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    Diretor de "Milk" diz que filme o influenciou a "sair do armário"

    SILVANA ARANTES
    enviada especial da Folha a Los Angeles

    20/02/2009 09h44

    Em "Milk - A Voz da Igualdade", de Gus van Sant, que estreia hoje no Brasil, o ator Sean Penn faz o papel de Harvey Milk (1930-1978), o primeiro militante gay a ser eleito para um cargo político nos EUA.

    Divulgação
    Filme "Milk - A Voz da Igualdade" retrata os últimos anos da vida do ativista Harvey Milk
    Filme "Milk - A Voz da Igualdade" retrata os últimos anos da vida do ativista Harvey Milk

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    Assim como Penn, os intérpretes dos principais amores nos últimos oito anos da vida de Milk --período abordado pelo filme-- são heterossexuais: James Franco ("Homem-Aranha"), que vive Scott Smith, e Diego Luna ("E sua Mãe Também"), no papel de Jack Lira.

    "Certamente poderíamos ter escalado exclusivamente gays para todos os papéis, o que seria uma escolha política e de estilo, mas havia uma questão financeira. Nem todos os atores gays na idade adequada para os papéis conseguem atrair o dinheiro que era necessário para fazer esse filme", afirma Van Sant.

    "Milk - A Voz da Igualdade" foi produzido com aproximadamente US$ 15 milhões (R$ 35 milhões) e recebeu oito indicações ao Oscar, incluindo as de melhor ator (Penn), diretor (Van Sant) e roteiro (Dustin Lance Black).

    Esta foi a segunda vez que Van Sant, 56, tentou levar ao cinema a vida do homem que o influenciou a assumir sua própria homossexualidade.

    Na época em que Milk foi eleito, em San Francisco, o cineasta, que vivia em Los Angeles, "não tinha saído do armário ainda, não fazia parte da comunidade gay", como recorda, e nem se deu conta da notícia.

    Pouco depois, quando Milk foi assassinado pelo político conservador Dan White (Josh Brolin, indicado ao Oscar pelo papel), o cineasta prestou atenção à notícia. "Acho que Harvey e toda a sua história ajudaram minha eventual saída do armário, que foi quando eu estava na casa dos 30 anos", afirma.

    A primeira tentativa de Van Sant de fazer uma cinebiografia de Harvey Milk fracassou porque ele ficou insatisfeito com o roteiro e abandonou o projeto.

    "O debate se deu em torno de que parte da história contar e como. É uma história enorme, que envolve diversos personagens, além de todos os distritos e cidades que rechaçaram as leis em prol dos gays. Contar toda a história da vida de Harvey era coisa demais. [No projeto abortado] Nunca tivemos um roteiro que descobrisse como fazer isso sem ficar chato."

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    Sean Penn concorre ao Oscar de melhor ator por seu desempenho no filme dirigido por Gus van Sant, que também foi indicado
    Sean Penn concorre ao Oscar de melhor ator por seu desempenho no filme dirigido por Gus van Sant, que também foi indicado

    Dez anos mais tarde, quando o roteiro de "Milk - A Voz da Igualdade" lhe caiu nas mãos, Van Sant "continuava interessado em contar essa história" e achou acertada a decisão do roteirista Dustin Lance Black de "limitar o foco na atuação política de Harvey, não contando muito sobre sua infância ou os anos de estudante ou os anos que viveu em Nova York, embora houvesse a contar ao menos dez anos de boas histórias entre 1950 e 1970. Harvey foi, por exemplo, coordenador de palco do espetáculo 'Hair' em Nova York", diz Van Sant.

    Ao se concentrar nas quatro campanhas e na eleição de Milk, o filme terminou por suavizar as cenas de sexo e o retrato do comportamento da turma de Milk na região de Castro, reduto gay de San Francisco.

    Nas palavras de Van Sant, "por causa de sua opção por contar a vida política de Harvey, o filme limitou partes da história que poderia ter sido ótimo mostrar, mas poderia ter sido mais arriscado, como as casas de sauna que Harvey costumava frequentar ou os bares a que ia".

    O diretor diz que filmou mais cenas de sexo do que as que estão no filme e descartou-as não por uma questão de autocensura. "Poderíamos ter feito essas cenas tão extremas quanto quiséssemos, mas, depois de filmar a primeira cena de sexo, nós nos demos conta de que, na realidade, não precisávamos ir tão longe. Então, as cenas de sexo se tornaram mais alusivas do que literais".

    Lance Black conta que "decidir o que não contar foi a parte mais difícil" de seu trabalho, mas optou pelo recorte da vida política de Milk porque acha que esse foi o seu ápice.

    "Acho que a grande questão para Harvey era encontrar um sentido, um propósito para sua vida. Ele se perguntava o tempo todo o que estava fazendo e por quê? E descobriu esse propósito em San Francisco --era a política", afirma o roteirista.

    A jornalista Silvana Arantes viajou a convite da distribuidora Paramount.

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