• Ilustrada

    Friday, 17-May-2024 03:02:28 -03

    Ator deixa novelas e faz carreira como dramaturgo

    LUCAS NEVES
    da Folha de S.Paulo

    21/11/2008 08h34

    O currículo televisivo já tinha participações em minisséries como "Hilda Furacão" e "Labirinto" (ambas de 1998) e novelas como "Andando nas Nuvens" (1999) e "Desejos de Mulher" (2002) quando o ator Pedro Brício, 36, resolveu trilhar o caminho inverso ao de boa parte de seus pares e centrar suas atenções ao teatro.

    "Perto dos 30, estava fazendo trabalhos que não me satisfaziam. Descobri que conseguia me expressar de uma forma muito mais rica sendo dramaturgo. Como ator, sou, no máximo, um trompete. Como dramaturgo, tenho outros instrumentos: uma percussão, um piano, talvez", diz ele.

    Lenise Pinheiro/Folha Imagem
    Pedro Brício
    Pedro Brício abandonou a carreira de ator para ser dramaturgo

    A "orquestra" não tardou a encontrar o tom, como atesta a boa acolhida crítica a "A Incrível Confeitaria do Sr. Pellica", segundo texto de Brício para o teatro. Em 2005, a peça recebeu cinco indicações ao Prêmio Shell (RJ); ele levou a estatueta de melhor autor.

    Agora, como dramaturgo e co-diretor (ao lado de Sérgio Módena), traz a São Paulo "Cine-Teatro Limite", produção de sua Zeppelin Cia. em que o comediógrafo Sábato vê no roteiro de um musical a válvula de escape para uma modorrenta vida familiar, capitaneada por um pai autoritário e uma mãe frustrada.

    O cenário é o Rio da década de 40, que busca nos títulos desopilantes da Atlântida um respiro à perseguição do Estado Novo a comunistas e às notícias sobre a participação da FEB na Segunda Guerra.

    No constante ir-e-vir do protagonista entre a realidade e sua imaginação, surgem figuras como Totorito (referência a Oscarito), Lecy Dondon Gonçalves (corruptela para Dercy Gonçalves) e Francisco Alves (o próprio rei da voz).

    Rio, França e EUA

    A paisagem carioca do meio do século passado se junta à França do século 18 (de "Sr. Pellica") e aos EUA das décadas de 20 e 30 (de "Fitz Jam", inspirado na vida e obra do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald) na galeria de molduras "empoeiradas" da dramaturgia de Brício. Não se trata de passadismo, ele afirma:

    "O cenário é antigo, mas a linguagem é super contemporânea. Tudo depende da abordagem. [O dramaturgo inglês] Tom Stoppard acabou de ganhar o Tony [maior prêmio do teatro nos EUA] com uma peça sobre a Rússia do século 19. O Brasil tem uma história teatral muito rica que não tem revisão cênica. Não é por escrever sobre internet, por exemplo, que você vai ser contemporâneo."

    Brício conta que escreveu "Cine" guiado pela idéia de "uma comédia que desse errado". "Queria chegar a um lugar mais melancólico, falar de ausência, da possibilidade da morte." É o que ele traz à tona no personagem do aviador Valentino, irmão de Sábato chamado ao front de quem a família não recebe cartas há meses.

    Aqui, a história ganha contornos autobiográficos: Brício perdeu o irmão mais velho aos 14 anos. "Mas a família da peça não tem nada a ver com a minha. Meu pai é super gentil e minha mãe não é alcoólatra", enfatiza ele, em tom jocoso.

    O mesmo que ele usa para falar dos trabalhos mais recentes como intérprete, como o Erik da recém-encerrada novela "Beleza Pura": "Eu quero é ganhar dinheiro como ator".

    Cine-Teatro Limite

    Quando: estréia hoje; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 14/12
    Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, SP, tel. 0/xx/11/3234-3000)
    Quanto: R$ 20
    Classificação: não recomendado a menores de 14 anos

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024