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    Documentário reavalia legado da arquitetura de Reidy

    MARIO GIOIA
    da Folha de S.Paulo

    01/11/2009 09h02

    "Temos a tendência de olhar para o passado e considerar que já fomos melhores."

    A frase da artista Luiza Baldan serve perfeitamente para uma análise fiel da obra arquitetônica do franco-brasileiro Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), cujo centenário de nascimento, comemorado no último dia 26, parece ter reacendido o interesse por sua trajetória.

    O documentário "Reidy - A Construção da Utopia", que é exibido pela última vez hoje na Mostra de Cinema de São Paulo, é mais um dos indicativos que atestam a atualidade dos conceitos do arquiteto.

    Dirigido por Ana Maria Magalhães, foi eleito o melhor documentário pelo júri oficial do Festival do Rio, encerrado no último dia 8.

    Apesar das limitações _um questionável olhar subjetivo do arquiteto captado em super-8, a pouca variedade de entrevistados e uma sublinhada trilha sonora em tom bossa nova--, a produção tem recebido elogios por trazer novamente ao debate público as ideias de Reidy.

    Pedro Carrilho/Folha Imagem
    Os artistas Luiza Baldan e Jarbas Lopes em debate com moradores do Conjunto Residencial Pedregulho em Benfica, Rio de Janeiro. Eles farão residencias no conjunto, como parte do Projeto Pedregulho
    Uma das fachadas do Conjunto Habitacional Pedregulho, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro

    Autor de projetos-chave da modernidade na arquitetura brasileira, como o MAM-Rio (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) e o Conjunto Habitacional Pedregulho, além do plano urbanístico para o aterro do Flamengo, o arquiteto sempre ficou ofuscado por alguns dos colegas, como Oscar Niemeyer, 101.

    "A obra do Reidy não tem a exuberância da obra do Niemeyer. A forma arquitetônica em Reidy tem uma gênese diferente. Em certa medida, é menos livre e mais serial", afirma o crítico e professor da PUC-Rio Otavio Leonídio, 44.

    "Mas Reidy fez a maioria dos projetos como 'técnico' da prefeitura do Rio. Não tinha o perfil glamouroso do profissional liberal que se costuma associar aos grandes 'criadores'."

    Para Leonídio, isso é um grave erro. "A arquitetura de Reidy tem desdobramentos múltiplos e surpreendentes. A escola paulista deve imensamente a ele. Diferentemente de Niemeyer, a obra de Reidy é aberta, não se encerra em si mesma."

    Segundo Magalhães, lembrar de Reidy é essencial para o Rio, que será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e sediará os Jogos Olímpicos de 2016.

    "O legado de Reidy nos ajuda a enfrentar as questões urbanas que a cidade terá", disse ela, em debate no Unibanco Arteplex, na última quarta, após sessão lotada de arquitetos.

    Arte no conjunto

    Outro dos indicativos que mostram uma valorização da obra "reidyana" é o projeto de residências artísticas que começou no último dia 17 no Pedregulho, em São Cristóvão (zona norte do Rio). Nomes como Jarbas Lopes e Luiza Baldan participam do projeto.

    "Meu trabalho passa pelo habitar. Morando em um edifício com mais de 200 famílias, novas questões irão surgir", diz Baldan, 29, premiada pela obra fotográfica sobre lugares.

    Ela pretende utilizar as áreas comuns aos moradores para fazer seus trabalhos. Para Baldan, as noções de público e privado no conjunto se embaralham e potencializam sua obra artística, além de legitimar a arquitetura pública de Reidy.

    "Os corredores não são claustrofóbicos, graças à malha de cobogós [estruturas vazadas] que acompanha a sinuosidade do prédio. São ocupados pelos moradores como uma extensão dos apartamentos. Começam com um capachinho na porta, depois as frentes ganham mesas, cadeiras, churrasqueiras."

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