão inconsequente tende a ser subestimada. Mas trata-se de um excelente modelo de uma faceta muito cara aos diretores da Nova Hollywood: o cinema que faz alusão à sua própria história.

    Fechando a coleção, "O Comboio do Medo" (1977), de William Friedkin, é a inspirada refilmagem de "O Salário do Medo", clássico francês de Henri-Georges Clouzot. Roy Scheider deve atravessar uma região selvagem com um caminhão lotado de nitroglicerina. Friedkin foi sábio o suficiente para evitar os erros do original, acrescentando um tanto de crueza e loucura nessa aventura.

    O CINEMA DA NOVA HOLLYWOOD
    DIRETORES: vários
    QUANTO: R$ 69,90 (3 DVDs)
    DISTRIBUIDORA: Versátil

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