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    Filme e livros celebram Edgar Allan Poe, mestre do terror

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE SÃO PAULO

    19/05/2012 07h03

    Edgar Allan Poe poderia muito bem ser um personagem de Edgar Allan Poe.

    Criador das modernas histórias de detetive e mestre do terror psicológico, o escritor americano (1809-1849) teve uma vida das mais intrigantes, com direito a um final ainda hoje não solucionado.

    Não surpreende, portanto, que centenas de biógrafos tenham escarafunchado sua vida em tantas obras, com tal minúcia que fariam inveja a C. Auguste Dupin, o célebre detetive criado por Poe.

    Este ano, mesmo sem nenhuma efeméride, não foge à regra. Em março, o poeta Ivo Barroso lançou a terceira edição do livro "O Corvo e Suas Traduções", análise do principal poema de Poe.

    Agora chegam às livrarias "Edgar Allan Poe - O Mago do Terror", espécie de romance biográfico escrito por Jeanette Rozsas, e "Contos de Imaginação e Mistério", nova tradução de algumas das clássicas histórias de terror e suspense do autor.

    Fora isso, o escritor é encarnado pelo ator John Cusack no filme "O Corvo", que estreou ontem no Brasil.

    "Poe permanece muito atual. Ele trabalha com sentimentos muito primitivos, muito íntimos do ser humano, como o medo e a angústia", diz Rozsas, que passou três anos mergulhada nesse universo para produzir "O Mago do Terror".

    Neste período, a romancista releu contos e poemas, pesquisou biografias, visitou museus nos EUA e entrevistou alguns dos principais especialistas em Poe.

    O resultado, esclarece ela no prefácio, é narrado em forma de romance, com diálogos inspirados em cartas e documentos, "mas com absoluta fidelidade aos fatos".

    NOVELÃO

    Rozsas não teria mesmo motivos para soltar a imaginação. Órfão aos dois anos, renegado pelo pai adotivo, alternando momentos de sucesso a outros de profunda penúria, fragilizado pelo álcool e pela perda das mulheres amadas --a vida de Poe é um novelão do início ao fim.

    Para completar, morreu em Baltimore poucos dias após ser encontrado em uma taverna, em trajes esfarrapados e estado delirante. Em seus últimos instantes, chamou repetidamente por um tal de "Reynolds", até hoje não identificado. A causa da morte nunca seria esclarecida.

    Era o que bastava para criar o "mito Poe", que conquistaria a Europa poucos anos depois, quando Charles Baudelaire (1821-1867) traduziu o autor para o francês.

    Desde então, os mais talentosos tradutores já se debruçaram sobre seus textos. Um pouco dessa saga na língua portuguesa está no livro organizado por Ivo Barroso sobre "um dos dez melhores poemas de todos os tempos".

    Publicado em 1845, "O Corvo" narra o insólito e mórbido encontro entre um homem desiludido e a ave do título. Interrogado pelo homem, o corvo limita-se a dizer uma única palavra, talvez a mais célebre da história da poesia: "Nevermore" (nunca mais).

    Barroso reuniu 11 traduções do poema, três em francês e oito em português. Curiosamente, apesar de monstros como Machado de Assis e Fernando Pessoa terem se dedicado à tarefa, Barroso diz que a melhor versão em nossa língua foi feita pelo quase desconhecido Milton Amado em 1943.

    "O Milton foi o mais poeta ao fazer a tradução. Descobriu um tom que conservou a emoção do original", diz.

    Foi justamente com esta versão que Barroso conheceu o poema, nos anos 1950. Com a obsessão de um típico fã de Poe, dedicou-se então a descobrir todas as demais.

    Hoje seu sonho é encontrar uma suposta tradução em espanhol feita por Jorge Luis Borges, sob a qual quase nada se sabe. Mais um dentre os muitos mistérios que envolvem o soturno Poe.

    EDGAR ALLAN POE - O MAGO DO TERROR
    AUTORA Jeanette Rozsas
    EDITORA Melhoramentos
    QUANTO R$ 39 (272 págs.)

    Carolina Daffara/Editoria de Arte

    *

    Leia abaixo a tradução inédita do poema "Para Helen", de Edgar Allan Poe, feita por Ivo Barroso.

    "Para Helen", de Edgar Allan Poe
    Tradução de Ivo Barroso

    Helen, tua beleza é para mim
    Como as antigas barcas de Niceia
    Que lentas pelo olente mar sem fim
    Traziam o rude réprobo enfim
    De volta à nativa areia.

    Vaguei em desespero e peripécia;
    Clássica a face, de jacinto a coma,
    Eis que teu ar de náiade me toma
    Para a glória que era a Grécia
    E a grandeza que foi Roma.

    Eia! De pé, à luz de teu balcão,
    Vejo-te como a estátua de uma infanta
    Com a lâmpada de ágata na mão
    Ah! Psique que vens da região
    Da Terra Santa.

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