O jornalista Matinas Suzuki Jr afirmou que a "ignorância" foi a principal razão para a Ilustrada ter o caráter irreverente que possuía nos anos 80.
"Também tivemos uma grande liberdade para fazer o que quiséssemos. E também teve a sorte de ter muita gente boa na redação", disse Suzuki.
As declarações foram feitas durante o debate "Cultura e Jornalismo", que começou nesta quarta-feira no auditório do Masp, em São Paulo. O debate, que faz parte das celebrações pelos 50 anos da Ilustrada, foi mediado por Marcos Augusto Gonçalves, atual editor do caderno.
Além de Suzuki, participam no debate Ruy Castro, escritor e colunista da Folha, e Marcelo Coelho, colunista da Ilustrada e membro do Conselho Editorial da Folha.
O ex-editor do caderno confessou que hoje não imagina ser editor de um caderno cultural, devido à grande quantidade de coisas que têm que ser cobertas.
"E do ponto de vista técnico a Ilustrada não era nada. Tinha gente que foi para lá sem nunca ter pisado numa redação. Hoje, não há mais espaço para amadorismo", considerou.
Coelho
O colunista da Ilustrada Marcelo Coelho ponderou que o caderno, na década de 80, era também um "agente cultural", uma vez que ele refletia determinados gostos.
"A Ilustrada podia dizer e até decretar o que era bom e o que era ruim", explicou.
Coelho ainda disse que o critério para se fazer uma capa, para preencher um "vazio", era determinado pelo gosto pessoal das pessoas da redação, que "acreditavam estar fazendo uma revolução".
"O caderno era a arma desse gosto. Hoje, a escolha da capa é mais objetiva" baseando-se nos fatos e não em gostos pessoais, afirmou Coelho, que ainda acrescentou que o fim dessa liberdade foi uma "perda" para o jornalismo.
Castro
O colunista da Folha Ruy Castro declarou não gostar do termo "jornalismo cultural". "O que existe é jornalismo".
"As capas da Ilustrada surgiam de piadas de bar", disse Castro, que exemplificou a declaração citando a pauta da briga do Paulo Francis e do Caetano Veloso, em que o compositor chamou o jornalista de "bicha amarga".
"A graça da enquete [quem faz a sua cabeça? Paulo Francis ou Caetano Veloso] estava na escolha das pessoas", acrescentou.
"Havia menos coisas para cobrir, não tinha essa coisa dirigida como o show da Madonna. Faz um mês que toda a imprensa brasileira só fala na Madonna!"