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    Maior exposição de Marc Chagall no Brasil pode ser vista em Minas Gerais

    SILAS MARTÍ
    da Folha de S.Paulo, enviado especial a Belo Horizonte

    07/08/2009 10h14

    Mesmo a morte em Chagall é sublime. Suas flores carregadas de cor não parecem, mas são símbolo de vida frágil. Estão sempre ao lado de amantes, como se marcassem o tempo que resta de êxtase sobre a Terra.

    Divulgação
    Detalhe da tela "Vilarejo com Cavalo Verde ou Visão sob a Lua Negra", de Marc Chagall
    Detalhe da tela "Vilarejo com Cavalo Verde ou Visão sob a Lua Negra", de Marc Chagall

    Talvez porque o tempo do artista também pareceu medido a conta-gotas. Escapou aos massacres de judeus em sua Rússia natal, fugiu de tropas nazistas que invadiram a França onde se radicou. Numa ironia feliz, Marc Chagall morreu de velho: fez a última gravura, almoçou e dormiu para sempre aos 97.

    Na mesma placidez, Chagall escondeu todo o horror sob mantos vibrantes de azul marinho, cor-de-rosa, verde e púrpura. Mais de 300 obras, entre telas, gravuras e esculturas, na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, dão as coordenadas desse universo onírico: homens e animais flutuantes, contornos esmaecidos, luz matizada.

    "Ele tem essa vibração da cor", diz Fábio Magalhães, curador da mostra. "Por isso, num mundo tão escatológico quanto o da arte contemporânea, Chagall desperta tanto interesse."

    Vacas voadoras

    Destoa de tudo hoje e destoava então. Em pleno auge do construtivismo russo, no começo do século 20, bolcheviques perguntavam a Chagall o que suas vacas voadoras tinham a ver com a Revolução Russa. Ele rompe com os líderes do movimento, mas não descarta certa geometrização em suas telas com animais, violinistas e amantes em voo livre.

    Se não tem a ver com a revolução, tem a ver com a tradição do hassidismo judaico, que pregava a busca do êxtase nas relações com Deus e suas criações no mundo terreno. Chagall mescla tradições e arma um universo cor-de-rosa -a série de gravuras "Dafne e Cloé" é talvez o exemplo mais sólido, na mostra, desse mundo paralelo, embevecido de cores.

    Filho de açougueiro, Chagall não esquece bezerros, vacas e os animais de sua vila. Mais tarde, em Paris, tudo ressurge como sonho, cenário pastoril fundido à metrópole que embala toda a sensualidade delicada.

    Chagall acabou sendo um amálgama de vanguardas. Nas primeiras paisagens, banais e um tanto esquemáticas, tenta seguir a arquitetura visual de Cézanne -cilindros, cones, esferas. Mais adiante, descobre a selvageria dos campos cromáticos de Matisse. Não chega a destruir a lógica, como os surrealistas, mas desloca tudo de lugar e reorienta o olhar.

    O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da Casa Fiat de Cultura

    MARC CHAGALL
    Quando: ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 14h às 21h; até 4/10
    Onde: Casa Fiat de Cultura (r. Jornalista Djalma Andrade, 1.250, Nova Lima, MG, tel. 0/xx/31/3289-8900)
    Quanto: entrada franca

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