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    Carlos Fuentes guiou a literatura espanhola para a modernidade

    DE SÃO PAULO

    15/05/2012 21h51

    O escritor mexicano Carlos Fuentes, que morreu nesta terça-feira aos 83 anos, foi um intelectual que questionou durante toda a vida o seu país pela incapacidade de construir uma democracia mais autêntica e que, a partir da literatura, encaminhou à narrativa em língua espanhola para a modernidade.

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    Crítico do nacionalismo oficial mexicano e cosmopolita, Fuentes invocou várias vezes a incapacidade do país em se transformar em uma sociedade moderna e em desvendar os mistérios da alma mexicana. Amante do idioma em que escrevia, chegou a dizer que sua luta para conservar o espanhol durou toda sua infância, pois esteve a ponto de perdê-lo.

    "O idioma queria dizer para mim nacionalidade: era um conjunto opressivo de significados sujeitos sempre a luta, a reconquista", disse.

    Considerado o fundador do romance moderno no México, o intelectual fez curso superior na Unam (Universidade Nacional Autônoma do México) e no Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra (Suíça).

    Paula Giolito/Folhapress
    O escritor mexicano Carlos Fuentes, fotografado no hotel Copacabana Palace, no Rio
    O escritor mexicano Carlos Fuentes, fotografado no hotel Copacabana Palace, no Rio

    Fuentes ainda era jovem quando seu talento literário começou a se sobressair e o escritor começou a contribuir com uma geração de escritores extraordinários que formariam o chamado "boom latino-americano".

    Admirador de autores como os britânicos D.H. Lawrence (1885-1930) e Aldous Huxley (1894-1963), o escritor considerava a ficção como uma forma de responder às perguntas de como éramos e como seremos, e conhecer o mundo sem racionalidade.

    "Nem a ciência, nem a lógica, nem a política nos darão uma resposta. O romance também não nos dará, mas coloca a pergunta de uma maneira equivocada, de uma maneira cômica, transgressiva que as outras disciplinas não permitem", chegou a dizer.

    Em 2008, o espanhol Juan Goytisolo disse que Carlos Fuentes, junto com García Márquez e outros autores do "boom latino-americano", fortaleceu a literatura espanhola com a modernidade, depois da Espanha dar as costas à cultura universal durante séculos.

    O crítico literário mexicano Christopher Domínguez também exaltou o trabalho de Fuentes. "É o conjunto mais complexo e variado da narrativa mexicana e reúne todas as conquistas e tendências da literatura contemporânea".

    Domínguez destacou que o desapego é o ponto de partida permanente de Fuentes, um escritor que chegou a descrever seus afazeres literários como uma luta de um boxeador com as palavras.

    O crítico ressaltou o romance "Terra Nostra" (1975). "É o único de seus livros que pode ser lido além do horizonte mexicano".

    Esse romance, que está unido a "Rayuela", de Julio Cortázar; "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez, e "Conversa na Catedral", de Mario Vargas Llosa, é considerado o mais alto expoente de Fuentes.

    Sobre a transição que começou em 2000 no México com a chegada ao poder de Vicente Fox por meio do PAN (Partido Ação Nacional), o escritor mexicano disse que o líder "chegou com uma onda de entusiasmo renovador que não podia cumprir".

    No mandato, que durou até 2006, houve segundo o escritor um "governo preguiçoso" que deixou passar o momento histórico. Antes de Fox, o PIR (Partido Revolucionário Institucional) passou 71 anos consecutivos no poder.

    Em algumas de suas últimas entrevistas, Fuentes disse que acabava de terminar seu último livro, "Federico en su Balcón", onde o filósofo alemão Federico Nietzsche aparecia ressuscitado em sua varanda em uma madrugada e começava uma conversa com o escritor.

    Na entrevista, o autor disse que estava começando a escrever "El Baile del Centenario", um romance histórico que relata desde a celebração do primeiro centenário da independência do México e os 10 anos seguintes, em meio à revolução.

    Fuentes, que vivia parte do ano em Londres e que foi embaixador do México na França na década de 1970, chegou a criticar duramente os candidatos presidenciais às eleições de julho por não terem a capacidade suficiente para lidar com os graves problemas do país.

    "Me parecem candidatos medíocres, ou pouco interessantes... não estão nos oferecendo nenhuma novidade, nos dão retórica", disse ele no início de maio em Buenos Aires, na Argentina.

    Com agências internacionais

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