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    ILUSTRADA 50 ANOS: 1972 - Caetano Veloso retorna do exílio

    "Caetano: 'Quero viver na Bahia'", assinado do Rio de Janeiro foi publicado originalmente quarta-feira 12 de janeiro de 1972.

    09/12/2008 14h46

    Achando tudo maravilhoso, até o próprio calor, Caetano Veloso chegou ontem, às 6 horas, ao Rio. Ele está preocupado apenas em desfazer "uma grande confusão que a nossa imprensa criou sobre minhas últimas apresentações no exterior"."Não fui sucesso, mas não fui fracasso. As pessoas que se interessam por música ficaram 'ligadas' em mim porque eu oferecia alguma coisa de novo e isso acontece com quase todos que aparecem por lá", afirmou.

    Seus shows no Brasil (3 no Rio, 2 em São Paulo, 1 no Recife, e 2 na Bahia) servirão para explicar isso, através de bate-papos e músicas, que ainda não foram liberadas pela censura.

    Divulgação
    O cantor Caetano Veloso
    O cantor Caetano Veloso

    Portas abertas

    "Eles estão lá na piscina", informava Irene, a irmã mais nova de Caetano, a todas as pessoas que apareciam na porta do apartamento de Maria Bethânia, onde o compositor e a mulher, Dedé, ficarão até embarcarem para São Paulo. Desde a hora da chegada de Caetano até às 13 horas, as portas do apartamento ficaram abertas e os curiosos ou fãs eram recebidos com o sorriso de Irene e um convite para irem ao terraço. Lá em cima, Cae, Bethânia, Gal Costa, Dedé, e mais cinco amigos conversavam a respeito do sol. "É muito diferente vir ao Brasil no verão. As pessoas estão lindas, maravilhosas, douradas. Fica tudo mais alegre", dizia o compositor.

    Dentro da piscina a manhã inteira, Caetano brincava com Bethânia, rindo das novidades e reclamando do cansaço. Preocupados em não aborrecer Cae, todos mantinham um clima de brincadeira, trocando de assunto a cada minuto. Do sol, passaram a comentar uma almofada com fotos de mulheres nuas, trazida de Londres. Muitas risadas e um novo papo: o show de Gal no Teatro Opinião, que Caetano pretendia assistir à noite.

    A ambientação do instrumentista inglês Chris Burton no Rio foi o único assunto que resistiu mais de cinco minutos. Caetano riu muito quando soube que Chris estava desde cedo na praia, beijando todas as pessoas que encontrava, e resolveu explicar as razões do comportamento do inglês. "As pessoas em Londres nunca se beijam, mas nós, brasileiros, costumávamos nos abraçar e beijar sempre que nos encontrávamos. Chris estava sempre conosco e ficou achando que isso era um costume da nossa terra. Agora ele deve estar criando mil confusões e ainda vai acabar se dando mal".

    Bahia

    Depois de "matar as saudades" e procurar saber de Macalé, que chegou sábado último e ontem não esteve na casa de Bethânia, Caetano resolveu dormir e recebeu, com um leve protesto, o pedido de uma entrevista. "O que vocês querem saber? Eu quero dormir". No quarto, ao mesmo em que dizia a Dedé que tomaria banho depois do almoço e que só queria uma roupa seca pra poder deitar, o compositor falou rapidamente sobre sua vida em Londres e sua programação para a temporada de três meses no Brasil.

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