No próximo sábado (10), um dos mais importantes personagens dos quadrinhos europeus fará aniversário: são 80 anos desde que Tintim, já com seu indefectível topete e seu cão Milu, estreou no jornal belga "Le Vingtième Siècle".
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O personagem Tintim, de Hergé, em quadrinho da primeira história |
Desde então, foram 24 aventuras bem-humoradas, que envolvem mistérios, tiranos e até fenômenos inexplicáveis em lugares que vão do Congo ao Tibete, passando pela Lua.
Continuar lendoE, pela primeira vez, duas importantes obras do personagem são publicadas no Brasil: "As Aventuras de Tintim Repórter do "Petit Vingtième" no País dos Sovietes" (sua estreia) e "Tintim e a Alfa-Arte", sua última --e incompleta-- história.
As duas edições, somadas aos lançamentos de "Tintim e os Pícaros" (ambientada na América do Sul) e "Vôo 714 para Sydney" (no sudeste asiático), encerram a coleção da Companhia das Letras que trouxe ao país, pela primeira vez, a série completa do belga Hergé.
Para Thyago Nogueira, editor dessa coleção, uma das principais qualidades da série é a contextualização das histórias. "A pesquisa, que era uma preocupação forte do Hergé, de levar o Tintim a países diferentes, é uma característica que se manteve e foi se aperfeiçoando", diz Nogueira.
Enquanto "Tintim e os Pícaros" e "Vôo 714 para Sydney" trazem histórias que se encaixam nessa descrição, as outras duas são curiosas exceções à trajetória do personagem.
"Não são histórias como todas as outras", diz Nogueira. "O "País dos Sovietes" é um desenho um pouco menos acabado do que ele fez depois. E "Alfa-Arte" é uma história inacabada... São os bastidores de uma história do Hergé."
Embrião da série
"País dos Sovietes" começou a ser publicada quando Hergé tinha apenas 21 anos. O álbum é um embrião do que viria a ser a série. Tintim ainda atua acompanhado apenas pelo cachorro Milu --seu ótimo e divertido rol de coadjuvantes (o capitão Haddock, o professor Girassol, a cantora Bianca Castafiore, os policiais Dupond e Dupont, o vilão Rastapopoulos) ainda não havia sido criado.
O roteiro de "País dos Sovietes" também é diferente. Primeiro, por ser inocente. Eram outros tempos (final dos anos 20), mas é curioso ver o personagem assustar alguns inimigos apenas vestindo um lençol com furos para os olhos e se fazendo passar por um fantasma.
Além disso, Tintim, que viria a ser um exemplo de bom moço, toma atitudes que mais tarde seriam impensáveis, como agredir um policial ou roubar um barco ou um carro.
O roteiro dessa primeira história é um panfleto anticomunista --o "Vingtième Siècle" era editado por um admirador de Mussolini. Na trama, o repórter Tintim viaja à União Soviética para ver o que "de fato" acontece por lá. O que ele "descobre" são fábricas de fachada, com as quais "os sovietes tapeiam os coitados que ainda acreditam no "paraíso vermelho'", no dizer do próprio personagem. O país que Tintim encontra é violento, corrupto e tira trigo da população pobre e faminta para fazer propaganda da nação soviética no exterior.
A última aventura
Hergé morreu em 1983, antes de concluir "Tintim e a Alfa-Arte", que seria a 24ª aventura do repórter. Esta edição que chega ao Brasil apresenta o texto em prosa, ao lado dos rascunhos para cada página que já havia sido roteirizada.
Assim, a leitura não flui tão bem como se já estivesse finalizada. Perde-se a graça de algumas gags visuais de Hergé. Por outro lado, é uma aula de como fazer histórias em quadrinhos: é possível ver como o quadrinista pensava, com traços bem simples, como resolveria a diagramação de seu enredo dentro de cada página.
Além disso, há no final da edição esboços e anotações que poderiam ter sido usadas até o final da história --por exemplo, a identidade real do vilão (a história aborda um caso de falsificação de obras de arte). É curioso, pois estão registradas até as dúvidas do próprio Hergé: "Tintim (...) só será salvo graças a... Milu? Haddock? Ao professor? A...?".
O leitor fica sem saber, mas não importa. "Tintim e a Alfa-Arte" é uma espécie de making of de uma história em quadrinhos sofisticada, cuja criatividade de seu artista faz dela, ainda hoje, um dos maiores marcos das HQs da Europa.
Editoria de Arte/Folha Imagem | ||
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