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    Leia a última entrevista de Wando à Folha

    DE SÃO PAULO

    08/02/2012 08h37

    Wando concedeu à Folha uma entrevista em setembro de 2000 ao lado de Falcão. Na conversa, conduzida pelo jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva, eles criticaram o preconceito contra a música brega e discutiram a indústria cultural popular.

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    Leia abaixo a entrevista:

    Filósofos do brega

    Especialistas debatem diariamente os novos papéis do homem e da mulher. A essência do amor, a traição e o sexo são elementos explorados por dois femeeiros (chegados em mulher) brasileiros, sempre em evidência na mídia, Wando e Falcão.

    Wando está lançando "Picada de Amor" e estréia hoje, no Rio, um show em que vai distribuir champanhe e camisolas e serão sorteados ingressos para uma noite num motel. Falcão lança "Do Penico à Bomba Atômica".

    Patrícia Santos - 12.set.00/Folhapress
    Os cantores Falcão (esq.) e Wando, durante entrevista em São Paulo em setembro de 2000; veja mais fotos de Wando
    Os cantores Falcão (esq.) e Wando, durante entrevista em São Paulo em setembro de 2000; veja mais fotos de Wando

    Em encontro promovido pela Folha, os dois cantores falaram de amor, brega, jabá (dinheiro pago por gravadoras para que rádios toquem músicas de seus artistas), pirataria de discos e MPB.

    Folha - Vocês são bregas?
    Falcão - Eu sou brega. Canto o que o povo está querendo ouvir.

    Wando - Eu acho que o Brasil é brega. Se você vende mais de 500 mil discos, está atingindo um público que gosta do brega. Quer um exemplo recente? Uma mulher inteligente, que eu admiro...

    Folha - Marisa Monte.
    Wando - Exato. Você imagina se eu ou o Falcão estivéssemos cantando "Amor I Love You"?

    Falcão - Tem uma música minha chamada "I Love You Tonight", que tem a mesma temática. Mas a minha é tida como brega.

    Wando - As pessoas rotulam quem é brega. O Caetano Veloso amou vender 1 milhão de discos e só vendeu isso porque gravou uma música do Peninha.

    Falcão - Que seria rotulada de brega se fosse gravada pelo Wando. Nós temos um discurso mais direto para as nossas emoções. O Caetano amou vender 1 milhão de cópias.

    Wando - E com certeza ele vai tentar novamente. O Caetano sabe fazer música popular quando quer. Mas existe uma cobrança da imprensa em cima dele, para que o trabalho seja mais sofisticado.

    Folha - Qual é o segredo do sucesso popular?
    Falcão - A simplicidade melódica e o discurso direto.

    Folha - Em qual rádio vocês tocam?
    Falcão - Eu sou um cara deserdado das rádios. Sou mais televisivo do que radiofônico, o que é ruim, pois o rádio é o que faz sucesso. É uma questão de preconceito.

    Wando - Toco em boas rádios.

    Folha - Não investe em clipe?
    Wando - Não, eu dirijo a verba para o setor do rádio. O clipe é muito caro.

    Falcão - Eu estou tentando inventar um clipe que passe nas rádios (risos).

    Folha - O que vocês acham do baixo nível das letras, especialmente das de pagode?
    Wando - O excesso faz a vítima. As gravadoras cobram muito desse movimento, e poucos compõem.

    Falcão - O compositor deveria fazer algo que tenha "sustância", já que sabe que vai tocar, que a gravadora vai pagar jabá. Tem música do Zé Ramalho que o povo adora e tem mensagem política e social.

    Wando - Agora não existe mais jabá. Hoje, a música, no Brasil, é um negócio em que as pessoas envolvidas precisam dirigir verbas.

    Folha - O jabá oficializou-se?
    Falcão - No custo de um disco já tem a parte do jabá.

    Wando - Não se chama mais jabá. É marketing. Existem diversas formas e veículos, como a Internet e a TV. Tem um disco do Jorge Aragão que ficou um ano parado e explodiu apenas depois de ele estourar um show.

    Falcão - Um sucesso sem jabá é na sorte.

    Wando - A novela também é uma grande força.

    Falcão - Onde também deve rolar algum jabá.

    Wando - Acho difícil. Os diretores das novelas mandam muito.

    Folha - Mais do que o Mariozinho Rocha (diretor musical da Rede Globo)?
    Wando - Mais.

    Folha - Mais do que o João Araújo (diretor artístico da Som Livre)?
    Wando - Mais.

    Falcão - Discordo. É o mesmo que dizer que o Wanderley Luxemburgo manda mais do que o Ricardo Teixeira.

    Wando - Os diretores, hoje, têm muita força.

    Falcão - Eu questiono muito essa ânsia de querer fazer sucesso a cada preço, especialmente entrar no esquema do jabá ou fazer um sucesso efêmero. Prefiro um público cativado pelo trabalho. Prefiro ser um porta-voz, um guru.

    Folha - Vocês são reconhecidos como grandes pensadores?
    Falcão - Nós somos filósofos populares, que somos reconhecidos, pois o nível está muito baixo (risos).

    Folha - A pirataria prejudica?
    Falcão - Eu acho isso uma coisa linda, acho a melhor coisa do mundo ser pirateado. Fico feliz quando vejo um camelô vendendo o meu disco. Está me divulgando. Isso força a gravadora a diminuir o preço no final. As gravadoras deveriam colocar camelôs vendendo discos. Não sou contra a pirataria. Vou fazer como o Frank Zappa, vou me piratear.

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