Com apenas 28 anos e pouco mais de uma dezena de filmes na carreira, o ator australiano Heath Ledger foi a sensação do cinema em 2008. Sua morte logo no início do ano em condições misteriosas renderiam a ele uma enorme repercussão, só superada após a estréia de seu único filme lançado no ano, "Batman - O Cavaleiro das Trevas".

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06.nov.2006/Dima Gavrysh/AP

Heath Ledger foi encontrado morto no apartamento que morava em Nova York; polícia aponta overdose de remédios como causa

O ator foi encontrado morto no apartamento que morava em Nova York na tarde do dia 22 de janeiro. Inicialmente, a polícia trabalhou com a hipótese de que ele teria sofrido uma overdose de drogas. Quem o viu primeiro foi uma massagista que, em vez de informar a polícia, tentou várias vezes telefonar para uma amiga, a também atriz Mary-Kate Olsen.

Após quase um mês de especulações por parte da mídia, a polícia confirmaria que a morte foi causada pelo uso excessivo de um coquetel de remédios, alguns dos quais ele havia adquirido sem receita médica.

Amigos próximos revelaram que Ledger estava nervoso na época por causa da separação com a atriz Michelle Williams, com quem teve uma filha, Matilda, à época com dois anos. Todos eles, no entanto, descartaram uma tentativa de suicídio e a família negou várias vezes o uso de drogas, apesar de vários boatos divulgado na imprensa sobre o suposto vício.

Familiares apenas diziam que ele sentia muita falta da filha e que estava frustrado pelo tempo em que ficava ausente por causa das constantes viagens. Ele ainda transitava entre Estados Unidos e Londres, onde filmava o longa "The Imaginarium of Doctor Parnassus", do diretor Terry Gilliam.

A grande guinada na trajetória póstuma de Ledger, viria, no entanto, em julho, com o aguardado lançamento da seqüência de "Batman Begins" (2005), do diretor britânico Christopher Nolan.

Coringa

Antes da estréia, vários críticos já haviam adiantado que a atuação de Ledger em "Batman - O Cavaleiro das Trevas" era extraordinária. Em seu primeiro fim de semana de exibição nos Estados Unidos, o próprio público iria corroborar a previsão e fazer jus à enorme expectativa em torno da atuação de Ledger. O filme quebrou o recorde da produção ao conseguir renda de US$ 300 milhões em tempo recorde, dez dias.

O grande nome do filme, no entanto, não seria o protagonista que dá nome à produção. O Batman interpretado por Christian Bale ficaria em segundo plano diante da atuação magistral de Ledger no papel do vilão Coringa. Suas risadas medonhas e a figura assustadora a cada aparição garantiriam sua presença marcante para o público.

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Cena de Coringa em "Batman - O Cavaleiro das Trevas"; para a crítica, Heath Ledger foi quem deu a melhor forma ao personagem

A crítica foi além e reconheceu na atuação de Ledger uma marca dos novos tempos. Para muitos, ele foi capaz de passar com o personagem a representação exata do medo da anarquia e do caos da sociedade atual, afligida pela violência ou pelo terrorismo. No filme, Coringa contrasta seu escárnio com a figura atormentada e justiceira de Batman ao encarnar uma atitude subversiva em relação a qualquer norma, inclusive a do próprio crime.

Aliada à anarquia do personagem, o próprio visual do Coringa o tornou o principal garoto propaganda do filme, apesar das tentativas da Warner em evitar qualquer oportunismo com a morte do ator. Nas críticas da imprensa, era Ledger quem aparecia com a cara borrada e a enorme cicatriz no rosto.

Foi dito mesmo que dois polêmicos roqueiros inspiraram a nova versão do vilão: Sid Vicious, do Sex Pistols, e Pete Doherty, do Babyshambles. Seus trajes, uma casaca roxa e colete verde refinados, mas comidos pela sujeira, sugeriam um Coringa punk, bem diferente --e mais convincente-- do que a feição brincalhona dada ao personagem por Jack Nicholson no primeiro filme da série, em 1989.

Fama póstuma

A morte de Ledger em janeiro motivou vários artistas a lhe prestar homenagens, principalmente pelo carisma e notáveis atuações em filmes como "Brokeback Mountain" (2005) --que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator-- e em "Não Estou Lá" (2007), em que interpreta Bob Dylan em uma de suas fases.

Reuters

Retrato de Ledger pintado por Vincent Fantauzzo foi premiado na Austrália

À medida que se aproximava a estréia de "Batman - O Cavaleiro das Trevas", porém, a popularidade do ator só fazia aumentar. Em maio, uma obra feita pelo artista plástico Vincent Fantauzzo que mostrava Ledger em três posições ganhou na Austrália um prêmio de melhor retrato pelo júri popular.

Em julho, dias antes do lançamento do filme, foi anunciada a construção de um teatro de mais de R$ 130 milhões que levaria seu nome em sua cidade natal, Perth. O premiê do Estado da Austrália do Oeste, Alan Carpenter, justificou a escolha. "Heath Ledger era totalmente dedicado à arte da interpretação e é assim que alcançou o sucesso", disse à época.

Em setembro, época em que o filme já havia alcançado o topo das bilheterias nos EUA, Europa e Brasil, Ledger recebeu 95% dos 646.917 votos para eleger o melhor vilão do cinema em uma pesquisa feita pelo site Moviefone.com, da AOL.

Em outubro, um levantamento da revista "Forbes" mostrou que Ledger ficou apenas atrás de Elvis Presley e Charles Schulz (desenhista do Snoopy) como o artista que mais ganhou dinheiro em 2007. A maior parte da bolada de US$ 20 milhões seria do pagamento pela sua participação em "Batman", cujos produtores já previam o estrondoso sucesso nas bilheterias.

A grande aposta de produtores e críticos agora é para a premiação de Ledger no Oscar. Ele já foi indicado para o Globo de Ouro como melhor ator coadjuvante e é considerado favorito. Para reforçar a pressão, as distribuidoras resolveram ainda relançar "Batman - O Cavaleiro das Trevas" nos Estados Unidos no dia 23 de janeiro, semanas antes da entrega do maior prêmio de Hollywood.