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    Soneto "A Carolina" foi o último escrito por Machado de Assis; leia poema

    da Folha Online

    22/09/2009 07h20

    Divulgação
    Livro apresenta 180 poemas do bruxo do Cosme Velho
    Livro apresenta todos os poemas escritos pelo bruxo do Cosme Velho

    Quando a esposa de Machado de Assis morreu, o escritor, muito triste, escreveu um poema, um verdadeiro réquiem, no qual se despede de Carolina.

    O soneto, intitulado "A Carolina", faz parte do livro "Relíquias de Casa Velha", publicado em 1906, e foi o último escrito pelo autor. O também escritor Manuel Bandeira destacou este poema como uma das peças mais comoventes da literatura brasileira, de acordo com o "Almanaque Machado de Assis".

    O livro "Toda Poesia de Machado de Assis", de Cláudio Murilo Leal, que reúne pela primeira vez toda a obra poética de Machado de Assis, apresenta o poema e traz uma breve análise. Saiba mais sobre o livro

    Leia abaixo o trecho do livro que apresenta "A Carolina" e a análise do poema.

    *

    A Carolina

    Querida, ao pé do leito derradeiro
    Em que descansas dessa longa vida,
    Aqui venho e virei, pobre querida,
    Trazer-te o coração do companheiro.

    Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
    Que, a despeito de toda humana lida,
    Fez a nossa existência apetecida
    E num recanto pôs um mundo inteiro.

    Trago-te flores, - restos arrancados
    Da terra que nos viu passar unidos
    E ora mortos nos deixa separados.

    Que eu, se tenho nos olhos malferidos
    Pensamentos de vida formulados,
    São pensamentos idos e vividos.

    Carolina Augusta Xavier de Novaes e Joaquim Maria Machado de Assis casaram-se no dia 12 de novembro de 1869 e viveram uma plácida e amorosa vida conjugal durante 35 anos. A morte da esposa, em 1904, deixa Machado abatido e queixoso. Em carta a Joaquim Nabuco, datada de 20 de novembro do mesmo ano, escreve, lamentando-se: "Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo."

    Em 1906, depois de terem sido publicadas as Poesias completas, o poeta escreve seu mais pessoal e profundamente sofrido poema, um verdadeiro réquiem, intitulado "A Carolina". Talvez, para não demonstrar vestígios de um sentimentalismo piegas, Machado elege uma forma poética que reverencia também, sutilmente, o tom e a textura camonianos. Essa aproximação estilística à linguagem castiça, que renova, mais do que copia, no século XX, o sabor do verso quinhentista, foi observada por J. Mattoso Câmara, no ensaio "Um soneto de Machado de Assis".

    Ao lado de conhecidos poemas como "Círculo vicioso" e "A mosca azul", o soneto "A Carolina" é considerado a mais comovente pedra de toque da obra poética de Machado de Assis.

    No ano de 2006, comemorou-se o centenário de "A Carolina", publicado pela primeira vez no livro Relíquias de casa velha, soneto que não foi recolhido em algumas edições das poesias completas.

    *

    "Toda Poesia de Machado de Assis"
    Autor: Cláudio Murilo Leal
    Editora: Record
    Páginas: 756
    Quanto: R$ 85,00
    Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou na Livraria da Folha

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