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    "Caminho das Índias" marca retorno das "licenças poéticas" de Gloria Perez

    LAURA MATTOS
    da Folha de S.Paulo

    18/01/2009 08h38

    Tudo bem que "A Favorita", especialmente nos últimos capítulos, abusou da boa vontade do público em embarcar em histórias absolutamente impossíveis e incoerentes. Mas a despedida rocambolesca de Faísca e Espoleta não deve chegar aos pés do que aguarda o telespectador a partir de amanhã, quando estreia a nova novela das oito, "Caminho das Índias".

    João Miguel Júnior/TV Globo
    Lima Duarte e Dyjhan Henrique em cena de "Caminho das Índias", de Gloria Perez, nova novela das 21h, que irá substituir "A Favorita"
    Lima Duarte e Dyjhan Henrique em cena de "Caminho das Índias", de Gloria Perez, nova novela das 21h, que irá substituir "A Favorita"

    Por mais que qualquer telenovela em algum momento despreze a verossimilhança, nenhum autor da Globo hoje é páreo para o "despudor" de Gloria Perez, que assina a trama. Em "Caminho das Índias", a herdeira do estilo de Janete Clair (1925-1983) voltará a disparar seu arsenal de "licenças poéticas", no qual, só para ficar em um exemplo, as viagens entre o Brasil e as cidades indianas onde se passam as histórias são rápidas e simples como a ponte-aérea Rio-São Paulo.

    O mesmo superavião que transportará personagens do Rio a Jaipur e Agra, famosa pelo Taj Mahal, já levou o elenco de "O Clone" (2001/02) a cruzar os mais de 7.400 quilômetros entre a capital fluminense e Marrocos em poucas horas.

    Isso sem falar da salada de idiomas que dominou, além de "O Clone", "América" (2005), suas duas novelas anteriores, também baseadas em intercâmbios, como será "Caminho das Índias". Mas é exatamente esse "tempero exótico" que faz de Perez uma das líderes de audiência do horário nobre. E esse tipo de cobrança está longe de lhe tirar o sono: "Ah, não gasto ouvido escutando tolice", afirma a autora à Folha.

    "É o mesmo que não gostar de 'Ben-Hur' porque falava inglês e não latim, que abominar 'Gandhi' por não ter sido filmado em hindi, que ridicularizar o cinema porque, em todos os filmes, o táxi está sempre na porta quando alguém precisa ou apedrejar 'A Favorita' porque, de dupla sertaneja a presidiária, Flora desembarcou com a maior desenvoltura na presidência de uma grande empresa", compara a novelista.

    "Inshalá"

    Perez conta que os personagens indianos, entre eles o casal protagonista interpretado por Márcio Garcia e Juliana Paes, falarão em português e sem sotaque, diferentemente do que acontecia, por exemplo, com o grego de Tony Ramos em "Belíssima" (2005/06), de Silvio de Abreu. "Mas há um trabalho de prosódia, para que pronunciem corretamente o que deve ser dito em hindi ou sânscrito."

    Divulgação
    Atriz Letícia Sabatella será a vilã de "Caminho das Índias"; Gloria Perez garantiu que personagem não se parece com Flora
    Atriz Letícia Sabatella será a vilã de "Caminho das Índias"; Gloria Perez garantiu que personagem não se parece com Flora

    Algumas cenas, como as de rituais religiosos, serão faladas em sânscrito, conta Perez, com a consultoria de indianos.

    E certamente teremos a onda indiana no Brasil, como aconteceu com o "Clone", quando os brasileiros repetiam "inshalá", curtiam a dança do ventre e usavam as bijuterias e maquiagens da muçulmana Jade (Giovanna Antonelli). Agora, o boom deverá ser da ioga, praticada pelos protagonistas de "Caminho das Índias", e de roupas indianas, como o sári, um pano enrolado no corpo, e punjabis, calça com uma bata.

    A autora conta ter se inspirado em produções de Bollywood, a indústria cinematográfica da Índia, além de "filmes de arte" do país. "Os filmes são importantes para se observar costumes, tradições, rituais, gestuais e comportamentos."

    Nada de Flora

    Os fãs de Flora não devem ter esperanças. A maldosa de "Caminho das Índias", interpretada por Letícia Sabatella, nada tem a ver com a vilã pop de Patrícia Pillar em "A Favorita", de acordo com Perez. "Ela não vai assassinar ninguém. A ideia é mostrar como funciona a mente de um psicopata", afirma.

    A vilã, desta vez, está inserida no que a autora chama de "campanha pelos usuários da saúde mental", que terá também um personagem esquizofrênico vivido por Bruno Gagliasso. "Toda vez que um psicopata comete uma atrocidade, é posto no mesmo rol que os loucos. Isso alimenta o preconceito. Loucura e psicopatia são condições inversas. Loucura é doença tratável. Psicopatia é estrutura de personalidade e não tem tratamento, ao menos por enquanto. A loucura implica um excesso de sentimento, já a psicopatia é a ausência deles. O psicopata é pura razão."

    Além desse "merchandising social", que debaterá inclusive a existência de manicômios no país e a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, "Caminho das Índias" falará dos problemas do ensino público e "da falta de limites que se observa na juventude de hoje".

    Editoria de arte/Folha imagem

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