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    Quadros de pacientes de hospício são expostos após 25 anos trancados

    SILAS MARTÍ
    da Folha de S.Paulo

    31/01/2010 07h36

    No prontuário de Aurora Cursino está escrito que ela entrou no Hospital Psiquiátrico do Juquery por "personalidade psicopática amoral". Antonio Magon foi fichado com "ideias delirantes". Ioitiro Akaba sofria de "demência precoce".

    Mas pouco além disso restou para contar a história deles dentro do complexo hospitalar, a não ser as obras de arte que deixaram para trás. Depois do incêndio que arrasou o prédio central, de Ramos de Azevedo, há oito anos, sobraram só os quadros, que ficavam guardados noutra casa do terreno.

    Trancados ali há 25 anos, só agora são expostos pela primeira vez. Mas o cenário é outro. Estão no Palácio do Horto, casarão que serve de residência de verão para o governador do Estado. Pintaram de amarelo as paredes, para expurgar o branco do sanatório mental.

    Não precisava. As cores nas obras desses loucos, se é que os diagnósticos tortuosos permitem essa designação, são suficientes para encher os quartos.

    Cursino retrata uma mulher amarelo profundo, no meio de rosas vermelhas que ecoam as contas do colar e o rosto enrubescido. No canto, dá um título à obra: "Rosas da Espanha".

    Divulgação
    Quadro de Aurora Cursino, feito no Hospital Psiquiátrico do Juquery, em Franco da Rocha (SP)
    Quadro de Aurora Cursino, feito no Hospital Psiquiátrico do Juquery, onde ficou internada de 1944 até sua morte

    Funcionários do Juquery, onde Cursino ficou internada de 1944 até sua morte, no fim dos anos 50, dizem que ela era prostituta, com passagens pela Europa e cursos de pintura.

    Nos quadros, além das rosas espanholas, ela faz referência a Dorian Gray, herói de Oscar Wilde, dândis de toda sorte, enfermeiras do hospício. Uma moça solitária, de saia levantada e coroa na cabeça, vem com a inscrição "destino devolução".

    Muitas das telas ainda têm no canto um adesivo com o preço --seriam vendidas no bazar do hospital. Não chegaram a sair dali, do mesmo jeito que a artista saiu só depois de morta.

    Ioitiro Akaba, japonês, teve o mesmo destino. Chegou ao Juquery em 1924 e saiu só quando morreu, 44 anos depois.

    Sem muito rigor técnico, estoura a paleta de cores. À maneira dos fauvistas --feras, em francês-- liderados por Matisse, Akaba exacerba detalhes decorativos, distorce a escala de vasos e flores multicoloridos e encharca de tinta suas composições. Divide o mundo entre um Japão minimalista e um Brasil de excessos tropicais.

    ZONAS DE CONTATO
    Quando: abertura hoje, às 12h; de qua. a dom., das 9h às 15h
    Onde: Palácio do Horto (r. do Horto, 931, tel. 2193-8282)
    Quanto: entrada franca

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